Fusca e CIA

Dupla familiar

Um Fusca 1970 primeira série e sua companheir­a Kombi 79 unem a família em favor dos carros antigos

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Falar de carros antigos em uma família geralmente não rende muita atenção e, às vezes, até certo desprezo ou desmotivaç­ão com o assunto, mas, ainda bem, que não é o caso de Luís Mestrinér, morador da cidade de Mogi Guaçu – SP, que é o único homem na família, mas não pense que isso é motivo para deixar os carros de lado. Eles são bem queridos, possuem nome de “batismo” e acompanham Luís, a esposa Patrícia, e a filha Júlia em praticamen­te todas as viagens.

A história do casal apaixonado começa como a de muitos casais por aí. Foi em 2001, com a esposa grávida e toda aquela dificuldad­e de quem está começando a construir uma família, que conseguira­m comprar seu primeiro Fusca, de ano 1975. Um carro já meio “cansado”, mas muito guerreiro, que aguentou o dia a dia sem problemas, inclusive, sendo o responsáve­l por levar Patrícia até o hospital para o nascimento da filha. Mas como na vida, nada é para sempre, logo começaram a construir a casa onde moram e precisaram vender o querido Besouro para in

O SIMPÁTICO “GARY” FOI TOTALMENTE RESTAURADO E VOLTA ÀS RUAS PARA SER UM TESTEMUNHO DE COMO ERAM OS CARROS DO PASSADO PARA AS GERAÇÕES MAIS NOVAS

vestir na construção do telhado.

O carro se foi, mas a paixão e a vontade de ter outro modelo da linha continuou, até o ano de 2014, quando tiveram a oportunida­de de adquirir o modelo que hoje ilustra a nossa matéria, através da indicação de seu cunhado, que já conhecia o carro e, inclusive, a pessoa que tirou o carro da concession­ária. O carro foi comprado por um munícipe de Lindoia – SP, que ficou por muito tempo com o carro e o vendeu para uma mulher da cidade de Luís, ficando em sua posse por 10 anos, até o dia que veio para a casa da família Mestrinér. No dia, estavam em dúvida se o carro iria caber em sua garagem devido a um jardim que havia na casa, e pediram se poderiam dar a resposta depois de fazer um teste. A então proprietár­ia disse que tudo bem e que levaria o carro no dia seguinte para o teste. Depois de algumas horas, o arrependim­ento

de não ter fechado o negócio e o medo do carro ser vendido nesse intervalo veio forte, mas no fim, tudo deu certo, o carro coube na vaga e a compra foi concluída.

Com o Volkswagen Fusca 1970 primeira série e agora nomeado “Gary”, em casa, veio a decisão de fazer uma restauraçã­o no carro, a fim de manter o modelo com o padrão original de sua época, tanto externa quanto internamen­te, incluindo os bancos baixos e o famoso volante Cálice, preservand­o a história e mostrando para a atual geração que não conviveu com esse tipo de carro pelas ruas, como era antigament­e. Isso pode ser visto também em detalhes como espelho retrovisor cromado, nos faróis modelo “Olho de Boi” com os logos “Arteb” “Hella” e nos para-choques com poleiros também cromados. Até na parte de mecânica e de suspensão, o carro se manteve original, tendo o motor 1300 como suficiente para os passeios de finais de semanas e para os encontros de

carros antigos da região.

Para chegar em seu estado atual, o carro passou por uma restauraçã­o merecida, principalm­ente na parte de funilaria, pintura e de tapeçaria, com a forração de porta voltando a ser do padrão original, os bancos baixos revestidos com um tecido condizente ao visual original. E como cereja do bolo, para mostrar realmente ser um veículo de coleção, o carro foi agraciado com a placa preta e o certificad­o de originalid­ade.

Com o Fusca na garagem em fase de conclusão, e a convivênci­a com os encontros e o clube que participam, outro modelo da linha começou a ser visto com outros olhos pelo casal e foi conquistan­do lugar no coração deles, principalm­ente de Luís, que veio de uma família grande, de nove irmãos, incluindo o falecido pai que era apaixonado pelo modelo, o único veículo que comportava toda a família era a Kombi. Decidiram a começar a procurar uma para comprar. Não poderia ser ninguém menos que a nossa “Velha Senhora”, a Volkswa

gen Kombi.

Hoje em dia, a Kombi vem ganhando espaço nas mídias, na publicidad­e e nos corações da população em geral. Até aquele que não é ligado no mundo dos carros antigos tem, pelo menos, uma simpatia pela perua. Seja pelo espírito aventureir­o que ela transmite, de você largar a vida para trás e conhecer lugares novos, principalm­ente levando a família junto, seja pelo seu desenho clássico, ou por ter sido responsáve­l por “construir” a vida de muitas famílias pelo Brasil, hoje em dia a Kombi anda muito desejada pelos quatro cantos do país.

E aqui não foi diferente, veio uma “irmã” fazer companhia para o Gary. A “Lenda”, como foi batizada, é uma Kombi 1979, da primeira geração dos modelos conhecidos como o modelo Clipper, que hoje em dia vem caindo cada vez mais no gosto do brasileiro, que até um tempo atrás, apenas olhava com bons olhos para as Corujinhas, que cada vez mais está difícil de encontrar em bom estado e com preço acessível. Se por um lado, a Kombi até 1975 é difícil de encontrar em bom estado, por outro lado, a Clipper, primeira geração até o começo dos anos 80,

A “LENDA”, COMO FOI CARINHOSAM­ENTE BATIZADA PELA FAMÍLIA, MOSTRA QUE É POSSÍVEL TER UM PROJETO BEM FEITO NA BASE DA KOMBI CLIPPER

ainda possui opções interessan­tes, mesmo com um período de produção menor.

A “Lenda” chegou na família em Janeiro de 2017, coincident­emente trazida da mesma cidade que o “Gary”, Lindoia – SP. Quem encontrou o anúncio do carro foi Patrícia, que na época estava estudando para um concurso público, mas que, como muitos de nós, ficou procurando um modelo pela internet que os agradassem ao invés de focar na prova. Prioridade­s da vida, né? Não passou no concurso, mas encontrara­m um belo modelo para fazer parte de suas vidas.

Mesmo com o visual original, quando foi comprada, resolveram colocar um pouco de personalid­ade no carro, que era totalmente branca quando chegou, com os para-choques na cor da carroceria também. Buscando por inspiraçõe­s na internet, encontrara­m uma Kombi de competição europeia com esse padrão de cores, do teto em cinza e a parte inferior dos vidros em laranja, apenas com uma variação no tom.

Com a parte de funilaria em bom

estado e a pintura pronta, focaram mais em deixar a parte mecânica e de suspensão em bom estado para as viagens, foi instalada a carburação simples. Devido à dificuldad­e de equalizar os dois carburador­es originais, que começaram a sair de fábrica no modelo a partir de 1978, muitos proprietár­ios alteram o sistema, utilizando apenas um carburador. A tapeçaria foi feita em tons de cinza e com as faixas da costura na cor Laranja, acompanhan­do as cores do estilo do carro e também para trazer mais conforto para pegar a estrada com os parentes e amigos, sem precisar sentar um banco quente, ainda mais no verão Brasileiro.

Se o casal já estava apaixonado por esse meio, no caso da filha foi um pouco diferente. “No início, eu critiquei a ideia dos meus pais, só que conforme o tempo foi passando e eu fui convivendo e passeando nos finais de semana, fui aprendendo a gostar e me envolver, porque é muito mais do que um simples carro. São as amizades que se criam, os passeios que fazemos, e também, principalm­ente, o fato de ter melhorado minha relação com os meus pais. Hoje nós somos uma família muito mais unida, vamos para encontros juntos, nos divertimos juntos.” Conta Júlia.

Se por toda a história envolvendo o Fusca na trajetória do casal faz o casal ter uma paixão especial pelo “Gary”, para Júlia, quem tem um espaço

maior em seu coração é a “Lenda”. A ideia de poder viajar com ela, com mais espaço, mais pessoas, e mais conforto colabora bastante para isso. Ainda esse ano, a meta da família é fazer algumas viagens com a “perua”, com destino às cidades de Tiradentes, São Thomé das Letras, e, agora em julho, fazer o famoso caminho pela Serra do Rio do Rastro, localizada na cidade de Lauro Muller, no estado de Santa Catarina, considerad­a pelo tabloide britânico The Guardian como uma das rodovias mais espetacula­res do mundo.

É bacana olharmos, cada vez mais, pelos encontros de carros antigos, mais famílias frequentan­do, participan­do, se divertindo e compartilh­ando da mesma paixão. É uma paixão saudável, que, desde que não se cometa exageros, como todas as coisas da vida, só traz bons frutos, e ensina muito as futuras gerações como devemos evoluir, mas sem esquecer do passado. Família que coleciona unida, permanece unida.

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 ??  ?? O Fusca 1970 primeira série mantém o visual externo do ano anterior. Rico em detalhes cromados como os parachoque­s com poleiros, retrovisor­es modelo raquete e calotas cromadas
O Fusca 1970 primeira série mantém o visual externo do ano anterior. Rico em detalhes cromados como os parachoque­s com poleiros, retrovisor­es modelo raquete e calotas cromadas
 ??  ?? O pisca alerta foi instalado na parte debaixo do painel. Algo comum de ser feito nos anos 80
O pisca alerta foi instalado na parte debaixo do painel. Algo comum de ser feito nos anos 80
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 ??  ?? Interior na cor preta, com volante também da mesma cor e seus detalhes cromados, faz um belo contraste com a carroceria na cor branca
Interior na cor preta, com volante também da mesma cor e seus detalhes cromados, faz um belo contraste com a carroceria na cor branca
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 ??  ?? Motor 1.300 original, inclusive com as mangueiras do sistema de ar quente para curtir os passeios do final de semana sem pressa para voltar
Motor 1.300 original, inclusive com as mangueiras do sistema de ar quente para curtir os passeios do final de semana sem pressa para voltar
 ??  ?? Família reunida em volta do Fusca, modelo tão importante no começo de sua trajetória
Família reunida em volta do Fusca, modelo tão importante no começo de sua trajetória
 ??  ?? Adesivos com os desenhos inspirados em uma Kombi de competição Alemã, nas cores cinza, combinando com as faixas laranja da carroceria
Adesivos com os desenhos inspirados em uma Kombi de competição Alemã, nas cores cinza, combinando com as faixas laranja da carroceria
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 ??  ?? Com muitos detalhes originais e com o logo VW em muitas de suas peças, só é possível graças ao passado dessa Kombi não ser muito sofrido, como aconteceu com muitas outras por aí
Com muitos detalhes originais e com o logo VW em muitas de suas peças, só é possível graças ao passado dessa Kombi não ser muito sofrido, como aconteceu com muitas outras por aí
 ??  ?? Lanternas bicolor, nas cores vermelha e branca, saíram exclusivam­ente nos modelo Clipper de primeira geração, e o adesivo que já “entrega” um destino constante nas viagens da Kombi
Lanternas bicolor, nas cores vermelha e branca, saíram exclusivam­ente nos modelo Clipper de primeira geração, e o adesivo que já “entrega” um destino constante nas viagens da Kombi
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A Kombi que inspirou a pintura da “Lenda” foi o “Race-taxi”, uma Kombi do suiço Fred Berhand que adaptou o motor 3.6 boxer de um Porsche 911 Turbo 993 refrigerad­o a ar. Além do motor, o carro foi extensamen­te modificado, passando à troca da carroceria da primeira geração para a terceira (T3) e sendo alargada em cerca de 21 centímetro­s. As janelas foram confeccion­adas em policarbon­ato, rodas BBS de 18 polegadas calçadas com pneus Pirelli Pzero Slicks, amortecedo­res Biltein, molas Eibach. Hoje o carro ganha as pistas com mais de 500 cv.
INSPIRADA NAS CORRIDAS A Kombi que inspirou a pintura da “Lenda” foi o “Race-taxi”, uma Kombi do suiço Fred Berhand que adaptou o motor 3.6 boxer de um Porsche 911 Turbo 993 refrigerad­o a ar. Além do motor, o carro foi extensamen­te modificado, passando à troca da carroceria da primeira geração para a terceira (T3) e sendo alargada em cerca de 21 centímetro­s. As janelas foram confeccion­adas em policarbon­ato, rodas BBS de 18 polegadas calçadas com pneus Pirelli Pzero Slicks, amortecedo­res Biltein, molas Eibach. Hoje o carro ganha as pistas com mais de 500 cv.
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Interior todo refeito nos padrões de cores da carroceria, combinando com o volante Bumerangue (maior na Kombi) e o filtro de sonhos, comprado especialme­nte para a “Lenda”
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