Empanadas e nostalgia
Odilema da pizza de domingo me levou para a gostosa melancolia das noites de Buenos Aires. Todo mundo pensa que o prato argentino é o churrasco. Mas só duas coisas unem as torcidas de River e Boca: milanesa e empanada. Naquele horário em que São Paulo liga para o delivery de pizza, portenhos estão acionando o entregador de empanadas. Nos 156 domingos em que morei na cidade pedi uma dúzia delas todo início de noite dominical.
A ideia de empanadas voltou a me perseguir, e fui pedindo as que encontrei. Acabei me fixando num lugar chamado Juanito’s, as que mais me pareceram com as dos meus anos argentinos, com carne, carne picante, queijo e cebola e verdura. As da La Guapa são maravilhosas, mas refinadas, para outro momento.
O Juanito’s faz um alfajor à antiga, que é um biscoitão de maisena recheado com doce de leite. Mais uma saudade, esses alfajores caseiros são os dos bairros com nomes lindos, de tango, Balvanera, Boedo e minha cidade do coração, Banfield, onde nasceu Cortázar.
Como os industrializados com prazer, sou um gourmand (em francês é mais chique ser guloso), mas esses simplões, enrolados em papel-manteiga, sem marca, são especiais.
Já que estou no clima de “vuelvo al sur”, aceito uma barra de Mantecol, uns sanduíches de miga e um Quatro Pomelo, meu refrigerante favorito, amargo e de grapefruit.
Nesse apetite estava quando lembrei do Hugo. Hugo Ibarzábal, que morreu no ano passado, foi um pioneiro. Fundou o Martín Fierro, fazia as melhores empanadas e talvez seja quem as tenha colocado no gosto do paulistano. E dele aprendi muito, com seu guia “Buenos Aires Passo a Passo”. Quanto me ensinou!