EM UMA VAN
CANSADA DA ROTINA de cargas horárias pesadas no mercado de audiovisual, a fotógrafa Camila Caggiano, de 42 anos, queria viver mais tempo perto da natureza, fazendo o que mais curte – escalar, conhecer o mundo, curtir novas aventuras. Encontrou a solução em uma perua Fiorino, que ela transformou na sua morada quando está com tempo livre para viajar, em geral na baixa temporada dos casamentos que fotografa. “Ninguém se casa entre dezembro e março”, brinca ela.
Camila adaptou o carro praticamente sozinha, em cinco meses: da instalação do revestimento e parte elétrica até as estruturas de madeira onde se encaixam gavetas e armarinhos para organizar seus equipamentos. O carro conta também com um sistema de armazenamento de água, que permite um banho de bacia lá dentro.
Ao inaugurar sua fase van life, a fotógrafa passou a fazer parte de uma nova onda de pessoas que está indo viver suas aventuras a bordo de uma casa-carro. As road trips atuais diferem bastante das viagens de antigamente. Saem os motorhomes grandes, caros e feitos sob medida e entram carros comuns adaptados, que oferecem um jeito mais flexível e prático de se deslocar.
Agora não é preciso necessariamente largar tudo para trás – pelo menos não logo de cara. “Por enquanto tenho alternado temporadas de trabalho e de viagem para estruturar minha nova rotina”, conta Camila. Ela fez o grande teste da Safira no ano passado, indo até Ushuaia, no extremo sul da Patagônia argentina, com um bom período em Piedra Parada, paraíso da escalada a cerca de 300 km ao sul de Bariloche.
Nos três meses em que viajou sozinha, não encontrou nenhuma outra mulher em situação semelhante. Mas isso não quer dizer que a jornada tenha sido solitária: encontrou velhos amigos, fez novos, namorou, escalou e ainda teve tempo para si mesma. Alguns truques ajudaram. Com a cozinha que montou na van, preparava jantares e chamava outros escaladores para compartilhar. “O pessoal sentia o cheiro da comida e ficava curioso. Fiz amigos muito rápido assim”, diverte-se.
O saldo foi positivo e rendeu um documentário, ainda sem data de lançamento. E deixou Camila ansiosa pela próxima viagem. “Descobri que não preciso de casa em lugar nenhum. Agora vou com a van para todas as minhas viagens de escalada e, mesmo quando me hospedo com amigos, prefiro dormir ali”, conta.
Por outro lado, a liberdade cobra seu preço em desapego. Banho quente, por exemplo, é um luxo. O sistema que Camila desenvolveu permite banhos rápidos, com água fria. “Em um posto de gasolina na Argentina, eu parei para jantar e dormir. O dono do restaurante do posto gostou tanto da minha história que me deu o jantar, uma sobremesa e perguntou se eu não precisava de mais nada. A única resposta possível foi ‘ducha caliente’!”, conta a escaladora, dando uma gargalhada como para explicar que isso não passa de mero detalhe em uma aventura inesquecível.
– VERÔNICA MAMBRINI