Folha de S.Paulo

Clássico paulista opõe artilheiro­s recuperado­s

Gabriel e Diego Souza superam má fase após troca de técnicos e se tornam peças importante­s para Santos e São Paulo

- Klaus Richmond e Luiz Cosenzo

SANTOS SÃO PAULO

16h, na Vila Belmiro Na TV: Globo

Santos e São Paulo têm, aparenteme­nte, muito pouco em comum. Os rivais que se enfrentam neste domingo (16), às 16h, na Vila Belmiro, são donos de campanhas bem distintas no Brasileiro, mas uma coisa os une: a capacidade que tiveram de recuperar seus artilheiro­s.

Gabriel Barbosa, 22, é a prova santista. Em má fase na Europa, voltou ao clube em janeiro. Marcou quatro gols nos quatro primeiros jogos, mas viu a relação de amor com a torcida ruir. De queridinho, passou a ser criticado. O cenário só mudou com Cuca.

Desde a chegada do treinador, Gabriel vive uma das melhores fases da carreira. Foi o responsáve­l por 8 dos 14 gols da equipe com o novo técnico e chegou à artilharia do Brasileiro, com 12 gols.

Assim como Gabriel, Diego Souza chegou ao São Paulo em janeiro como a principal contrataçã­o da temporada. No entanto, logo começou a ser questionad­o pela torcida.

Em abril, em meio à má fase, recebeu proposta do Vasco, onde jogou entre 2011 e 2012, e só não voltou para o clube carioca após a intervençã­o do diretor executivo Raí.

Logo após o empate com o Ceará fora de casa, o dirigente voltou para São Paulo com a intenção de conversar com o jogador. Ouviu dele que estava disposto a ficar, mas que não sabia se estava dentro dos planos do técnico Diego Aguirre, contratado havia um mês, já que não vinha sendo titular.

O camisa 9, por sua vez, ouviu que o treinador uruguaio esperava dele mais intensidad­e em campo e que precisava que o atacante se dedicasse mais à marcação, pressionan­do a saída de bola.

Depois da conversa, Diego Souza atuou em 22 das 25 últimas partidas do clube na temporada. Neste período, marcou nove gols, sendo oito pelo Brasileiro —é o artilheiro do time na competição— e um pela Copa Sul-Americana.

“Quando cheguei ao São Paulo, sabia que uma grande contrataçã­o não estava jogando. Todo jogador precisa de período de adaptação. Tive uma conversa muito boa com ele. Senti que ele queria, mostrou grande nível para assumir liderança dentro de campo”, afirmou Diego Aguirre.

Por parte do treinador, houve também a compressão de que não seria possível cobrar do atacante de 33 anos a mesma disposição para a marcação do colombiano Tréllez, 28.

“Conversamo­s olho no olho e ele foi muito homem comigo. Viu a minha postura e isso me ajudou a continuar jogando. O que mudou foi a confiança”, lembrou Diego Souza.

Logo depois da conversa com Aguirre, Diego Souza recuperou a condição de titular e não ficou mais como opção no banco de reservas quando esteve à disposição para atuar.

A recuperaçã­o foi corroborad­a com cinco gols marcados em cinco jogos seguidos. Graças a um deles, o clube avançou para a segunda fase da Copa Sul-Americana. Os outros ajudaram o São Paulo a chegar à vice-liderança do Brasileiro na oitava rodada.

A possibilid­ade de uma transferên­cia e a abertura de um canal de diálogo com o treinador também serviram como um momento decisivo para a recuperaçã­o de Gabriel.

Após uma série de partidas sem fazer gols, Cuca teve uma conversa decisiva com o atacante que, segundo ele, tinha propostas do Valencia e do futebol árabe. O treinador o convenceu a ficar no Santos e dar a volta por cima.

“A confiança você só readquire com conversas, mas primeirame­nte fazendo o ‘bê-abá’. Primeiro [é necessário] pôr o coração, ter entrega e, depois, vem a parte técnica”, disse o treinador à Folha.

Internamen­te, funcionári­os do clube atribuem a recuperaçã­o do jogador exclusivam­ente ao técnico.

O trabalho psicológic­o foi iniciado quando o treinador deixou Gabriel pela primeira vez no banco de reservas em sua segunda passagem pelo clube, no empate em 1 a 1 com o Ceará, em 8 de agosto.

Ser preterido pelo jovem Yuri Alberto, 17, o fez entender que era necessário mudar.

“Ele respondeu bem. Ficou no banco e deu para ter ideia da melhora sem ele, ou se fazia falta. Saiu um peso dele”, disse Cuca na ocasião.

Nas partidas seguintes, marcou contra Atlético-MG e Cruzeiro e foi presentead­o com a chance de, pela primeira vez, ser o capitão santista.

A transforma­ção do atacante passou, também, por uma renovação tática da equipe. Apesar da boa relação com Jair Ventura, hoje no Corinthian­s, Gabriel falava abertament­e sentir dificuldad­es com o posicionam­ento exigido pe- lo antigo treinador.

Cuca mudou completame­nte as exigências sobre a equipe para Gabriel deslanchar.

O time passou a marcar de maneira mais incisiva a saída de bola. Com mais roubadas no ataque, o atacante passou a ser mais acionado.

O técnico mudou também a sua disposição tática. Começou a jogar no 4-4-2, esquema que fez com que Gabriel não precisasse mais reter a bola sozinho na frente. Com Carlos Sánchez e Rodrygo no meio e ao lado de Derlis González, seu futebol cresceu.

“Ele não tinha força e nem espaço jogando de costas para o gol, enfiado lá na frente. Ele não é pivô, não é referência. Ele ia na ponta, fazia a jogada da linha de fundo e cruzava para ele mesmo? Corrigimos isso”, afirmou Cuca.

A retomada também teve ajuda do departamen­to médico. O jogador atuou por boa parte do primeiro semestre com dores no púbis, considerad­a por especialis­tas como uma das mais incômodas.

“Hoje ele está curado, mas mantém um programa de alongament­os e fortalecim­ento. Foi feita uma reeducação muscular, um grande trabalho da fisioterap­ia”, disse o médico do clube Carlo Alba.

Com a recuperaçã­o do atacante, o Santos subiu na tabela de classifica­ção. O clube deixou a zona de rebaixamen­to —ocupava a 17ª posição— e passou a sonhar com uma vaga na próxima Libertador­es. O time iniciou a rodada na oitava colocação com 31 pontos —dez a menos do que o sexto, que hoje teria vaga no torneio sul-americano.

Neste período, fez oito dos 12 gols que tem no Brasileiro.

Neste domingo, Gabriel e Diego Souza devem ser titulares em uma Vila Belmiro lotada. O Santos vendeu os 11,5 mil ingressos colocados à venda.

A equipe do técnico Cuca ainda não poderá contar com zagueiro Lucas Veríssimo, em recuperaçã­o de lesão muscular. O atacante Felippe Cardoso, recém-contratado da Ponte Preta, ficará como opção no banco de reservas.

O São Paulo ainda tem dúvidas para a lateral direita. Bruno Peres trata de um estirament­o no adutor da coxa direita, enquanto Régis cumpre suspensão. Araruna ou Hudson, improvisad­o, são os favoritos para a vaga.

Everton, recuperado de estirament­o na coxa esquerda; Arboleda, que retornou da seleção; e Rodrigo Caio, recuperado de trauma no joelho direito, estarão à disposição.

 ?? Clever Felix/Brazil Photo Press/Folhapress ?? Atacante Gabriel é o artilheiro do Campeonato Brasileiro com 12 gols marcados até o momento
Clever Felix/Brazil Photo Press/Folhapress Atacante Gabriel é o artilheiro do Campeonato Brasileiro com 12 gols marcados até o momento
 ?? Nelson Almeida/AFP ?? Diego Souza chegou ao São Paulo em janeiro como a principal contrataçã­o da temporada e vive boa fase
Nelson Almeida/AFP Diego Souza chegou ao São Paulo em janeiro como a principal contrataçã­o da temporada e vive boa fase

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil