Guerrilha quer mesmos benefícios das Farc, mas segue violenta na Colômbia
Governo apontou grupo armado ELN como responsável por atentado que matou 21 em Bogotá
O governo colombiano apontou, nesta sexta-feira (18), o Exército de Libertação Nacional (ELN) como responsável pelo ataque com um carro-bomba a uma escola militar localizada em Bogotá, com pelo menos 21 mortos e 70 feridos.
Embora a guerrilha ainda não tenha reivindicado a autoria do ataque até a conclusão desta edição, as autoridades colombianas apresentaram evidências de que o autor do atentado, José Aldemar Rojas, pertencia ao ELN havia pelo menos 25 anos.
Logo depois do anúncio, o responsável por assuntos relacionados à paz na gestão do presidente Iván Duque, Miguel Ceballos, disse que o governo manterá sua posição de não voltar a sentar-se para negociar com o ELN.
“O presidente deixou claro que nenhuma negociação de paz poderia ser negociada sem a entrega total dos sequestrados e sem o fim dos atentados e das atividades de extorsão”, disse Ceballos.
Desde que o ex-presidente Juan Manuel Santos (20102018) começou, em fevereiro de 2017, a negociar com o ELN, a guerrilha cometeu mais de 400 atos de terrorismo e sequestrou outras nove pessoas —são agora 17 em seu poder.
Enquanto representantes do governo e do ELN se reuniam em Quito, no Equador, sede dos diálogos, Santos afirmou diversas vezes que essas atividades criminosas deveriam parar. Obteve algum sucesso com um longo cessar-fogo, de setembro de 2017 a janeiro de 2018, mas logo a guerrilha retomou as atividades.
Segundo o ELN, o sequestro e a extorsão não podem ser abandonados enquanto não houver um acordo de paz porque, sem eles, não é possível financiar a guerrilha.
Nascido também nos anos 1960, como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o ELN tem hoje uma força menos volumosa —apenas 1.500 pessoas, enquanto as Farc tinham 7.000 na sua desmobilização.
Porém, o ELN muitas vezes se mostrou mais letal. Enquanto as Farc se voltaram para o narcotráfico e se desideologizaram nos últimos tempos, o ELN é mais convicto de suas reivindicações de origem —querem uma transformação geral do país a partir da tomada do poder, com uma ampla reforma agrária.
Além disso, seus ataques são muito letais: atentados a bomba contra civis, oleodutos e estradas. E, se as Farc reduziram sequestros e atentados enquanto negociavam com o governo Santos, o ELN ainda aposta nesta via mais violenta, como ocorreu na última quinta-feira (17), em Bogotá.
Nas conversas em Quito, os representantes do ELN disseram que queriam os mesmos benefícios entregues às exFarc, principalmente uma Justiça especial, que lhes daria penas alternativas e não a prisão.
O próprio Santos, ao final de seu mandato, porém, estava muito decepcionado com a guerrilha, que seguia sequestrando como antes. Achou melhor suspender as conversas até encontrar uma nova saída.
Quando Duque assumiu, disse que avaliaria o estado das negociações. Sua resposta foi um contundente não. O que ele não parece ter analisado, como os funcionários de Santos vinham fazendo, é que há rachas internos no ELN. Se uma ala quer continuar com os ataques, outra ainda quer negociar.
O time de Santos tentava reestabelecer a mesa em Havana, onde os ex-líderes das Farc se sentiram mais à vontade para colaborar. Duque, porém, mostrando um gesto de mão-dura, mandou parar tudo. E pode ter começado a pagar o preço nesta semana.
Outro fator a que Duque talvez não tenha posto suficiente atenção é que o ELN hoje é mais forte do que quando as Farc estavam na ativa, pois conta com a adesão de alguns dos cerca de 500 a 700 ex-guerrilheiros das Farc que rejeitaram o acordo de paz.
Além disso, o ELN tem se instalado, com a anuência de Nicolás Maduro, em território venezuelano. Ter a principal guerrilha colombiana acampada em seu território pode servir ao ditador da Venezuela como forte moeda de pressão contra Duque, de quem hoje é inimigo.
Assim, o ELN, que parecia condenado a largar as armas ou a sumir por seu tamanho reduzido, ganhou nova força. Quem paga, como sempre, são vítimas inocentes de seus atentados.