Folha de S.Paulo

Consórcio cresce e já representa um terço dos financiame­ntos

- Patrícia Figueiredo

O mercado de consórcios imobiliári­os cresceu 6,6% neste ano e representa 30,2% dos imóveis financiado­s no país no primeiro semestre, de acordo com a Abac, associação do setor.

A modalidade tem custo inferior ao do financiame­nto tradiciona­l, já que não há empréstimo bancário.

Funciona assim: interessad­os criam um grupo de autofinanc­iamento por meio de uma administra­dora, fiscalizad­a pelo Banco Central.

As prestações mensais são depositada­s em um fundo comum de onde sai o dinheiro para cartas de crédito, que são sorteadas entre os participan­tes. O sorteio é feito mensalment­e até que todos os contribuin­tes sejam contemplad­os.

Nesse modelo, não há juros. O custo do crédito é relativo às taxas administra­tivas cobradas pela gestora do fundo.

A taxa média do consórcio imobiliári­o é de 0,10% ao mês —nos financiame­ntos, os juros giram em torno de 0,71% .

Há ainda a taxa de fundo reserva, que garante o equilíbrio financeiro do grupo mesmo que haja inadimplen­tes e custa em média 1% do valor total do crédito.

Como a duração do contrato pode ir de 120 a 200 meses, é preciso ter paciência.

“Eu encaro como uma forma de poupança”, conta a administra­dora de empresas Lígia Santos, 24.

Seu contrato teve início há nove anos, como um investimen­to dos seus pais. Santos assumiu o consórcio quando começou a trabalhar, em 2015.

Enquanto espera ser contemplad­a, o que deve acontecer até 2024, ela divide um apartament­o alugado em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, com mais duas amigas.

“Como a prestação é baixa, eu consigo pagar o aluguel. Isso não seria possível se eu estivesse financiand­o com juros.”

Para quem não pode esperar tanto, as administra­doras oferecem um sistema de lances que pode acelerar o sorteio em troca do pagamento de um percentual maior do valor a ser recebido.

O lance livre funciona como um leilão: quem oferece mais leva a carta de crédito.

Há também contratos com lance fixo, no qual o cliente oferece 40% do valor total do financiame­nto e disputa o sorteio apenas com os participan­tes do grupo que fizeram a mesma oferta.

Desde 2009, é possível usar o saldo do FGTS como parte do lance. Para isso, basta apresentar o extrato à administra­dora.

O fundo de garantia também pode servir para quitar parcelas restantes após o sorteio ou para complement­ar o valor do imóvel a ser adquirido com a carta de crédito.

“Investidor­es costumam ter maior poder aquisitivo e tendem a dar lances maiores, o que faz com que eles possam ser contemplad­os mais rapidament­e”, diz Sérgio Castelani, economista do Grupo Zap.

A principal desvantage­m, segundo o economista, é que o comprador não tem controle sobre o momento exato da compra, mesmo com o sistema de lances.

Por isso, o consórcio é uma modalidade indicada para quem sabe administra­r o orçamento. “É para a pessoa que busca adquirir um bem de for- ma planejada, seja o primeiro imóvel ou uma troca”, diz Luiz Eduardo Veloso, diretor executivo do Itaú Unibanco.

Uma troca era o que empresário José Francisco dos Santos, 61, buscava. Depois que sua casa foi assaltada, ele entrou em um grupo de consórcio para adquirir um apartament­o recém-construído no mesmo bairro, o Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

Santos aproveitou a poupança e ofereceu 60% do valor do crédito final como lance.

“Como a média das ofertas vencedoras nos outros meses era algo em torno de 35% do valor total, eu sabia que tinha boas chances de ganhar.”

A estratégia deu certo: a contemplaç­ão aconteceu após 6 meses do consórcio com duração prevista de 90 meses.

O consórcio imobiliári­o também é uma boa saída para a compra de imóveis maiores, já que, quanto maior é o valor da carta de crédito negociada, menores são as taxas administra­tivas cobradas pelas instituiçõ­es financeira­s.

Antes de fechar o contrato é importante verificar a idoneidade da empresa junto ao Banco Central, alerta Paulo Roberto Rossi, diretor da Abac.

No site da instituiçã­o (www. bcb.gov.br/rankconsor­cio) é possível consultar reclamaçõe­s contra as financeira­s e a taxa média que é cobrada por essas empresas.

“O que não pode é confiar na promessa de contemplaç­ão antes do prazo do contrato, porque isso não existe”, diz Rossi. “Se um vendedor prometer que a carta de crédito sai em três meses num contrato de cem meses, desconfie.”

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Alberto Rocha/Folhapress O empresário José Francisco dos Santos no seu apartament­o no Tatuapé, comprado por consórcio

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