PASSADO RESTAURADO
HÁ TRÊS GERAÇÕES na mesma família, Fuscão 1972 RECUPERA O VELHO BRILHO TÍPICO de um zero-quilômetro – mas mantém as marcas deixadas por cada um de seus antigos donos...
O adesivo de águia no vidro traseiro foi colado pelo dono aos 8 anos
Para o autônomo Giancarlo Giannini, seu avô deixou para a família duas importantes heranças: a primeira delas é o legado de um imigrante que chegou ao Brasil com apenas 10 anos de idade e venceu na vida. A segunda – e não menos importante – é o Fuscão 1972 na rara tonalidade azul Nápoles (código L-1047), adquirido zero-quilômetro pelo patriarca na extinta concessionária Iguatemi, que ficava na rua dos Pinheiros, zona oeste da capital paulista. “Durante muitos anos, este foi o único veículo da casa, usado por meu avô, meu pai e todos os meus tios. Meu pai, inclusive, conheceu minha mãe a bordo deste carro”, narra o atual guardião, hoje com 30 anos de idade. “Eu mesmo guardo muitas lembran
ças dos passeios e das brincadeiras no interior do besouro, quando meu avô, típico italiano, brigava porque eu apertava todos os botões do painel”, conta Giancarlo, recordando ainda o dia em que foi de Fuscão com o pai buscar sua mãe e o irmão caçula na maternidade, em meados de 1992.
“Em 1996, meu avô faleceu e o besouro permaneceu sob os cuidados de um tio. Uma década mais tarde, no ano de 2006, fiz uma proposta de compra para minha avó”, narra o atual proprietário. Ao arrematar o Fuscão familiar, entretanto, Giancarlo estava à procura apenas de um carro barato e confiável. “Eu me encontrava financeiramente quebrado na ocasião e botei o besouro para rodar no exaustivo uso diário. Apenas por volta de 2008 que a situação melhorou e pude comprar outro automóvel. Foi então que passei a olhar para o velho Volkswagen com mais apego. Deixou de ser um simples carro e virou paixão”, afirma o autônomo, hoje dono de outros dois besouros, sendo um exemplar 1963 e um Sedan 1976.
PADRÃO DE ÉPOCA
A mudança de comportamento resultou ainda num meticuloso trabalho de restauração, tarefa que perdurou de 2011 até 2014. “O carro recuperou o brilho de um autêntico zero-quilômetro, mas não está totalmente original como convém a um legítimo placa preta”, detalha Giancarlo, para
quem o mais importante é a preservação do histórico familiar. “O adesivo de águia no vidro lateral traseiro, por exemplo, foi colado por mim quando eu tinha oito anos de idade”, aponta. “Pode até não ser muito bonito, mas tem história”, enfatiza.
E o mesmo se aplica a outros componentes mantidos pelo atual proprietário, caso do botão de pisca-alerta adaptado pelo avô na década de 1970, bem como o conta-giros, instalado pelo pai nos anos 1980. “Eu também imprimi minha marca ao substituir o antigo aparelho de som Mitsubishi por um belo Motoradio de época, além de incrementar o visual do interior com volante esportivo da marca Empi e uma manopla para o freio de estacionamento, ambos com acabamento em madeira para combinar com o painel original do Fuscão”, lista Giancarlo, que ainda mandou cromar alguns detalhes no motor 1500.
De resto, o besouro mantém o clássico visual original. A começar pelos bancos e pelos revestimentos laterais, ainda de fábrica. “Apenas o banco do motorista estava com o encosto desgastado, mas achei o tecido original num desmanche e pude fabricar uma capa nova, resultando num trabalho imperceptível” aponta o proprietário, que também recorreu aos desmanches para substituir o velho revestimento do assoalho. “Fui caçando um amontoado de retalhos que depois foram costurados para concluir o serviço”, confessa.
Por fim, o teto da cabine foi inteiramente refeito no padrão de época, enquanto os para-sóis originais, apesar de bastante amarelados, acabaram preservados. “Tentei manter ao máximo a originalidade de fábrica”, atesta Giancarlo, detalhando que o charmoso Fuscão está garantido na família ao mesmo por mais uma geração. “Meu filho Luigi já é apaixonado pelo carro”, finaliza.
Embora amarelados pelo tempo, os para-sóis originais foram mantidos