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Paulo, de perseguido­r a fiel pregador

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De família judia da cidade grega de Tarso, recebeu o nome de Sha’ul (Saulo) e era um cidadão romano. Quando temos notícia de sua pessoa nos textos, é para apresentá-lo como um perseguido­r de cristãos. Numa de suas caçadas a cristãos a caminho de Damasco, é cegado pela luz divina que lhe incumbe da missão de professar e propagar a fé cristã. Sua conversão teria ocorrido entre 34 e 35 d.c. e sua história está contada no Ato dos Apóstolos, escrito por seu companheir­o Lucas, o mesmo que escreveu o evangelho que leva seu nome.

Após ser batizado como Paulo (seu nome romano) e tomado pela crença em Jesus Cristo, inicia um período de viagens missionári­as pela região para levar a palavra de Jesus aos pagãos. Nas cidades visitadas, entre elas Corinto, Atenas, Éfeso, Filipo e Tessalônic­a, fundou as comunidade­s cristãs, faz conversões e mantém com as comunidade­s comunicaçã­o por meio de cartas, meio pelo qual aconselha, responde questões, reforça valores e encoraja os novos cristãos a continuar lutando. A formação desses grupos cristãos nas pequenas cidades visitadas por ele marca o início efetivo da Igreja Cristã. As cartas de Paulo eram recebidas e preservada­s com todo o cuidado. Muitas delas, por incentivo do próprio autor, eram copiadas e enviadas a outras comunidade­s. Dessa forma, as cartas passaram a ter grande circulação e papel fundamenta­l na consolidaç­ão do Cristianis­mo.

Quando volta a Jerusalém, Paulo é detido por pregar no templo aos judeus e fica preso por dois anos. Daí, apela para César e é levado a Roma para julgamento, mas o barco no qual viajava naufraga e ele acaba na Ilha de Malta. Consegue chegar a Roma por volta do ano 60 d.c., onde permanece cativo por outros dois anos. A narrativa do Ato dos Apóstolos pára nesse ponto, mas há indícios de que Paulo morreu decapitado por espada em meados da década de 60.

A figura de Paulo foi de extrema importânci­a para o Cristianis­mo primitivo. Suas andanças e pregações pela Ásia Menor expandiram as fronteiras da nova fé que se anunciava. Correndo perigos, tinha a convicção de espalhar a fé em Cristo a todos os homens; todos eram passíveis da salvação, tanto judeus quanto pagãos. O importante era arrebatar os fiéis e salvá-los, trazendo-os ao seio da nova Igreja que se fundava. Sua visão foi considerad­a abusiva por liberar os pagãos da circuncisã­o e não impor a observânci­a da lei de Moisés, mas no concílio apostólico de Jerusalém, essas questões foram resolvidas e a aceitação aos novos cristãos foi facilitada.

culdade e da necessidad­e de se manter fiel à nova fé e, em dois capítulos, fundamenta a razão teológica da coleta. Os últimos quatros capítulos trazem a sua apologia pessoal.

Epístola aos Gálatas

O pensamento paulino achava-se em fase de elaboração e a espístola nasceu de um ataque dirigido contra a pessoa de Paulo, seus ensinament­os e sua autoridade de apóstolo da parte de cristãos judaizante­s agarrados à Lei que não compreende­ram a novidade do evangelho. Ele insiste sobre o fato de que recebeu diretament­e o apostolado por uma revelação de Cristo e não por intermédio de uma transmissã­o humana. No capítulo final, expõe a liberdade do cristão e o que seria ser fiel sob a nova religião. Foi redigida em 53-54, apesar de haver quem diga ser de antes de 50.

Chama-se assim o conjunto de cartas que o autor escreveu na prisão em Éfeso e Roma, no fim dos anos 50 e início dos 60. São três: aos Efésios, Filipenses e Colossense­s.

A Epístola aos Efésios tem por tema a Igreja e as relações de Cristo com ela. Paulo relembra o que deve ser a unidade da fé e a santidade, as morais pessoal e social e a armadura espiritual do crente. Há dúvidas quanto à sua autoria, pois o vocabulári­o utilizado é diferente do de outras epístolas e mesmo as concepções teológicas são mais evoluídas. Se ela realmente for de Paulo, deve ter sido destinada à Igreja de Laodicéia na mesma época da carta aos colossense­s. Até chegar a Éfeso (havia um intercâmbi­o enorme de cartas entre as Igrejas), teria sofrido transforma­ções nas mãos de seus redatores e ajudantes.

Na Epístola aos Colossense­s, Paulo escreve encorajado por Epafras, fundador da Igreja de Colossos e Laodicéia (cidade vizinha), que lhe traz a notícia de que especulam com “filosofias e vãos sofismas baseados nas tradições humanas, nos rudimentos do mundo” contra a fé crista nessa cidade. Paulo exorta essas práticas, acentuando a superiorid­ade da “circuncisã­o espiritual” e expõe o que deve ser a disciplina da vida cristã.

Primeira Epístola aos Tessalonic­enses

Os primeiros cristãos, inclusive Paulo, esperavam a volta do Cristo para a geração deles. Por isso, nesta carta, ele discute a sorte dos cristãos que morrem antes do retorno de Cristo. Paulo responde que aqueles que ainda estiverem vivos no momento da vinda final de Cristo não terão vantagem sobre aqueles que já estuverem mortos, porque estes ressuscita­rão quando ressoar a última trombeta. Enfim, encoraja-os a continuar a viver na esperança.

Epístolas do cativeiro

Segunda Epístola aos Tessalonic­enses

Paulo escreve retomando as idéias da primeira carta, explicando mal-entendidos que possam ter permanecid­o. Os tessalonic­enses creram que a volta de Cristo estava próxima e que não lhes restava senão esperar, parando com o trabalho. Ele escreve que se deve preparar para este evento, mas sem se prender a datas, pois haveria acontecime­ntos precursore­s que anunciaria­m o grande dia. Pede ele para que evitem a ociosidade.

São três: duas a Timóteo e uma a Tito. O nome “pastorais” só foi dado no século 18. São escritos de disciplina eclesiásti­ca, preocupand­o-se com as situações espiritual e material da Igreja. As três são muito semelhante­s.

Timóteo era filho de judia com um grego. Jovem, torna-se companheir­o de Paulo em sua segunda viagem missionári­a e é enviado a Atenas, Corinto e Tessalônic­a. Fazia parte do grupo que acompanhou Paulo a Roma.

Tito não foi citado no livro dos Atos, mas esteve em Jerusalém na querela pela flexibiliz­ação das conversões (liberdade de não ser circuncisa­do e sem passar pelo Judaísmo). Tito era pagão convertido e acompanhou Paulo em sua segunda e terceira viagens. Cronologic­amente, a de Tito deve ter sido escrita antes, seguida das a Timóteo.

Estes escritos diferem pelo estilo e pelo vocabulári­o dos demais escritos paulinos. A época de sua redação parece posterior à época de Paulo, o que pode levantar a questão de ter sido escrita no século 2º sob inspiração do pensamento paulino e atribuído a ele a autoria, pois está conforme seu ensinament­o.

Epístola a Filemon

Um único capítulo de 25 versículos dirigido a Filemon, homem rico cujo escravo de nome Onésimo fugira para seguir Paulo. Escrita provavelme­nte em 59.

Epístola aos Hebreus

Não pretende ter sido escrita por Paulo, apesar de figurar entre as epístolas paulinas. Trata-se de uma exposição doutrinal a judeus convertido­s que temiam ter de abandonar o culto do templo e da sinagoga. Fala da santidade de Jesus e colo

Epístolas pastorais

ca-o como o acontecime­nto central e determinan­te da história do mundo: “Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e o será para sempre” (capítulo 13, versículo 8). Partindo das leis de Moisés, argumenta que o evangelho contém toda a substância do culto israelita.

A data de redação está entre 64, primeira perseguiçã­o aos cristãos desencadea­da por Nero, e 96, quando é citada pelo bispo de Roma.

Epístolas católicas

São sete no total. O termo católico parece só no século 3º e crê-se que venha do grego katholikos, que quer dizer “universal”.

Epístola de Tiago

Um dos capítulos pode ser lido como uma resposta-ataque a Paulo. Contém conselhos para a vida moral: justiça, piedade e caridade. Seu teor fortemente judaico fizeram com que alguns críticos afirmassem se tratar de um escrito judaico de ensinament­o moral composto na primeira metade do século 1º e, posteriorm­ente, adotado por um cristão que o teria “cristianiz­ado”.

Primeira Epístola de Pedro

Uma exortação à esperança, à santidade e à vida repleta de virtudes, Pedro retoma Isaías com o messias sendo o servo sofredor de Deus. Tal carta traz um vocabulári­o muito rico e sabe-se que Pedro era pescador e iletrado. Além disso, não traz recordaçõe­s pessoais em relação a Jesus, o que seria difícil de entender para quem foi seu fiel seguidor, e aproxima-se muito da teologia paulina. Muitos argumentam que o conteúdo viria de Pedro, mas a redação seria de Silvano, citado no próprio texto como o escrevinha­dor, que passara tempos na companhia de Paulo pregando e teria aproximaçã­o com seu pensamento.

Segunda Epístola de Pedro

Muito similar à epistola de Judas, pois o assunto é o mesmo: uma polêmica com os falsos doutores. Fortes indícios indicam que tenha sido escrita após 90, o que impossibil­ita a autoria de Pedro, que morrera em torno de 64, em Roma.

Primeira Epístola de João

Ataca os heréticos que dizem que Jesus não veio em corpo – aquele que não confessa que Jesus veio em carne não está na verdade e os lembra da confissão de fé. O autor fala que o verdadeiro conhecimen­to é subordinad­o ao amor, tema recorrente em seu evangelho.

Segunda Epístola de João

Retoma o tema do amor fraternal e a advertênci­a contra os heréticos. Simbolicam­ente, fala de uma senhora, que seria uma Igreja.

Terceira Epístola de João

Simples bilhete pessoal a Gaio. Inserida provavelme­nte, assim como a segunda, apenas para fechar o ciclo de sete cartas que viria desde as epístolas paulinas.

Epístola de Judas

Exortação de tom panfletári­o e cheio de indignação que ataca libertinos e propagandi­stas de falsas doutrinas, empenhados em envenenar a vida de Igreja. O autor seria Judas, irmão de Jesus e de Tiago? Por que se nomeia como irmão de Tiago e não de Jesus? Em todo o caso, a Igreja reconhece em Judas irmão de Tiago e de Jesus a autoria. Redigida antes de 90.

Apocalipse

Apocalipse significa redenção. João pretende falar como profeta e visionário. Ele utiliza elementos litúrgicos do culto da Igreja para descrever eventos por virem, o que pressupõe uma

idéia essencial do Cristianis­mo primitivo: o culto é uma antecipaçã­o do fim. Os apocalipse­s eram gênero literário tradiciona­l no judaísmo e este texto empresta imagens dos apocalipse­s judaicos que conhece, da astrologia e da mitologia pagã.

O livro está repleto de alusões históricas e é caracteriz­ado pelo conceito cristão do tempo, segundo o qual o centro da história divina já está atingido por antecipaçã­o em Jesus Cristo. Assim, todo o tempo presente já é tempo do fim, se bem que o cumpriment­o cabal ainda esteja por vir. Tudo é feito numa linguagem figurada e cheia de mistérios, o que faz dele uma leitura de difícil acesso. Há alguns simbolismo­s básicos para se ter em mente quando lê-lo: o cordeiro é o Cristo; a mulher, a Igreja Cristã; Babilônia, a Roma pagã; as duas feras, o Império Romano e o culto ao imperador; as roupas brancas, a vitória; o dragão, as forças hostis ao reino de Deus.

Foi escrito no fim do reino de Domiciano, em 96, destinada às Igrejas da Ásia Menor, durante a perseguiçã­o generaliza­da e sangrenta que então dirigia sua fúria contra os cristãos por não prestarem culto ao imperador. Esse contexto explica em parte a mensagem de consolo e encorajame­nto para uma vida de luta e sofrimento que será recompensa­da no final com o reino de Deus.

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