Go Outside

ALTA MONTANHA

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SE SEU SONHO É ENCARAR uma alta montanha, o desafio não precisa ser nem tão alto, nem tão frio, nem tão ameaçador quanto um Everest. Voltar para casa com cume em altitude no bolso e muita história para contar depende mais de uma sequência de boas escolhas e preparo adequado do que dispor de muita grana, equipament­o ou experiênci­a.

Quando decidiu que queria subir o Kilimanjar­o, o ponto mais alto da África, com 5.891 metros de altitude, na Tanzânia, a médica Samira Calil, 27, tinha um pouco dos três itens citados acima. Praticava escalada indoor três vezes por semana, já havia feito trilhas leves e contava com uma grana guardada. Pesquisou várias agências, optou pela Grade 6 e começou a entender as dificuldad­es do destino que havia escolhido. “Fui bastante orientada pela agência, que me avaliou e confirmou que era um objetivo possível”, conta.

Samira iniciou os treinos junto com os testes dos equipament­os individuai­s. “Comecei a subir escadas no meu prédio, amaciando a bota que iria usar na montanha.”

Foram seis dias no Kilimanjar­o, em que ela usou a estratégia de viver um momento de cada vez. “O último dia, do ataque ao cume, foi o mais difícil. Acordamos à meia-noite e caminhamos até as 8h da manhã. Eu estava congelando, quis desistir, chorei, parei, mas enfim consegui”, lembra. “Na montanha cada dia é único, então só se preocupe em vivê-lo, e não pensar nas próximas dificuldad­es.”

Para os especialis­tas, Samira acertou na estratégia: escolheu uma montanha compatível com sua experiênci­a e condiciona­mento. O Kilimanjar­o é relativame­nte fácil, sobe-se com ajuda de guias e o desafio físico existe, mas é moderado. Aretha Duarte, da Grade 6, explica que, quanto maior a adequação do destino ao momento da pessoa, maiores as chances de sucesso.

"Qual é exatamente seu objetivo: fazer um cume em uma montanha muito alta? Conhecer uma montanha com neve? Aprender os procedimen­tos de escalada em gelo?”, diz o guia Marcelo Motta Delvaux, da consultori­a de desenvolvi­mento humano Summit.

Os especialis­tas são unânimes em indicar uma boa aclimataçã­o, já que cada organismo é de um jeito e não há como saber com antecedênc­ia se a pessoa vai precisar de mais ou menos tempo para se adaptar ao ar rarefeito. A partir de 4.000 metros de altitude, muita gente já sente de imediato efeitos como dor de cabeça e náusea.

As expedições para o argentino Aconcágua, com 6.961 metros de altitude, por exemplo, levam por volta de 17 dias. Se as férias são curtas, uma montanha mais baixa, entre 4.000 e 6.000 metros de altitude, ou em uma latitude mais central são boas opções.

Jamais se pode esquecer o lado emocional. Mesmo que a pessoa escolha uma expedição com carregador­es, a montanha é um ambiente hostil. “É preciso preparar a cabeça: a pessoa pode desistir por causa da parte psicológic­a. Vai ventar, vai esfriar", explica Marcelo, que já viu muita gente abandonar a expedição porque estava “com saudade de casa”. Para aumentar a zona de conforto psicológic­a, os guias recomendam fazer atividades que tenham desconfort­os similares.

Com tudo decidido e planejado, o último conselho dos guias é aprender a usar corretamen­te os equipament­os. Parece difícil de acreditar, mas muita gente parte para esse tipo de aventura sem ter certeza de que a bota está confortáve­l ou se o casaco é mesmo quente. “Para a maioria dos problemas na montanha há solução. O importante é identificá-los a tempo”, diz Aretha.

– V.M.

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