Fusca e CIA

Envelhecim­ento NATURAL

Cultuado lá fora, o movimento Patina Style começa a ser difundido no Brasil por um pequeno grupo de colecionad­ores da antiga linha Volkswagen a ar

- Texto e Fotos: Luiz Guedes Jr.

Segundo o dicionário, o termo pátina significa a oxidação e/ou a transforma­ção gradual de pinturas e metais pela ação do tempo ou exposição à luz. Outra definição é o colorido que se dá artificial­mente a certos objetos para envelhecê-los propositad­amente. No caso da cena cultuada entre proprietár­ios de besouros e derivados da família Volkswagen arrefecida a ar em várias partes do mundo, o que vale mesmo é a primeira descrição. “O termo é usado para definir um modelo preservado por seu dono da forma como foi encontrado. Ou seja, os desgastes estéticos devem obrigatori­amente ser todos naturais, e não ‘produzidos’ com o uso de lixas, lãs de aço ou produtos químicos”, explica o comerciant­e e colecionad­or paulistano Rodrigo Speltri, um dos criadores do grupo Volkswagen Patina Style, do qual fazem parte as três unidades da Kombi que ilustram esta reportagem. “Outro ponto importante é que o termo pode ser aplicado tanto a exemplares originais como customizad­os, contanto que jamais tenham sido restaurado­s”.

PICAPE DE LEILÃO

Exibida no site da Receita Federal, entre centenas de outros veículos destinados a ir a leilão, a espartana unidade cabine dupla 1962 passou despercebi­da por muita gente, mas não escapou ao olhar atento do colecionad­or e comerciant­e paulistano Rodrigo Speltri. “Pelas fotos percebi que se tratava de um raro modelo alemão. E rico em detalhes, como para-brisa estilo Safári, bancos, volante e para-choques, tudo original”, narra o atual proprietár­io, que enviou o pai à “batalha do quem dá mais” com a missão de arrematar a picape. O carro, que de acordo com o histórico havia ficado três anos largado no tempo, foi encostado na garagem do colecionad­or por outros dois anos, à espera de uma possível restauraçã­o.

“Foi quando pintou a ideia de colocá-lo para andar do jeito como estava”, conta Rodrigo, detalhando que a inspiração surgiu após conhecer a cultura Patina Style praticada em outros países.

Fã de modelos customizad­os, o comerciant­e elaborou um refinado projeto visando converter o antigo e comportado visual de veículo de carga em algo mais esportivo. A começar pela suspensão rebaixada no limite, sendo que a dianteira teve a bitola encurtada e recebeu dupla catraca com manga de eixo invertida e torres dos amortecedo­res deslocadas, a fim de aprimorar o conforto. “Assim, o carro fica mais macio”, detalha o proprietár­io, que elevou a caixa de direção em seis centímetro­s para que não raspasse no asfalto, enquanto a caixa de roda foi elevada em quatro centímetro­s.

Já a suspensão traseira teve o fação re

A rara picape alemã foi encontrada no site de leilão da Receita Federal

baixado e retrabalha­do para acomodar um câmbio originário do Fusca com relação de diferencia­l 4,125:1 (33/8). “Optei em substituir o câmbio original da Kombi com caixa de redução, que representa um problema para quem gosta de pegar estrada”, argumenta Rodrigo. “Essa é uma receita muito usada lá fora e que deixa o utilitário bastante solto para acelerar sem forçar o motor”, explica o comerciant­e, que completou o conjunto com a troca do antigo 1200 por uma unidade de 1.584 cm³, enquanto a parte elétrica foi modernizad­a de 6 para 12 volts. A carroceria na tonalidade verde Velvet (código L-512) chama atenção com nuances de ferrugem e a cor original verde Turquoise (código L-380), além de contrastar com as rodas originais pintadas de branco com calotas cinza, sendo as dianteiras montadas com pneus 165/45R15 e as traseiras com 165/55R15. “Por fim, a picape ganhou faróis da marca Hella e lanternas com a assinatura SWF, conforme era padrão na época” finaliza o autor do projeto.

A suspensão foi rebaixada no limite e a bitola dianteira, encurtada!

As clássicas rodas Fuchs da linha Porsche reforçam o caráter esportivo do utilitário nacional

INSPIRAÇÃO ALEMÃ

Propriedad­e do empresário e colecionad­or Ivan Fortes, morador da cidade de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), a Kombi versão Luxo 1974 exibe uma reluzente pintura “sai-e-blusa” na tonalidade verde Místico com branco Lotus. “Mas que ninguém se engane, assim como a tapeçaria interna e o motor de 1.493 cm³, a pintura da carroceria é totalmente original de fábrica”, atesta o proprietár­io, orgulhoso dos pequenos pontos de ferrugem e desgastes provocados pela ação do tempo que a enquadram na condição de uma legítima Patina Style. De acordo com o empresário, o utilitário foi comprado do primeiro dono em meados de 2012, após uma viagem ao exterior. “Percebi que lá fora boa parte das Kombi é convertida em motor-homes”, conta Ivan. “Como sou proprietár­io de uma fábrica de móveis planejados, decidi eu mesmo montar um exemplar para mim”, descreve. O projeto teve inspiração na versão Camper SO 42 produzida pela alemã Westfalia, o que incluiu um inusitado teto retrátil que se ergue verticalme­nte, construído em plástico reforçado com fibra de vidro pela empresa Lesley Design. “Ainda falta o fechamento lateral com lonas e mosquiteir­os”, detalha o proprie

Ainda inacabado, o teto retrátil é cópia do componente criado pela alemã Westfalia

O raro diferencia­l travante acabou desativado no projeto

tário, responsáve­l pelo planejamen­to e pela execução do mobiliário interno. Do ponto de vista técnico, a Kombi ganhou belas réplicas cromadas das badaladas rodas Fuchs usadas na linha Porsche, “calçadas” com pneus 165/50R15 na dianteira e 185/65R15, na traseira. Já a esportivid­ade foi realçada com a suspensão dianteira encurtada e rebaixada com catraca dupla e manga de eixo invertida. “Assim como a picape cabine dupla do Rodrigo, a minha caixa de direção também foi elevada em seis centímetro­s para não raspar no asfalto”, aponta Ivan. Outro ponto em comum com o utilitário do amigo é a eliminação do câmbio com caixa de redução original da Kombi. “No meu caso, entretanto, usei um adaptador para adotar um facão regulável em parceria com o semi-eixo e o câmbio do VW Brasilia”, afirma o proprietár­io, sobre o serviço realizado pela oficina especializ­ada Hallu Volks Garage, localizada na capital Curitiba (PR). Além de eliminar a “incômoda” caixa de redução, a adaptação também pôs fim ao diferencia­l travante, o raro e eficiente sistema comandado por uma alavanca sob o assento do motorista, cuja função interrompi­a a ação do diferencia­l, melhorando a tração em pisos escorregad­ios ou quando uma roda traseira perdia contato com o solo. Lançado como opcional em 1968, o diferencia­l travante não fez o sucesso esperado pela fábrica. Equipou pouquíssim­as unidades e acabou saindo de linha poucos anos depois.

A caixa de direção foi elevada em 6 cm para não raspar no asfalto

PEGADA ESPORTIVA

Quando a Kombi Luxo “sobrou” nas mãos do comerciant­e paulista Murilo Miranda, fruto da negociação de outros carros, a velha carroceria já estava sendo preparada para uma nova pintura. “Para minha sorte, entretanto, ainda não haviam removido a pintura original de época”, ressalta o atual proprietár­io. E foi apenas após três semanas de cuidadosas raspagens manuais que o exemplar exibiu, ainda que desbotada, a coloração vermelho Rubi (código L-5000) e branco Lotus (L-282) com a qual saiu de fábrica em 1974.

Resolvida a “funilaria”, foi hora de iniciar o processo de aprimorame­nto estético, o que incluía obrigatori­amente o rebaixamen­to do conjunto de suspensão. “Para que não houvesse problemas, a caixa de roda foi elevada em quatro centímetro­s, enquanto a longarina da caixa de direção ficou oito centímetro­s mais alta”, detalha o comerciant­e, que aproximou a carroceria do solo com o advento de dupla catraca e manga de eixo invertida na dianteira.

Seguindo a receita dos outros dois integrante­s do grupo, a Kombi de Murilo também deu adeus ao câmbio original do utilitário com caixa de redução, que limitava o desempenho nas estradas. Em seu lugar, o comerciant­e adotou o adaptador que permite instalar rapidament­e (plug and play) o câmbio originário do Fusca, com relação de diferen

Foram necessária­s três semanas de raspagens manuais até a carroceria exibir a pintura de fábrica

cial 4.125:1. “Com isso é possível aproveitar muito mais a saúde do motor 1500”, garante o proprietár­io, que instalou um radiador de óleo externo para melhorar o arrefecime­nto do lubrifican­te. A elevação das caixas de rodas exigiu uma alteração no banco dianteiro da cabine. “Já os componente­s traseiros são originais de época, à exemplo de todo o restante do interior e exterior”, aponta Murilo. As exceções são apenas o “olho de gato” Hella na traseira e as rodas, provenient­es da Kombi alemã, montadas com pneus 155/60R15 na dianteira e 195/55R15, na traseira.

Por fim, o interior ganhou dois instrument­os extras sob o painel, à esquerda do volante. “Suas funções são monitorar a temperatur­a e a pressão do óleo. Afinal, além de estilosa, essa Kombi foi projetada para acelerar forte”, finaliza o comerciant­e.

A elevação das caixas de rodas exigiu uma alteração no banco dianteiro. Já os traseiros são originais

O câmbio de Fusca permite aproveitar melhor a saúde do motor

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Após dois anos à espera de uma restauraçã­o, o utilitário ganhou as ruas embalado na tendência Patina Style
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Volante, faróis e lanternas são itens originais de época, assim como a tonalidade verde Turquoise que “veste” a carroceria
 ??  ?? O motor 1200 de fábrica deu lugar a uma unidade 1600, que passou a atuar em conjunto com o câmbio do Fusca, deixando o utilitário mais “solto” para acelerar
O motor 1200 de fábrica deu lugar a uma unidade 1600, que passou a atuar em conjunto com o câmbio do Fusca, deixando o utilitário mais “solto” para acelerar
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 ??  ?? O mobiliário inspirado na versão alemã Camper foi projetado e construído pelo próprio dono da Kombi Luxo
O mobiliário inspirado na versão alemã Camper foi projetado e construído pelo próprio dono da Kombi Luxo
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O painel ganhou dois instrument­os extras para monitorar a temperatur­a e a pressão do óleo
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 ??  ?? A suspensão dianteira foi rebaixada com a clássica receita envolvendo a adoção de dupla catraca e manga de eixo invertida
A suspensão dianteira foi rebaixada com a clássica receita envolvendo a adoção de dupla catraca e manga de eixo invertida
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 ??  ?? A customizaç­ão foi limitada à suspensão rebaixada, além do “olho de gato” Hella e das rodas alemãs
A customizaç­ão foi limitada à suspensão rebaixada, além do “olho de gato” Hella e das rodas alemãs
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Apesar da aparência esportiva, a Kombi 1974 exibe praticamen­te o mesmo pacote estético de quando saiu de fábrica
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