O país dos chutões
Excesso de bolas longas fez os meios-campistas desaparecerem por aqui
Segundo Mauro Cézar Pereira, brilhante jornalista esportivo, ocorreu, na última rodada do Campeonato Brasileiro, uma média, mais ou menos, de um chutão a cada minuto. É o estilo pré-histórico, “kick and rush”, chute e corra, uma prática dos ingleses antes da Premier League.
Chutão não é apenas a rebatida dos defensores. São também os lançamentos longos para o campo ou para a área adversária, com a esperança de que a bola sobre para um companheiro livre. Trocar passes seria perda de tempo.
Isso não é novo no Brasil. Começou décadas atrás, com os “supertécnicos”, que dividiram o meio-campo entre os volantes que marcavam e os meias ofensivos que atacavam.
Desapareceram os meioscampistas, já que a bola passava pelo alto. Às vezes, essa ideia dá certo. Quando isso ocorre, os resultadistas aplaudem a mediocridade.
Enquanto isso, os europeus, cada vez mais, tentam jogar com a bola no chão, desde o goleiro. O jogo fica mais bonito e eficiente. Por outro lado, os defensores são, cada vez mais, pressionados na saída de bola. Saber definir o momento de passar a bola ou de dar um chutão para frente passou a ser uma importante qualidade. Muitos gols têm ocorrido dessa maneira.
No Brasil, ainda não há esse dilema. Dão chutões, e o futebol não evolui. Além do antigo hábito do chutão, falta mais qualidade aos defensores e goleiros para passar a bola. Uma diferença entre Dedé e Geromel, os dois melhores zagueiros que atuam no país, em relação aos titulares da seleção brasileira, Thiago Silva e Marquinhos, está na saída da bola. Thiago Silva desarma já passando a bola para iniciar o contra-ataque.
O Grêmio é uma exceção entre os brasileiros. A diferença está nas orientações de Roger Machado e, depois, de Renato Gaúcho, e, principalmente, na qualidade do meio-campo, com Maicon, Luan e Ramiro. Melhor ainda quando tinha Arthur.
São o talento e as características