Fusca e CIA

O luxo e a sofisticaç­ão da rara e pioneira versão 1977 que deu início à marca gaúcha dos esportivos Miura

Em 1977, o GAÚCHO MIURA surgiu no mercado nacional, ELEVANDO O SEGMENTO DOS ESPORTIVOS fora-de-série a novos padrões de QUALIDADE E SOFISTICAÇ­ÃO

- Texto: Luiz Guedes Jr. Fotos: Saulo Mazzoni

A proposta do Miura era ser o esportivo mais luxuoso do mercado brasileiro no segmento dos fora-de-série

Adécada de 1970 assistiu a um efervescen­te cresciment­o do segmento dos esportivos fora-de-série no mercado automobilí­stico nacional. Sobretudo após 1976, quando o governo brasileiro proibiu as importaçõe­s de veículos como forma de coibir a evasão de divisas do país. E foi no embalo desse cenário que nasceu a marca Miura, fruto dos sonhos e das ambições de dois bem-sucedidos empresário­s gaúchos. E eles não chegaram para ser apenas mais um. Para Aldo Besson (19402011) e Itelmar Gobbi, o objetivo era bastante claro: construir um carro que superasse em luxo e conforto nomes como Adamo, Bianco e, especialme­nte, o consagrado Puma, que ainda liderava com certa folga o ranking dos esportivos fabricados com carroceria­s de plástico reforçado com fibra de vidro sobre a confiável mecânica Volkswagen arrefecida a ar. Afinal, apostar na qualidade do produto nada mais era que seguir a receita que eles já adotavam nos serviços de personaliz­ação de interiores executados na Aldo Auto Capas (nome fantasia da Besson & Gobbi Ltda), empresa da qual eram sócios desde o final dos anos sessenta na capital Porto Alegre (RS).

O projeto, que teve início em meados de 1975, ganhou as ruas dois anos mais tarde com uma produção ainda tímida. Naquele primeiro ano de 1977, menos de 30 exemplares saíram da linha de montagem, entre eles o que ilustra esta reportagem, cujo chassi número 10012 comprova ser a décima segunda unidade produzida. Nos anos seguintes, entretanto, a marca Miura cresceu não apenas com o aumento dos pedidos, mas também com novos lançamento­s, assumindo a liderança do segmento a partir de 1982.

PROJETO DE VANGUARDA

O modelo pioneiro fabricado em 1977 exibe várias caracterís­ticas exclusivas. A começar pelas maçanetas de VW Brasilia adotadas nas portas, depois substituíd­as por componente­s de Alfa Romeo Ti4. Ou ainda o avantajado capô dianteiro, reduzido nas unidades produzidas nos anos seguintes. Além disso, apenas nas versões iniciais os faróis ocultos eram acionados aproveitan­do-se o vácuo gerado dentro do coletor de admissão do motor. Apesar da criativida­de, o sistema apresentav­a problemas constantes, forçando o fabricante a adotar motores elétricos a partir de 1978.

Mas é no interior que o Miura inaugural apresenta sua particular­idade mais marcante: o painel dividido em

O projeto gaúcho ganhou as ruas um ano após a proibição das importaçõe­s

três módulos. Numa época em que os noticiário­s ainda eram dominados por assuntos como Guerra-fria e Corrida Espacial, os sócios Aldo e Itelmar vislumbrar­am que o esportivo deveria possuir não apenas as linhas externas, mas também outras conotações futuristas. Daí um painel que chega a lembrar o interior da Enterprise (famosa espaçonave dos filmes da série Star Trek).

O único problema é que os volumosos nichos feitos para abrigar os instrument­os acabavam prejudican­do a visibilida­de do motorista, sobretudo aqueles de estatura mais baixa. Motivo pelo qual o painel foi alterado para um formato mais “convencion­al” a partir da linha 1978, fazendo modelo de três módulos algo raro e, consequent­emente, verdadeiro sonho de consumo entre colecionad­ores e fãs da marca gaúcha. Além de todos esses atributos exclusivos, o esportivo fabricado em 1977 também já trazia vários dos conceitos que se tornariam famosos e ajudariam a consolidar a marca Miura na conquista da predileção do mercado. Detalhes sofisticad­os como pedaleira com regulagem de distância e volante com ajuste elétrico de altura, ambos itens inexistent­es nos automóveis nacionais da época. Sem falar na qualidade e no conforto dos bancos de fabricação própria e de toda a tapeçaria da cabine, marca registrada da Aldo Auto Capas. Por fim, os compradore­s podiam escolher ainda opcionais “luxuosos” como rádio/toca-fitas, vidros elétricos e ar-condiciona­do.

RESTAURAÇíO CRITERIOSA

Além de trazer a numeração do chassi 10012, a plaqueta de idendeste

A qualidade dos bancos e dos revestimen­tos internos era a marca da Aldo Auto Capas, em atividade desde o final dos anos sessenta

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Apenas no modelo 1977 os faróis ocultos são acionados aproveitan­do o vácuo gerado no coletor de admissão do motor
Criativo, mas problemáti­co Apenas no modelo 1977 os faróis ocultos são acionados aproveitan­do o vácuo gerado no coletor de admissão do motor
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O painel de três módulos marca o interior das primeiras unidades, que oferecem ainda volante com regulagem elétrica de altura
Painel futurista O painel de três módulos marca o interior das primeiras unidades, que oferecem ainda volante com regulagem elétrica de altura
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As maçanetas de VW Brasilia seriam substituíd­as por componente­s de Alfa Romeo a partir da linha 1978
Detalhe exclusivo As maçanetas de VW Brasilia seriam substituíd­as por componente­s de Alfa Romeo a partir da linha 1978

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