Ex-mulher de Collor, Rosane estreia nas urnas em lado oposto ao senador
Ela concorre à Assembleia de Alagoas com grupo adversário de ex-marido, que desistiu da disputa
Filha de um dos principais clãs políticos de Alagoas, Rosane Malta fez a si mesma três promessas ainda quando era uma adolescente: não casaria jovem, não casaria com político e não entraria para a política.
Quebrou as duas primeiras promessas em 1984, quando casou-se aos 19 anos com o então deputado federal e futuro presidente da República Fernando Collor de Mello (PTC). Já a terceira promessa está sendo quebrada na eleição deste ano.
Primeira-dama do país entre 1990 e 1992, Rosane fará sua estreia nas urnas disputando uma cadeira de deputada estadual em Alagoas pelo PHS.
“Dentro de mim, sempre tive aquela vontade de mostrar que eu podia fazer pelo meu estado. Me sentiria covarde se eu não disputasse [uma eleição]”, diz Rosane, que recebeu a Folha num casarão em estilo colonial onde vive em um bairro nobre de Maceió.
Rosane, 53, foi casada com Fernando Collor até 2005 e, ao lado dele, viveu o apogeu da eleição para a Presidência em 1989, o declínio do impeachment, em 1992 e o ocaso político dos anos seguintes.
Desde a separação, Rosane trava há 13 anos uma batalha judicial com o ex-marido em torno da partilha de bens —o ex-presidente possui um patrimônio declarado de R$ 20 milhões— e de sua pensão alimentícia.
Na política, também se colocou em lado oposto ao do ex-marido. Apoiará o governador Renan Filho (MDB), que tenta a reeleição.
Collor fez campanha como candidato ao governo em oposição a Renan até esta sextafeira (14), mas anunciou a sua desistência da disputa.
Nascida no sertão alagoano, Rosane cresceu numa família que por décadas dominou politicamente uma trinca de cidades da região: Canapi, Inhapi e Mata Grande.
Seu pai, João Alvino Malta Rosane Collor que recebeu a Folha num casarão em estilo colonial onde vive em um bairro nobre de Maceió Brandão, morto em 2013, foi um dos fundadores de Canapi e prefeito por duas vezes da cidade. Seu tio-avô, Euclides Malta, foi governador de Alagoas por dois mandatos.
Mesmo com a tradição política da família Malta, escolheu o sobrenome Collor para a eleição. Diz que tomou a decisão à contragosto após pesquisas apontarem que, com o nome de solteira, os eleitores não a reconheciam como a exmulher de Collor.
Em seus primeiros atos de campanha em Maceió e no interior, chegou a se deparar com a situação insólita de eleitores que declararam voto nela para deputada e do seu rival Fernando Collor para governador (antes da desistência).
Para a campanha, apresenta sua história pessoal de embates com o ex-marido e afirma que terá a defesa da mulher como sua principal bandeira caso seja eleita deputada.
“Quero representar as mulheres que são abandonadas como eu fui e mostrar que elas podem dar a volta por cima. Porque eu, queira ou não, ainda tenho uma voz. Mas quantas mulheres não têm essa liberdade e são mortas por querer deixar um relacionamento?”, diz.
Disputará a campanha por um partido pequeno, sem recursos, apenas com a força do nome. Com um discurso de candidata independente, diz se espelhar em uma das principais adversárias de Collor: a ex-senadora Heloísa Helena (Rede): “Ela não se curva, não se mistura. Tem minha admiração.”
No cenário nacional, diz que decepcionou-se com Geraldo Alckmin (PSDB) —“o partido dele aliou-se a Collor”— e com Marina Silva —“é evangélica, mas não tem posição”.
Por isso, escolheu Jair Bolsonaro (PSL) como candidato a presidente. E diz não ver nenhum contradição em defender uma agenda feminista e apoiar o presidenciável que tem sido questionado em relação a questões como paridade salarial entre homens e mulheres. “Nesse ponto não concordo com Bolsonaro, mas ainda o acho melhor do que os outros que estão aí. Ele é o novo”, diz Rosane, que o compara ao Fernando Collor da eleição de 1989.
Com autoridade de quem morou por quase três anos no Palácio da Alvorada, aconselha o futuro presidente a não cometer os mesmos erros de Collor. “Eu sei porque já estive lá. Você não pode ser eleito presidente e não ter o apoio do Congresso. Meu exmarido caiu porque se achava autossuficiente. Ele dizia: ‘tenho o povo’. Mas tudo tem limite”, afirma.
Há três anos, esteve numa posição inimaginável para quem viu o então marido ser deposto por um impeachment: foi para as ruas durante os protestos que pediam a derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Como os caras-pintadas dos tempos de Collor, uniu-se ao coro dos insatisfeitos.
“Aquilo foi muito forte para mim. Pense que tive a oportunidade de viver os dois lados da história. Quantas pessoas tiveram esse privilégio?”
“Dentro de mim, sempre tive aquela vontade de mostrar que eu podia fazer pelo meu estado. Me sentiria covarde se eu não disputasse [uma eleição]