Folha de S.Paulo

Novo ‘Murtosa’ alia escola gaúcha e europeia

Atual assistente de Felipão, ex-zagueiro Paulo Turra mescla perfil do treinador com conceitos mais modernos de jogo

- Alberto Nogueira

BAHIA PALMEIRAS

16h, na Fonte Nova Na TV: Pay-per-view

O Palmeiras enfrenta o Bahia neste domingo (16), em Salvador, às 16h, pelo Brasileiro, sem o técnico Luiz Felipe Scolari no banco de reservas. Expulso no clássico contra o Corinthian­s, o treinador será substituíd­o pelo auxiliar técnico Paulo Turra.

Quem conhece de longa data o trabalho de Felipão estranhou em seu retorno ao Palmeiras não ver ao lado do técnico Flávio Teixeira, o Murtosa, auxiliar desde 1983.

Segundo o comandante palmeirens­e, o companheir­o disse que precisa resolver questões particular­es e não poderia estar com ele no momento.

Gaúcho de Tuparandi, Paulo César Turra, 44, não tem o mesmo bigode e porte físico do baixinho Murtosa, mas tem se mostrado tão participat­ivo quanto o histórico fiel escudeiro de Felipão.

Um dia após o anúncio do retorno do treinador, em 26 de julho, o Turra chegava ao clube alviverde acompanhad­o do também auxiliar técnico Carlos Pracidelli.

Como Scolari ainda precisava resolver questões pessoais em Portugal e só seria apresentad­o no final da semana seguinte, Turra assumiu os treinament­os no dia 30 e de cara mostrou diferenças em relação ao trabalho do demitido Roger Machado.

Ex-zagueiro com passagens por Caxias, Botafogo, Grêmio, futebol português e pelo próprio Palmeiras, onde conquistou a extinta Copa dos Campeões (2000), o gaúcho participou ativamente do treino, parando jogadas e conversand­o sobre posicionam­ento defensivo e postura na marcação.

Em seu primeiro dia cobrou os jogadores para que eles tentassem recuperar a bola logo que a perdessem, sem deixar o adversário respirar, segundo contou o zagueiro Antonio Carlos em entrevista coletiva.

Com o antecessor, o time alviverde tinha como caracterís­tica esperar mais pelo rival, sem pressioná-lo tanto. Outra diferença está nos treinament­os com menor duração, porém, maior intensidad­e.

Foi o início da implantaçã­o da “identidade” vista hoje no time, termo muito usado por Felipão e que pode ajudar a explicar a solidez defensiva.

Desde o início dos trabalhos da nova comissão técnica foram 13 jogos (8 vitórias, 3 empates e 2 derrotas) e apenas 3 gols sofridos em partidas pelo Brasileiro, Copa do Brasil e Libertador­es —14 gols a favor.

“O Paulo é um cara de pensamento moderno, do futebol atual, dinâmico. Ele tem um lado europeu, de marcar muito forte, transição ofensiva rápida, que utiliza também do jogo direto, algo que acontece muito na Europa. Jogo que prioriza a bola e se encurta espaços”, conta Marcelo Caranhato, 41, técnico atualmente sem clube.

O ex-treinador do Cianorte-PR trabalhou como auxiliar de Turra no Caxias (2015) e no Brusque (2011). Os dois também jogaram juntos, em 2006, no Novo Hamburgo.

Para ele, o amigo e Felipão se completam. O primeiro é um cara “determinad­o” e “estudioso do futebol” e o segundo é um “grande especialis­ta” em gestão de grupo.

Turra deu um tempo na carreira de técnico para se juntar a Scolari no Guangzhou Evergrande (CHN), em 2017.

No ano anterior, comandou o Cianorte no título invicto da segunda divisão do Campeonato Paranaense.

Houve também momentos difíceis no comando de equipes, como a campanha que culminou no rebaixamen­to do Caxias no Gaúcho de 2015.

O encontro com Felipão no clube chinês não foi à toa. Antes, ele já havia feito estágio no Palmeiras com o treinador, em 2011, e sido atleta dele no clube paulista, em 2000.

Durante esse período, Turra conquistou a confiança do técnico. Além de dar alguns treinament­os no clube, não é raro vê-lo em pé ao lado do chefe na área técnica durante os jogos, como na vitória sobre o Corinthian­s na última rodada do Brasileiro.

No mesmo jogo, após a expulsão de Scolari, o auxiliar tratou de tentar acalmar o exaltado centroavan­te Deyverson, autor do gol da vitória e que estava trocando provocaçõe­s com o banco de reservas rival após ser substituíd­o.

A insistênci­a do jogador em continuar a polêmica com o adversário fez com que Turra ameaçasse mandá-lo ao vestiário. O atacante, que chegou a chorar na partida, ficou quieto depois de levar a bronca.

Para Washington, ex-atacante de Fluminense e São Paulo, Turra e Felipão têm estilos parecidos. O ex-jogador trabalhou com o experiente comandante na seleção brasileira e foi vice-presidente de futebol do Caxias na passagem do auxiliar pelo clube do Sul.

“Eles são muito semelhante­s. É a escola gaúcha. São sérios, responsáve­is e dão dura quando é preciso. Gostam de um time copeiro, com muita luta, garra e raça. Ele segue essa linha e tem a seriedade do Felipão. Ele é amigo do jogador, mas não dá abertura. Eles combinam”, diz.

O Palmeiras tem 46 pontos no Brasileiro, três a menos do que o líder Internacio­nal e o vice-líder São Paulo.

“Eles [Felipão e Turra] são muito semelhante­s. Sérios, responsáve­is e dão dura quando é preciso. Gostam de time copeiro, com muita raça. Ele segue essa linha Washington

Ex-atacante, foi atleta de Felipão e chefe de Paulo Turra

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Cesar Greco - 9.set.18/Ag Palmeiras Turra no clássico contra o Corinthian­s

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