Surpresas, cumes e descobertas
BEM-VINDO À INCA DIVIDE: UM DOS DESAFIOS MENOS CONHECIDOS E MAIS EXTREMOS DO CICLISMO DE LONGA DISTÂNCIA NO CONTINENTE
PARA CAPTAR O CICLISTA ITALIANO Michelangelo Pacifico no início de julho, o fotógrafo brasileiro Renan Bossi não mediu esforços. Dividindo um carro com um voluntário peruano e um francês, responsável pela logística da 2a edição da Inca Divide, ele cruzou desertos e montanhas do Peru por dias com passos beirando os 5.000 metros de altitude. Nessa prova em estilo bikepacking e autossuficiente, da qual também participaram os brasileiros Carlos Reis e Vinicius Martins, o percurso sugerido soma 1.800 km para serem pedalados em até 12 dias. Altitude, isolamento e a própria mente dos atletas são os grandes obstáculos. Muitas vezes, a distância entre ciclistas é calculada em dias. “O desafio era encontrá-los naquela imensidão”, diz Renan sobre a passagem pelos territórios da Cordilheira Blanca e do Parque Nacional de Huascarán, cartões-postais do norte peruano. “Naquele momento, eu estava a 4.700 metros de altitude, me equilibrando em uma pedra à beira de um penhasco com duas câmeras na mão”, descreve o fotógrafo. O resultado o deixou em êxtase. Era exatamente o que ele tinha ido buscar.
Portfólio de Renan Bossi
Depois de encarar o passo Yanashallash (4.700 metros), ao sul da Cordilheira Blanca, o competidor peruano Rodney Soncco precisava escolher um rumo. Ele decidiu pelo mais curto – mais montanhoso e arriscado também – em direção a Casma, terceiro posto de controle obrigatório da Inca Divide 2018. No trajeto, com dois terços conquistados do passo Punta Callan (4.200 metros), Rodney precisou parar. “Se for para furar um pneu, que seja com uma vista dessa”, diverte-se Renan, que acompanhava a saga de perto. “Presenciar a força mental desses ciclistas foi algo impressionante. Mais do que fotos, trago lembranças do que o ser humano consegue atingir.”
FERRAMENTAS: Canon 6D, lente 16-35 mm, ISO 400, f/4, 1/500 segundo
A escalada da Punta Olimpica, ascensão para lá de exigente, foi um ponto-chave na disputa do título. O italiano Michelangelo largou na frente, mas sofreu com a falta de comida e de descanso. “Rodney subiu como uma locomotiva”, conta Renan. Com a Cordilheira Blanca e parte do parque Huascarán ao fundo, o peruano assumiu a primeira posição para não a perder mais. Ao chegar à base em Trujillo, já no nível do mar, Rodney celebrou a vitória em pouco menos de seis dias (127h22min). Ele já havia vencido a Inca Divide inaugural em 2017, que ligou Quito, no Equador, a Cusco, no Peru, em impressionantes 3.500 km.
FERRAMENTAS: Canon 5D MKIII, lente 70-200 mm, ISO 500, f/4, 1/3.200 segundo