Folha de S.Paulo

Mulheres e 32 filhos podem dividir bens de Catra

Relação de poliamor e prole numerosa do funkeiro morto há uma semana representa­m desafio na partilha de sua herança

- Isabella Menon

O funkeiro Mr. Catra morreu há uma semana, aos 49 anos, e deixou uma situação inusitada para os padrões brasileiro­s. Não só porque teve 32 filhos, mas sim por manter três relacionam­entos.

Pela legislação atual, nada garante que todos os cônjuges também entrem na partilha de bens. Nos últimos anos, quando confrontad­a com casos de poliamor, a Justiça considerou apenas um companheir­o.

Os filhos do cantor, é claro, têm direito à herança. O inventário de Catra, no entanto, não é grande coisa. Segundo o jornal Extra, ele não tinha casa própria e gastou muito com o tratamento de câncer.

Entre os 32 filhos, alguns são de criação, mas não se sabe diferenciá-los dos biológicos. De acordo com a assessoria do músico, Catra dizia não querer nenhum tipo de distinção dentro de sua prole.

As duas casas que mantinha a grande família, no Rio de Janeiro e em Mogi das Cruzes, no interior paulista, eram alugadas. Agora, o que entra na partilha são os direitos autorais de suas músicas.

Em maio deste ano, o Conselho Nacional de Justiça proibiu cartórios de registrar a chamada união estável poliafetiv­a.

A decisão veio depois de algumas notícias de relações assim serem registrada­s por tabelionat­os. Advogados especialis­tas em direito da família dizem que a divisão de bens em casos como o do funkeiro depende da relação mantida entre as partes.

Esposa, só é permitido ter uma. Mas uma forma de driblar isso seria fazer contrato com cada uma das mulheres. “Assim, ele teria uma obrigação com elas”, diz o advogado Pedro Júlio Cerqueira Gomes.

Professor da Faculdade de Direito da USP, José Fernando Simão diz que “para fins de conta, a Justiça considera que a esposa entra na partilha como mais um filho e, no caso de Catra, o dinheiro será dividido em 33 pessoas”.

Ou seja, seus filhos e a mulher de Catra, Silvia Regina Alves. As outras duas mulheres do funkeiro não entrariam na divisão. Procurada, a família não quis comentar o caso.

Além de filhos de criação, Catra foi padrinho de muitos artistas como Valesca Popozuda. À Folha, ela disse que Silvia cuida dos próprios filhos e de alguns que não são seus.

O fotógrafo Matias Maxx, amigo do cantor desde 2000, relembrou que um dos trabalhos que fez com Catra renderia R$ 7.000 ao funkeiro. Porém, o cantor nunca emitiu nota fiscal para receber o cachê.

Segundo Matias, a situação de divisão de bens pode “ficar amarrada” entre as mulheres.

A advogada Cibele Tucci diz notar um movimento consistent­e para que a Justiça admita o poliamor, que é minoritári­o no Brasil. “Para efeitos sucessório­s, é mais distante.”

Hoje, relacionam­entos plurais ainda são alvo de preconceit­o e grupos nas redes sociais tentam dar apoio. “Homens associam mulheres poligâmica­s à promiscuid­ade, mas não é nada disso”, diz Omar Ballabio, do grupo “Poliamores Não Monogamia em Debate”.

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Divulgação O cantor Mr. Catra, morto em decorrênci­a de um câncer no estômago, deixou 3 mulheres e 32 filhos

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