Fusca e CIA

Obra do destino: a incrível história de um aposentado de 79 anos e seu inestimáve­l Karmann Ghia 1964

Um KARMANN GHIA nada comum e sua INCRÍVEL TRAJETÓRIA até chegar às mãos de SEU ATUAL PROPRIETÁR­IO, um aposentado de 79 anos MORADOR DO INTERIOR PAULISTA

- Texto e Fotos: Luiz Guedes Jr.

Um sonho acalentado por mais de 15 anos. E que se tornou realidade justamente no momento em que a decisão foi desistir de alcançá-lo. Assim podemos resumir a trajetória do reluzente Karmann Ghia 1964 na vida de seu atual proprietár­io, o aposentado Eduardo Jorge Estevão, 79 anos, morador da cidade de Ribeirão Preto (interior de São Paulo).

“Sempre gostei de automóveis, tanto que fui eu que ensinei meu pai a dirigir, o que não era tão incomum na minha geração”, narra o aposentado, que apenas uma vez na vida enveredou para as duas rodas e adquiriu uma motociclet­a. “Foi então a vez de meu pai me dar uma lição. Ele falou que eu tinha 15 dias para vender a moto e adquirir um carro”, narra Eduardo, que dali em diante só teria modelos

Volkswagen em sua garagem. “O primeiro foi um Karmann Ghia 1964, comprado usado no ano de 1966. Em 1970, fiz a troca por uma Variant zero-quilômetro, que mantive até 1978, quando a substituí por um exemplar do Brasilia”, descreve. Mas foi o Karmann Ghia 1964 que deixou saudades. Só que não o

O charmoso cupê mescla a carroceria na tonalidade amarelo Manila com o teto preto

seu, mas sim o de um amigo... “Eu e esse amigo tivemos o carro na mesma época, sendo o dele um amarelo Manila com teto preto, comprado zero-quilômetro”, relembra o aposentado. “Inclusive alugamos vagas de estacionam­ento vizinhas, assim eu não batia a porta na carroceria dele e ele não batia na minha”, sorri.

“Esse amigo era uma pessoa de posses e havia equipado o Karmann Ghia dele com duas caracterís­ticas bastante interessan­tes. Uma delas eram os faróis de longo alcance, que a exemplo dos faróis de fábrica eram da marca General Electric. Esses faróis auxiliares se destacavam pela maneira como foram instalados, sobre suportes construído­s artesanalm­ente, apoiados no para-choque dianteiro”, afirma Eduardo. “Já a outra

caracterís­tica fora um intricado sistema de troca de calor (veja box), criado por um engenhoso mecânico na cidade do Rio de Janeiro.” No final dos anos setenta, o aposentado tentou por mais de uma vez adquirir o sofisticad­o esportivo do amigo, que sempre desconvers­ou e se negou a fazer negócio.

“Depois acabamos perdendo contato e, embora eu não falasse isso para ninguém, passei os 15 anos seguintes pensando naquele modelo”, narra Eduardo.

OBRA DO DESTINO

E foi apenas em meados da década de 1990 que o aposentado resolveu desistir do sonho e partir para uma nova solução. “Resolvi procurar outro exemplar 1964 para comprar”, explica, sem saber o que o destino lhe reservaria alguns meses mais tarde. “Depois de olhar vários candidatos, finalmente optei em fechar negócio com um modelo.

Fui com meu filho olhar o carro e, conforme o vendedor tirava a capa que cobria a carroceria, meu coração acelerava”, conta Eduardo, que ainda relembra emocionado. “Lá estavam os faróis de longo alcance GE montados na estrutura sobre o para-choque. E bastou

abrir o capô do motor para termos a confirmaçã­o: a tubulação cromada ‘vestindo’ o coletor de admissão e as mangueiras extras não deixavam mentir, era mesmo o tão cobiçado carro do meu amigo!”

Ao analisar com calma o restante do veículo, mais algumas surpresas levaram o novo proprietár­io aos velhos tempos e às memórias

do antigo amigo. “Os bancos ainda preservava­m as sobrecapas pretas que ele havia colocado para preservar a tapeçaria original, assim como o espelho chanfrado colado atrás do para-sol do passageiro e o botão vermelho que aciona o pisca-alerta, adaptado em meados dos anos setenta sob o painel”, detalha o aposentado. Outros detalhes inesperado­s foram o extintor de incêndio, cuja etiqueta confirma a última recarga no dia 2 de junho de 1978. Ou ainda o macaco original, embrulhado num jornal datado de 12 de novembro de 1986. Marcas do tempo tão incríveis e curiosas quanto a trajetória de encontros e desencontr­os que liga o exemplar ao atual proprietár­io.

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 ??  ?? Além de nunca ter sido restaurado, o esportivo preserva os faróis de longo alcance instalados pelo primeiro dono
Além de nunca ter sido restaurado, o esportivo preserva os faróis de longo alcance instalados pelo primeiro dono
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 ??  ?? A ignição junto à coluna de direção e o botão vermelho de pisca alerta sob o painel eram adaptações comuns nas décadas de sessenta e setenta
A ignição junto à coluna de direção e o botão vermelho de pisca alerta sob o painel eram adaptações comuns nas décadas de sessenta e setenta
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 ??  ?? Memórias preservada­s
O espelho colado no para-sol do passageiro e as capas cobrindo os bancos originais também são adaptações realizadas pelo antigo proprietár­io
Memórias preservada­s O espelho colado no para-sol do passageiro e as capas cobrindo os bancos originais também são adaptações realizadas pelo antigo proprietár­io
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 ??  ?? Marcas do tempo
Apesar do excelente estado geral, alguns pontos de ferrugem na carroceria e no berço do estepe denunciam que este exemplar jamais foi restaurado
Marcas do tempo Apesar do excelente estado geral, alguns pontos de ferrugem na carroceria e no berço do estepe denunciam que este exemplar jamais foi restaurado
 ??  ?? Surpresas no caminho...
Ao avaliar o carro, o atual dono descobriu o macaco de fábrica embrulhado em um jornal de 1986...
Surpresas no caminho... Ao avaliar o carro, o atual dono descobriu o macaco de fábrica embrulhado em um jornal de 1986...
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O motor 1200 conta com um curioso sistema de troca de calor para aqueciment­o do coletor de admissão e resfriamen­to do óleo do cárter
Engenharia particular O motor 1200 conta com um curioso sistema de troca de calor para aqueciment­o do coletor de admissão e resfriamen­to do óleo do cárter
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