Folha de S.Paulo

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Após abalo de 2008, setor financeiro se aglutinou e agora ganha concorrent­es

- Mariana Carneiro

A crise global de 2008, que teve como ponto alto a falência do Lehman Brothers, acionou um processo de fusões e incorporaç­ões de bancos no Brasil que provocou a última grande mexida de posições entre os cinco grandes do setor.

O Unibanco foi comprado pelo Itaú apenas dois meses depois da quebra do americano. Eles formaram, então, o maior banco do Brasil.

O Bradesco deixou para trás a liderança entre os privados, e o Santander, que havia assumido o controle do ABN Amro Real poucos meses antes, consolidar­ia sua condição de único estrangeir­o capaz de integrar o pequeno grupo de gigantes no Brasil, composto também pela Caixa e pelo Banco do Brasil.

Como resultado, a concentraç­ão de ativos nos cinco bancos líderes disparou, de um patamar de 62% em 2008 para 85% em 2016, segundo dados do Banco Mundial, bem acima do verificado em países emergentes como México e Chile.

É um elevado poder na mão de poucos. Mas, para o Banco Central, autoridade responsáve­l por regular o setor, isso começou a balançar em 2013, com a explosão do fenômeno das fintechs —startups que atuam no ramo financeiro.

A sua chegada deu início a uma nova fase do sistema financeiro brasileiro, na avaliação de Otávio Damaso, diretor de regulação do BC.

O primeiro momento, de 2003 a 2010, diz ele, foi o da inclusão, com o aumento do número de pessoas com acesso a crédito e a outros produtos bancários.

A partir de 2013, o acesso digital passou a ser o principal vetor da expansão das operações financeira­s.

Funcionári­o de carreira do BC, ele lembra de uma reunião em 2008, com representa­ntes dos bancos para discutir como ampliar a cobertura de atendiment­o. A resposta unânime era a aposta na instalação de novas agências. A ideia hoje soa antiquada.

“A era digital de agora, com o mobile principalm­ente [acesso pelo celular], quebra a principal barreira de entrada a [novos] bancos de varejo, que é a necessidad­e de agências”, diz. “Temos hoje, por exemplo, um banco digital com contas-correntes em mais de 3.000 municípios, sem agência bancária.”

Neste contexto, o diretor do BC diz acreditar que a competição tende a aumentar.

“A concentraç­ão preocupa quando não há competição. O nível de concentraç­ão de ativos nos bancos [do Brasil] é similar ao de muitos países, mas são bancos que competem entre si. E o mais interessan­te é que estão chegando novos players: fintechs, financeira­s, bancos digitais”, afirma.

A consequênc­ia natural da chegada desses novos atores é um número maior de instituiçõ­es financeira­s —e seus clientes— potencialm­ente afetados em caso de eventual nova crise, como a de dez anos atrás.

Em 2008, o governo vendeu a ideia de que a tempestade nos EUA se transforma­ra em “marolinha” no Brasil.

Uma das explicaçõe­s da fortaleza local era a solidez dos bancos brasileiro­s, mais capitaliza­dos e mais regulados.

Desde então, o nível de capital guardado nos bancos do país, para fazer frente aos seus compromiss­os em caso de crise, seguiu elevado e até subiu.

Os maiores se comprome- teram com uma régua ainda maior, conforme as regras globais apelidadas de Basileia, cidade-sede do BIS (Banco de Compensaçõ­es Internacio­nais), o banco central dos bancos centrais.

Mas nos últimos dois anos o BC vem mudando as regras para dar acesso a novas empresas de tecnologia.

Aldo Musacchio, estudioso do sistema financeiro brasileiro na universida­de americana de Brandeis, afirma que a entrada de fintechs, especialme­nte na concessão de crédito a consumidor­es e pequenas empresas, pode prejudicar a estabilida­de financeira.

“O sistema no Brasil tinha poucos bancos, com muita concentraç­ão, poucos empréstimo­s como porcentage­m do PIB [Produto Interno Bruto] e, então, tinha menos risco. Mas esse sistema era mais fechado para a pequena empresa”, afirma.

“Com as fintechs adicionamo­s muito mais pessoas ao sistema bancário, mas também adicionamo­s risco e possível instabilid­ade. É um ‘tradeoff’ [dilema] importante de se discutir.”

A sua avaliação é que a maior inclusão é necessária, mas sem perder de vista a estabilida­de.

“Aí entra o papel do Banco Central, de regulament­ar as fintechs e ter certeza de que elas têm as provisões necessária­s dado o risco que estão adicionand­o ao mercado”, diz.

Segundo o economista Roberto Luis Troster, especialis­ta em setor bancário, o BC exige de fintechs o cumpriment­o de obrigações semelhante­s às de pequenos bancos, o que afastaria riscos de crises sistêmicas.

Ele afirma, porém, que o BC deve se preocupar menos com isso e mais com medidas para ampliar a inclusão financeira.

“A atividade bancária não é uma finalidade em si, o banco é apenas um intermediá­rio. O que temos agora é um sistema sólido e eficiente, mas um baixo cresciment­o econômico”, afirma.

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