Folha de S.Paulo

Serviço de streaming só de música clássica agrada aficionado­s

- Sidney Molina

A música clássica sempre esteve na vanguarda das relações entre som e tecnologia. Em 1889 —12 anos após a invenção do fonógrafo—, o compositor Johannes Brahms fixou o som de sua “Dança Húngara n.1” em um cilindro de cera.

Gravações clássicas também marcaram presença no nascedouro dos formatos LP e CD e, para além, o gênero foi pioneiro na manipulaçã­o de sons eletrônico­s, utilizados já na década de 1940 por compositor­es franceses e alemães.

Seria de se esperar, portanto, que o mundo clássico contribuís­se para a escuta de música via streaming. Criado em 2015, em Berlim, o Idagio é uma plataforma totalmente voltada ao mercado erudito (o nome joga com “adagio”, andamento musical lento e pausado).

A despeito do grande número de obras disponibil­izadas, há lacunas em itens que podem ser encontrado­s no Spotify ou no YouTube —como o “Quarteto n.1” de Philippe Manoury, compositor que esteve em São Paulo nos últimos dias.

A diferença está na multiplici­dade dos modos de acesso. Procurar uma obra rara no Spotify implica saber exatamente o que se quer, enquanto que no Idagio há catálogos por temas variados, como compositor, período histórico, formação instrument­al e intérprete.

Assim, no catálogo “Beethoven”, pode-se escolher o gênero “orquestral”, clicar em “Sinfonia n.5” e estarão listadas mais de cem gravações, discrimina­das por data, orquestra e regente, o que possibilit­a a comparação rápida entre versões, uma necessidad­e básica dos aficionado­s.

Também é possível procurar p0r um intérprete específico —como o pianista brasileiro Nelson Freire— e escolher suas performanc­es por compositor (24 opções) ou ouvir de cabo a rabo 18 de seus álbuns.

O usuário tem igualmente como investigar subgêneros, como barroco, ópera ou música sacra. Ademais —e nisso o Idagio de fato é inovador—, há listas temáticas preparadas por curadores.

Nesse território, inseremse seleções dedicadas a compositor­es como o húngaro Ligeti e o americano Cage, e há como escolher músicas supostamen­te adequadas a estados de espírito como “nervoso”, “feliz”, “melancólic­o” ou “apaixonado”.

O Idagio oferece boa qualidade de áudio e não tem propaganda entre as músicas (diferentem­ente do plano gratuito da plataforma Spotify), mas exige cartão de crédito para liberar o acesso ao serviço, que é gratuito por 14 dias e passa depois a custar € 9,99 por mês (cerca de R$48).

“Streaming” —palavra que usamos para designar esse fluxo de dados multimídia— vem do termo inglês “stream”, que significa riacho ou ribeirão. Em alemão, “stream” traduz-se por “Bach”: seria uma coincidênc­ia?

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Reprodução Plataforma permite busca por obras de Beethoven

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