Relíquia
Fã de modelos personalizados se apaixona pela originalidade de um perfeito besouro 1967 com bancos branco Gelo – padrão que estreava naquele ano e que hoje atrai a cobiça dos colecionadores
Jamais restraurado, este Sedan 1967 exibe o raro interior no padrão branco Gelo
Atualmente com 24 anos de idade, o designer paulistano Tiago Niliozi Camilo pertence à geração que cresceu influenciada pela cultura popularmente chamada de Tuning, alimentada por filmes da franquia Velozes e Furiosos. Até por isso, não é de surpreender que seu primeiro Fusca, um exemplar 1969, exibisse suspensão rebaixada no limite e visual recheado de acessórios esportivos. “Acabei vendendo esse carro, mas uma semana depois já estava arrependido e à procura de outro besouro para comprar e converter no mesmo estilo”, narra.
A busca o levou até este incrivelmente conservado e raro Sedan 1967, fazendo Tiago imediatamente rever seus conceitos. “Até mesmo meus amigos, fãs de customização, alardeavam que era heresia transformar esse carro”, conta o designer, que pela primeira vez sentiu-se atraído pela estética original de época. Sobretudo por um detalhe em particular: o interior adornado por bancos e laterais revestidos com courvim na tonalidade branco Gelo, opcional que na época não fez muito sucesso,
o que o torna incomum atualmente e, consequentemente, objeto de desejo entre os colecionadores.
“O padrão em 1967 era a tapeçaria preta, mas a fábrica também oferecia como opcionais o courvim nas cores vermelho Turim e branco Gelo, sendo este último o mais raro de ser visto atualmente”, detalha o proprietário.
E não é apenas em função das variadas tonalidades no acabamento interno que a linha 1967 merece destaque na evolução do besouro nacional. Afinal, aquele ano marcou não só a estreia do motor 1300 com 38 cv de potência líquida (8 cv a mais que a aposentada versão 1200), mas também novidades como o vigia 20% maior (que surgiu ainda no final de 1966, no popularmente chamado “Modelinho”), o comutador do farol alto por meio da mesma alavanca do pisca na coluna de direção, além de detalhes como rodas com aberturas
A CARROCERIA VERMELHO GRANADA EXIBE VÁRIOS ACESSÓRIOS CROMADOS DE ÉPOCA, COM DESTAQUE PARA A “DENTADURA DE BAIANO”
para melhor ventilação dos freios, novo escapamento, limpadores de para-brisa com descanso no lado do motorista e até mesmo um dispositivo de segurança que impedia a abertura não intencional das portas.
Para os mais detalhistas, o exemplar de Tiago exibe ainda outro detalhe inerente ao ano de 1967: faróis com lentes da marca Cibié, que a partir daquele ano passavam a dividir a produção da fábrica junto dos tradicionais componentes com a assinatura Arteb-hella.
E se o designer é fã de modelos personalizados, não dá para dizer que o charmoso besouro está totalmente original. Para alegria de Tiago, a carroceria vermelho Granada está repleta de autênticos acessórios de época, alguns raros, como é o caso do rádio Zilomag, da antena Truffi com chave para erguê-la, das ponteiras dos para-choques fabricadas pela tradicional metalúrgica nacional Wega e de inúmeros componentes cromados, como polainas, “saboneteiras” (aplicadas sob as maçanetas das portas, de modo a proteger a carroceria de arranhões com as unhas)
ALÉM DE DIFERENTES OPÇÕES DE CORES NO INTERIOR, A LINHA 1967 TRAZIA COMUTADOR DO FAROL ALTO NA ALAVCANCA DO PISCA
OS FARÓIS DA MARCA CIBIÉ PASSARAM A DIVIDIR A PRODUÇÃO DA FÁBRICA JUNTO DOS COMPONENTES DA ARTEB-HELLA NA LINHA 1967
e a famosa “dentadura de baiano”, como era chamada a reluzente peça usada para revestir a grelha traseira de entrada de ar para a turbina de arrefecimento do motor.
O motor 1300 aliado ao sistema elétrico de 6 volts permanecem originais, assim como o velocímetro datado no dia 2/08/1967. Os charmosos bancos branco Gelo também são os mesmo que saíram de fábrica, exibindo inclusive manchas amareladas como sinais do tempo. “Um detalhe legal é a presença do selo original do fornecedor, com o logotipo VW, ainda preservado em meio às crinas, ferragens e molas debaixo do assento traseiro”, aponta Tiago, que lamenta apenas o fato do antigo dono ter substituído a passadeira do assoalho, obstruindo as saídas do sistema de ar quente – detalhe, entretanto, bastante fácil de reverter e que em nada denigre a imagem do raro besouro.