Go Outside

As conquistas de Fernanda Maciel

FERNANDA MACIEL, NOSSA ESTRELA DA CAPA, CONSEGUE A PROEZA DE PERCORRER OS 30 KM DA TRAVESSIA PETÊ-TERÊ (RJ) EM APENAS 3H 41MIN

- POR RICARDO AMPUDIA FOTOS GABRIEL TARSO

IMAGINE VISITAR A FAMÍLIA em Minas Gerais e, no intervalo entre um pão de queijo e um cafézim, enfrentar, correndo, umas das trilhas mais clássicas do país: a travessia Petrópolis-teresópoli­s, na Serra dos Órgãos (RJ). Foi o que a ultracorre­dora mineira Fernanda Maciel, de 39 anos, fez no dia 19 de janeiro – percorreu em 3h41min (isso mesmo!) uma rota de 30 km, com mais de 2.000 metros de elevação. Turistas “normais” costumam fazer o mesmo trecho em três dias.

Ao ser questionad­a do resultado, ela rebate de pronto, com sotaque mineiro: “Ainda dá para abaixar para três horas!”.

Ir além é uma das marcas de Fernanda, hoje a maior ultracorre­dora brasileira, especializ­ada em competiçõe­s que passam facilmente dos 100 km. A moça começou cedo nos esportes, com apenas 9 anos, como ginasta profission­al. Poucos anos mais tarde seria campeã brasileira de jiu-jítsu.

A paixão pelas corridas de aventura surgiu quando morava na Nova Zelândia, aos 25 anos. Sua primeira corrida de montanha foi em 2008 e, daí em diante, de desafio em desafio, ela se tornou um dos grandes nomes desse esporte no mundo. “Na montanha são outros valores. O contato entre as pessoas, o silêncio, observar sua própria mente. É tudo o que a corrida me dá, além das paisagens incríveis.”

Fernanda acumula grandes feitos na carreira. Em 2016, a atleta realizou seu grande projeto ao se tornar a primeira mulher a subir e a descer o Aconcágua (6.962 metros), a montanha mais alta da América do Sul, em 22h 52min.

A escalada e a descida do pico argentino leva, em geral, duas semanas para ser concluída por quem faz o trajeto caminhando. A conquista veio após duas tentativas fracassada­s, interrompi­das pelo mal de altitude. Também foi cheia de riscos, com grandes avalanches de lama e pedras pelo caminho.

“É preciso muito autocontro­le e calma nesse tipo de projeto. Ter consciênci­a de que tudo pode dar errado. Mesmo com planejamen­to, uma hora tudo sai de nossas mãos. Quando isso acontece, você precisa ter a tranquilid­ade de conseguir reverter as situações.”

No mesmo ano, Fernanda terminou em terceiro lugar na corrida que é considerad­a a mais extenuante da modalidade, a

A atleta diz que sempre treina onde está, geralmente sozinha. “Até por falta de opção, porque é difícil arranjar alguém que acompanhe meu ritmo”, brinca.

Marathon des Sables, que percorre 250 km no Saara marroquino. Era sua primeira participaç­ão na prova.

Em 2017, definiu um novo recorde feminino para a subida ao Kilimanjar­o, o ponto mais alto da África. Foram 7h 08min para conquistar seus 5.895 metros. Tempo que seria quebrado no ano seguinte pela dinamarque­sa Kristina Schou Madsen.

Na travessia Petrópolis-teresópoli­s, a meteorolog­ia não ajudou. Com bastante chuva nos dias anteriores, a atleta aproveitou uma janela no mau tempo e começou a trilha ainda à noite, em meio a muita neblina, encontrand­o terreno molhado e escorregad­io. Finalizou a subida escalando o Dedo de Deus pela via conhecida como Maria Cebola, a tempo de fugir de uma tempestade com raios.

“A trilha é bem selvagem, tem pouca marcação e é super técnica. Para correr mesmo, seria necessário fazê-la repetidame­nte”, diz ela, que se perdeu quatro vezes durante o ataque e seis na primeira e única vez que correu a trilha antes do desafio. A logística da expedição também demandou tempo e esforço da equipe e da atleta. Fernanda dirigiu por seis horas e dormiu apenas duas antes de começar a subida, mas ainda teve gás para forçar o ritmo. “Dei chilique quando estava na parede com a equipe, estavam muito lentos e me atrasando. Quanto menos tempo exposta na montanha, menos desgaste tenho. Esse é um esporte que exige muita performanc­e.”

O projeto foi levado a cabo muito rápido, diante do pouco tempo que Fernanda tinha no Brasil. Vivendo nos Pirineus espanhóis e rodando o mundo atrás de provas, ela diz que treina onde está, quase sempre sozinha. “Até por falta de opção, porque é difícil arranjar alguém que acompanhe meu ritmo”, brinca.

A atleta figura atualmente na terceira posição no ranking do Mundial de Ultra-trail, preparando-se agora para a próxima etapa, na ilha de Gran Canária, na Espanha. São quase 130 km e 7.500 metros de elevação. Em 2018, Fernanda terminou em sexto.

Em maio, deve subir e descer o monte Elbrus, na Rússia, a montanha mais alta da Europa, com 5.642 metros de altitude. “O mais importante para conservar a motivação nesses grandes desafios é manter o foco e, em especial, ter verdadeira­mente o desejo de fazê-lo. Sonhar e saber que vai dar certo.”

 ??  ??
 ??  ?? DURONA:Da esq. para a dir., Fernanda correndo na travessia da Petêterê; comemorand­o no cume do Dedo de Deus; durante a escalada da via clássica Maria Cebola
DURONA:Da esq. para a dir., Fernanda correndo na travessia da Petêterê; comemorand­o no cume do Dedo de Deus; durante a escalada da via clássica Maria Cebola
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil