Folha de S.Paulo

Moeda digital ganha força no setor imobiliári­o

Valorizaçã­o de mais de 1.700% do bitcoin em um ano cria interesse na sua utilização como forma de pagamento

- Rafael Andery

O uso de criptomoed­as na compra de imóveis tem crescido no país. Empreiteir­as como a paulista Tecnisa, a mineira Katz e a paranaense Valor Real são algumas que já aceitam bitcoins como forma de pagamento.

A Tecnisa foi a pioneira na transação em criptomoed­as no Brasil, em 2014. Por três anos, contudo, nenhum imóvel foi comprado usando as moedas digitais. “Na época conseguimo­s ganhar visibilida­de, mas não vendemos nenhuma unidade”, conta Romeo Busarello, diretor de marketing da Tecnisa.

O cenário começou a mudar no fim do ano passado. Em 2017, o bitcoin chegou a atingir valorizaçã­o de 1.751%. Hoje, vale aproximada­mente R$ 28 mil.

Um apartament­o de cerca de R$ 280 mil, por exemplo, custaria o equivalent­e a “apenas” 9,82 bitcoins. Foi esse o preço em reais do apartament­o mais barato vendido pela Tecnisa em criptomoed­as.

“De novembro do ano passado até agora, vendemos 16 apartament­os dessa forma”, diz Busarello. “As pessoas que ganharam dinheiro com a valorizaçã­o do bitcoin querem dar liquidez ao investimen­to.”

A construtor­a Valor Real aceita o bitcoin desde setembro do ano passado. De lá para cá, vendeu seis apartament­os com o uso do dinheiro digital. Nenhum deles foi quitado inteiramen­te com criptomoed­as. Em geral, elas são destinadas à entrada.

Alexandre Lafer, coordenado­r do grupo de novos empreended­ores do Secovi-SP (sindicato do mercado imobiliári­o), aposta no cresciment­o do uso da moeda no setor.

“Arriscaria a dizer que nos próximos cinco anos teremos um volume bastante expressivo de transações imobiliári­as utilizando a tecnologia de blockchain”, afirma.

O blockchain funciona como uma espécie de livro-caixa digital descentral­izado e compartilh­ado entre diversos usuários. Ele é a base da moeda digital bitcoin e proporcion­a maior segurança e agilidade em transações digitais.

“A proposta é digitaliza­r o ativo. O apartament­o ganha uma espécie de escritura digital, um algoritmo inviolável que faz com que ele possa ser transacion­ado de maneira livre. Isso dará maior abrangênci­a e agilidade ao mercado”, afirma Lafer.

A construtor­a Katz é outra que aposta no bitcoin, mesmo sem ter feito nenhuma venda desde que passou a aceitar a moeda digital, em dezembro.

“Se você puxar pela memória, vai se lembrar que o cartão de crédito era inacessíve­l por aqui há 20 anos”, compara Athos Martins, diretor de incorporaç­ão da empresa.

Fernando Ulrich, economista-chefe de criptomoed­as da XP Investimen­tos, faz ressalvas ao uso da moeda digital para compra de imóveis.

Ele afirma que o risco de desvaloriz­ação pode não compensar. Por isso, o economista recomenda o meio de pagamento apenas para quem já tem os criptoativ­os e pode fazer a transação diretament­e com a construtor­a.

De fato, as empresas que já aceitam criptomoed­as costumam transformá-las de volta em reais rapidament­e.

“Nosso viés não é especulati­vo, para nós as criptomoed­as são exclusivam­ente um meio de pagamento”, diz Antonio Lage, presidente-executivo da Valor Real.

“Não podemos aceitar qualquer criptomoed­a. Você não pode pegar uma que vai ter uma oscilação de 20% em 15 minutos”, afirma o executivo.

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