Go Outside

“O presente perfeito”

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“NA VIAGEM pelo Brasil acabei passando pela Bahia – como não ia fazer isso!? Lembro bem, eu estava me aproximand­o de Itacaré e tinha duas opções: encarar uma serra bem íngreme pela estrada, o trajeto mais comum, ou então se embrenhar em uma área de fazenda com vegetação mais baixa, cruzar um mangue e chegar a uma pequena vila de pescadores remota. Dali eu seguiria pela areia batida. Lógico que escolhi o segundo caminho, o mais difícil.

A chance de mais surpresas e emoções é maior.

Atravessar um mangue nunca é fácil. Com uma bike carregada, pior ainda. Precisei fazer algumas viagens com a lama na altura dos joelhos para dar conta do recado. Em uma delas, com minhas Havaianas na mão, acabei vacilando e deixei cair um pé. Não tinha o que fazer. Nem tempo para lamentar. Acabei guardando o outro pé e tocando para frente. O importante, aprendi na jornada, é sempre seguir viagem. No meu caso, descalço.

Só fui chegar a Itacaré à noite e ainda tive de encarar uma travessia de barco. Andando pelo pedaço com os pés no chão, enxerguei um letreiro de neon de uma sorveteria. Juntei umas moedas e pensei: ‘Estou descalço, sujo e cansado; mereço um sorvete!’. Encontrei por ali, sem querer, um amigo, também viajante. Ele acabou me hospedando aquela noite e, no dia seguinte, tinha um presente para mim. Adivinhe? Um par de Havaianas.

Não foi a única vez que isso aconteceu no meu giro por aí. Várias pessoas que eu encontrava – com as quais me conectava de alguma forma e acabava criando uma relação mais forte – percebiam que as Havaianas faziam parte da minha empreitada e acabavam me presentean­do com uma. Cheguei ao luxo de fazer um trecho da viagem com um par reserva na bagagem! Em uma expedição longa como essa, ter conforto nos pés é essencial. E a relação entre peso, espaço na bagagem e eficiência sempre fala alto na hora de fazer escolhas. Com as Havaianas, eu nunca tive dúvida de que elas passavam nesse “teste” e que rodariam comigo por todos os cantos.

Durante o pedal, eu usava as sandálias junto de um firma-pé com velcro – a melhor alternativ­a que encontrei. Um esquema prático e eficaz que me ajudou a rodar milhares de quilômetro­s. Fora da bike, elas se tornaram as parceiras ideais. Agora que terminei a viagem e me instalei no Norte do Brasil (tenho um pouco mais de tempo para contar essas histórias), eu me dou conta de que não tiro mesmo as Havaianas dos pés.”

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