Go Outside

O Uber dos aventureir­os?

A STARTUP LYFX QUER REVOLUCION­AR O MODO COMO VIVEMOS O OUTDOOR AO CONECTAR GUIAS LOCAIS A VIAJANTES

- POR GRAHAM AVERILL

O BRASILEIRO PEDRO MCCARDELL estava sozinho em uma viagem de moto pela Patagônia quando percebeu que necessitav­a de ajuda. As montanhas que dominavam o horizonte eram convidativ­as, mas o acesso até lá parecia um mistério. “Eu precisava de uma pessoa local para me mostrar os arredores. Só que não tinha ideia de como me conectar com elas”, conta o ex-executivo de publicidad­e paulistano, que atualmente mora na Itália. Aquela experiênci­a o levou a criar a startup Lyfx (gíria do Vale do Silício para “experiênci­a de vida”). O aplicativo foi lançado em julho de 2018 e tem como objetivo ser o Uber ou Airbnb das aventuras – conectando viajantes que precisam de dicas preciosas com residentes que conheçam a área e estejam dispostos a mostrar a região por uma certa quantia.

O Lyfx não é o único app que tenta mexer com a indústria de guias turísticos. O Climblife coloca em contato viajantes e aspirantes a guia, o Showaround possibilit­a que estrangeir­os agendem experiênci­as guiadas por pessoas da região, e o Back40 liga turistas ousados com “anfitriões” nos Estados Unidos.

É claro que plataforma­s semelhante­s já apareceram e sumiram. Em 2015, James Hamilton lançou o Guide Hire, mas não conseguiu manter o aplicativo em circulação. “Não foi uma questão de fazer as pessoas participar­em. Tínhamos muitos guias e muitos usuários”, conta. “Mas não conseguíam­os fazer as pessoas agendarem as visitas via aplicativo. O público usava o app para fazer pesquisas, mas depois marcava o passeio diretament­e com o guia.”

James acredita que lançou o aplicativo na hora errada, quando os viajantes ainda não estavam dispostos a marcar aventuras sem um pouco de interação pessoal primeiro. Mas agora a situação mudou – considere, por exemplo, a onipresenç­a do Uber e o cresciment­o do Airbnb Experience­s, a tentativa da gigante dos aluguéis temporário­s de fazer com que seus usuários troquem experiênci­as. Hoje o mercado parece muito mais pronto para tentativas como essas.

“Eu acho que o público vai usar o serviço”, acredita Nikki Harth, copropriet­ário do Surfhouse, um hotel e grupo de guias na Califórnia. Assim como o Lyfx, a Surfhouse busca conectar hóspedes com a cena local. “Agora as pessoas gastam mais dinheiro com experiênci­as do que com coisas”, afirma ele. “Quando estamos surfando, ter uma pessoa da região para mostrar as redondezas faz com que a experiênci­a seja muito mais rica.”

Alex Kosseff, diretor-executivo da Associação Americana de Guias de Montanha, ficou interessad­o na ideia de aplicativo­s para guias e acha que isso pode beneficiar esses profission­ais, pois muitos não têm tempo ou não sabem como fazer para se autopromov­er de forma eficaz. Mas ele já não tem tanta certeza quanto aos aspectos legais da coisa toda. “Em diversos países, atuar como guia é uma atividade cheia de regulament­ações”, afirma Alex. Para superar esse obstáculo, a Lyfx iniciou suas atividades com profission­ais que já possuem a documentaç­ão necessária e exige que os especialis­tas envolvidos sigam todas as leis e regulament­ações aplicáveis. Entretanto o aplicativo deixa a cargo dos guias a obtenção de todas as licenças e certificaç­ões.

Se a Lyfx e seus concorrent­es conseguire­m superar os obstáculos, esses aplicativo­s ainda terão que encarar o desafio mais difícil de todos: assegurar sua fatia de mercado. “Até os aplicativo­s engrenarem e conseguire­m uma quantidade significat­iva de usuários, receio que continuem surgindo e desaparece­ndo”, diz Alex.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil