Go Outside

“Salva pelas Havaianas”

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“DE TANTOS lugares que já visitei no mundo, não consigo me esquecer da passagem pela tribo africana Massai. Decidi viver um tempo em meio àquela comunidade para entender melhor seus costumes – uma experiênci­a meio ‘maluca’, cheia de descoberta­s, aprendizad­os e até de uma confusão enorme que eu não tinha ideia de que iria causar.

Tudo começou ao pousar na África do Sul e seguir rumo à região do Serengeti, no nordeste da Tanzânia, que faz divisa com o sudeste do Quênia. É por ali que ocorre a maior migração terrestre de animais do planeta, um fenômeno que tinha me instigado demais e que eu precisava ver de perto. Eles cruzam todo ano o rio Mara em busca das águas da chuva. A travessia em si é um local repleto de crocodilos, um perigo para lá de real. Quer dizer, estamos falando de um lugar selvagem de verdade.

É por essas bandas que vivem os Massai, o único grupo autorizado a atravessar a fronteira dos países mantendo seus costumes seminômade­s. E é para lá que eu parti, de coração e mente aberta, sem saber exatamente o que iria encontrar. Fui bem recebida, a ponto de ser aceita para viver alguns dias exatamente como eles.

Na vida Massai, as tarefas são bem divididas. Mulheres constroem e cuidam das casas. Homens saem para caçar. Mulheres fazem uma dança típica, batendo seus pés descalços no chão e seus grandes brincos nas orelhas. Já os homens dão saltos enormes – um movimento que virou símbolo da tribo e até se espalhou em vídeos e fotos pelo mundo.

No meio disso tudo, decidi sair um dia junto dos homens para caçar. Eu queria viver aquilo e não pensei exatamente nas consequênc­ias. Simplesmen­te fui. Só tem um detalhe: na tradição local isso é totalmente proibido. Quando eu voltei, extasiada com toda a vivência, percebi que o clima estava tenso. Todos na tribo já sabiam do ‘absurdo’ que eu, sem perceber, tinha cometido. A minha sensação era de que aquilo não ia acabar bem.

Os homens estavam assustados, e as mulheres, com uma cara de espanto que não dava para disfarçar. O líder da tribo, então, parecia furioso. E eu... bom, eu precisava fazer alguma coisa. Tentei me comunicar com o ‘cacique’ – uma missão nada fácil no meio da África. Não sei de onde veio a ideia, mas lembrei do par de Havaianas que me acompanhav­a nos últimos dias. Tinha até a bandeira do Brasil.

Fiz um gesto simples e ofereci minhas Havaianas como meu ato final – sincero e desesperad­o – de desculpas. Ufa! Deu mais do que certo. Elas encaixaram perfeitame­nte nos pés do cacique. Ele até sorriu na hora. E tudo acabou bem.”

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