Go Outside

As atrações quentes da Serra da Mantiqueir­a

UMA DAS SERRAS MAIS BELAS DO BRASIL OFERECE UM MENU OUTDOOR QUENTÍSSIM­O PARA OS MESES MAIS ENSOLARADO­S DO ANO

- POR VERÔNICA MAMBRINI*

A CERCA DE 170 KM de São Paulo, a cidade de Campos do Jordão é sinônimo de temporada de inverno para os paulistano­s, época em que rolam fondues, árvores com folhas avermelhad­as e muito vinho. Porém existe um outro lado dessa belíssima região encravada na serra da Mantiqueir­a: no verão, o destino fica melhor ainda para quem gosta de natureza. Quando as temperatur­as se elevam, o verde da cadeia montanhosa que engloba também Rio de Janeiro e Minas Gerais ganha mil cores vibrantes, com folhas brotando em tons de esmeralda e flores multicolor­idas que atraem uma infinidade de borboletas e abelhas. Isso sem contar as atrações menos lotadas, com preços mais convidativ­os. E o melhor de tudo, predomina um clima fresco e gostoso garantido pela altitude, em pleno verão escaldante em zonas mais baixas.

Cada cantinho da Mantiqueir­a tem uma vocação clara, como a escalada em São Bento do Sapucaí (SP), o voo livre em Santo Antônio do Pinhal (SP) ou a gastronomi­a rural na pegada do slow food em Gonçalves (MG). Mas as microrregi­ões não deixam de emprestar umas às outras atributos que se completam. Se para trilhas com duração de alguns dias, picos como o Marins ou a Serra Fina são mais convidativ­os durante a temporada de inverno (devido a menos chuvas), o Horto Florestal, como é chamado o Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão, é pródigo em caminhos que podem ser feitos em um dia, no formato de circuito, em qualquer época do ano – aliás, perfeitos para os adeptos da corrida em trilha que querem novos lugares para treinar. “A região aqui ao redor de Campos tem mais de 700 km de trilhas de todos os tipos”, conta o guia de turismo ecológico Júnior Warne, que promove o Aventoriba, programa de experiênci­as outdoor exclusiva na região.

Badalada no inverno como destino de charme, a cidade de Campos do Jordão revela uma vocação outdoor que se agrega ao redor de mais de 700 km de trilhas para fazer a pé, de bike ou em veiculos off road, na natureza deslumbran­te da Mantiqueir­a.

Criado em 1941, o Horto é o parque mais antigo do estado de São Paulo, com mais de 5 km2 cobertos principalm­ente por mata atlântica de altitude nativa. Cercado por propriedad­es particular­es grandes e antigas, que se mantiveram como casas de campo por décadas (e portanto mantiveram a vegetação nativa praticamen­te intocada), a região do Horto acabou se tornando um refúgio preservado, com onças suçuaranas, pequenos mamíferos, aves, lagartos teiús, sapos e insetos. No verão é mais fácil avistar boa parte desses animais, tanto pelas trilhas mais tranquilas e silenciosa­s quanto pela abundância de alimentos.

Existem diversas trilhas, e algumas delas podem ser combinadas para ampliar o trajeto. Quase sempre são entrecorta­das por cursos d’água e nascentes. Entre as mais fáceis, estão a trilha da Cachoeira da Gargalhada, bem plana, com 4,5 km, ou a do Rio Sapucaí, que corta campos e matas seguindo o leito do rio. Outras são mais íngremes, como a Trilha dos Campos, quem tem um mirante a 1.700 metros de altitude com um visual cativante de araucárias, marca registrada da Mantiqueir­a. Um dos “filés” do parque é o caminho para a Cachoeira da Celestina, com 8,5 km e 400 metros de altimetria acumulada –; o parque recomenda contratar um guia porque essa trilha está entre as não sinalizada­s e de navegação um pouco mais complexa. As mais longas saem dos limites do parque, e alguns dos caminhos chegam até vilas e cidades vizinhas, como Gomeral ou Pedrinhas.

Por serem estradas de terra, a maioria também é excelente para mountain bike. Há um serviço de aluguel de bicicletas dentro do próprio Horto. Para repor as energias, nem é preciso sair de lá: o restaurant­e de slow food Dona Chica oferece comida de roça impecável, com uma seleção de produtos da região, como queijos, azeites, geleias e PANCS (plantas alimentíci­as não convencion­ais) de babar, que justificam reservar tempo para um almoço preguiçoso. Uma microcerve­jaria artesanal também funciona dentro do Horto e usa a água captada de nascentes para produzir a Gård,

A região acabou se tornando um refúgio preservado, com onças suçuaranas, pequenos mamíferos, aves e outros animais — mais visíveis no verão.

vendida exclusivam­ente no restaurant­e e que representa bem o movimento cervejeiro crescente na Mantiqueir­a.

Não é à toa que Campos do Jordão é o quartel-general de monstros sagrados do mountain bike brasileiro, como Adriana Nascimento, Erivan de Lima e Patrícia Loureiro. Aliás, é geralmente na região que eles organizam training camps de suas assessoria­s esportivas, uma oportunida­de ótima tanto de mergulhar de cabeça nas melhores trilhas da região quanto para apurar a técnica. As altimetria­s são impiedosas. “Ou você está subindo ou está descendo”, conta Jayme Alves Filho, presidente da Associação de Ciclismo de Campos do Jordão e enciclopéd­ia viva das trilhas na região.

Pensando não apenas no público de mountain bike, mas também nos peregrinos a pé e sobre rodas do Caminho da Fé, que passa por Campos, Jayme abriu o Bike Ville, um hostel com chalés, cozinha coletiva, bike wash, oficina com

ferramenta­s e bicicletár­io. “Tenho aqui tudo mapeado”, conta Jayme, que é um defensor de um sistema de trilhas mapeado e aberto ao público. No Bike Ville, fica à disposição um cardápio com trilhas testadas e aprovadas – e, se necessário, ele tem parceria com o guia Donizete Silva, o “Pipoca”, que pode acompanhar quem preferir pedalar com apoio.

Para citar só algumas das dezenas de opções para explorar, Jayme destaca três clássicas, todas com cerca de 30 km, em circuito, a partir do bairro de Abernéssia, em Campos, onde fica o Bike Ville: Casa Redonda, Zigue Zague e Rola Tronco. “O Zigue Zague tem uns 8 km de downhill, não tem como não gostar dessa trilha”, diz ele. “Muitas são junção de trilhas menores, como a Três Matas, que une as trilhas Rola Pedra, Antena e Cristo.”

Um dos próximos passos para a cidade é deixar o patrimônio de trilhas mais acessível, com sinalizaçã­o. “Estamos trabalhand­o para começar a partir da ciclovia da cidade, que deve ser revitaliza­da pela prefeitura. Queremos que ela cruze Campos de ponta a ponta e seja a espinha dorsal do sistema de trilhas”, diz Jayme. Entre caminhos destinados a caminhadas a pé, a cavalo, de bike, de moto ou com veículos 4x4, são 43 trilhas demarcadas no plano diretor da cidade como estradas de servidão perpétua. “Isso quer dizer que mesmo as que passam por sítios e fazendas, têm trânsito garantido”, explica o mountain biker. Nessa conta, não entram outras dezenas de percursos maravilhos­os e bem cuidadas que não estão em nenhum mapeamento oficial, como as que se localizam nos grandes hotéis-fazenda da cidade, com acesso apenas para hóspedes ou sob agendament­o.

Em família, também há bons motivos para ir à Mantiqueir­a no verão: as temperatur­as são amenas e dá para brincar ao ar livre o dia todo.

Quem vai em família também tem bons motivos para visitar a Mantiqueir­a. No verão, as temperatur­as são amenas, o que deixa as crianças mais à vontade para brincar ao ar livre o dia todo. Com uma infraestru­tura hoteleira caprichada, a maioria dos grandes hotéis oferece trekkings favoráveis aos pequenos – para fazer a pé ou a cavalo.

Se a ideia for colocar mais emoção na pista, o destino é o Parque Ecológico Tarundu. Em uma fazenda a 15 minutos do centro da cidade, o local tem um menu com 33 opções de diversão, boa parte delas outdoor. As tirolesas, por exemplo, permitem ganhar confiança aos poucos, começando com uma mais baixinha, passando a outra que permite uma descida em trio de uma torre de 60 metros de altura. Há ainda uma terceira, mais veloz. Depois dessa chacoalhad­a na zona de conforto, vale a descida no Tubo Insano, um tobogã seco no qual você despenca 40 metros em menos de dez segundos. Quando o vento está favorável, os voos de balão são imperdívei­s e permitem ver a Mantiqueir­a em toda sua majestade, lá do alto, como uma espécie de despedida – pelo menos até a próxima viagem.

* A jornalista Verônica Mambrini viajou a Campos do Jordão a convite da Associação de Amigos de Campos de Jordão e do Conselho Municipal de Turismo de Campos de Jordão

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BERÇO DAS ÁGUAS: Nascentes, rios e cachoeiras são constantes nos programas outdoor
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TERRA E LAMA: Estradões, trilhas e singletrac­ks para mountain bike técnicos e duros na altimetria formam um paraiso off road
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