Folha de S.Paulo

Adiu viu a uva

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Já escrevi sobre a dificuldad­e para um sommelier acompanhar com bebidas uma refeição de 12 pratos.

Adiu Bastos, do Tuju, dá conta rindo da tarefa, surpreende com cerveja artesanal, um xerez oloroso no meio de vinhos clássicos, outros naturais... é um coreógrafo da harmonizaç­ão. Desta vez pensei que teria mais dificuldad­e, os vinhos eram escolha minha, fui provar algumas garrafas da família Torres, todos da Espanha.

Com a tostada de milho branco e ouriço, a deliciosa asinha de frango recheada com amêijoa foi o excelente Sons de Prades (que sugiro ao lado). Mas não seria o Adiu sem surpreende­r: veio o polvo com mole de fava verde e ele já se atreveu com um tinto.

Com o peixe do dia (namorado com salsa de gergelim preto e taioba), ele colocou um dos mais raçudos dos vinhos, um Priorato, o Purgatori, para acompanhar. E deu muito certo, a gordura do peixe e o denso do molho. Não errou uma. Os queijos, as sobremesas eoschocola­tes(dealhonegr­o,desinglema­lt...) com o moscatel Floralis.

E ainda conseguiu algo que sempre recusei, provar minha arqui-inimiga: a uva isabel, dos vinhos de garrafão brasileiro, com aquele gosto medonho. No caso, era um vinho delicado, um rosé, feito com cuidados de enologia fina, chamado Casa Ágora.

Tem gosto de suco, não é desagradáv­el e não vou mentir que enxerguei as tias gostando de um cálice com biscoitinh­os amanteigad­os.

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