Rodrigo Candelot em dose tripla!
O ator está em duas novelas da Record e também em um canal de humor no Youtube
Oator Rodrigo Candelot ficou conhecido por sua atuação no filme Tropa de Elite 2, no papel do coronel Formoso. Ele ainda ganhou destaque na série da Netflix Coisa Mais Linda, como Paulo, o chefe de redação machista e debochado de uma revista feminina. Mas em breve Rodrigo também poderá ser visto em duas novelas ao mesmo tempo na Record TV. O ator viveu o Seo Nelson, na trama Topíssima, que começará a ser reprisada pela emissora no próximo dia 27. Além disso, Rodrigo agora encara um novo desafio. Ele será Ibate, o sacerdote responsável pela cozinha real na nova novela da Record, Gênesis, na fase Ur dos Caudeus. Para dar vida ao sacerdote, o ator teve que mudar completamente o visual: raspou a cabeça e deixou a barba crescer. “Agora os produtores de elenco e diretores, podem me enxergar com outros olhos, e as possibilidades de ser escalado para papéis diferentes crescem”, diz o ator. “Nunca tinha raspado a cabeça antes. No começo foi difícil. Mas agora estou me acostumando. Olha que até as mulheres estão me elogiando mais?”, afirma o ator, que pretende deixar o cabelo voltar a crescer após a novela. Na novela, Ibate será responsável pela cozinha do Complexo Templário e seu personagem será alegre, bonachão e para isso, Rodrigo está aprendendo a fazer queijos, e outros pratos típicos da época, “Adoram me escalar para personagens que tem veia cômica, e curto muito disso” diz Rodrigo. Quando leu a sinopse do seu personagem em Gênesis, Rodrigo Candelot gostou das características. Só o “acima do peso” é que não bateu muito. Segundo ele, “tem atores mais gordinhos do que eu, mas fiquei feliz de me escalarem”. Durante a quarentena na pandemia da Covid-19, com as gravações da novela paralisadas, Rodrigo se reinventou e criou o canal de humor Bagaceiros que já soma cerca de 18 mil inscritos no Instagram e mais de 4 mil no Youtube. Os vídeos, de forma muito divertida, mostram situações inusitadas do dia a dia, desde flerte nas redes sociais, ao monitoramento da vida de vizinhos pela janela e até passando pelas reclamações de serviços de entrega a domicílio. O elenco é composto de vários comediantes, como Helga Nemetik, André Ramiro, Charles Paraventi, Kacau Gomes, entre outros. E tem episódio inédito toda terça e sexta-feira. Veja mais detalhes na entrevista com o ator.
Você é um veterano na TV, com um vasto currículo tanto em novela, quanto em séries. Quando percebeu sua vocação pela arte de interpretar?
Costumo dizer que todo mundo que é artista, percebe sua vocação em algum momento da vida, muitas vezes como criança ou ainda muito jovem. No meu, essa vocação para a arte veio através da música. Eu comecei a tocar bateria aos 13 anos e a partir dali acho que minha sensibilidade para a arte aflorou. Toco até hoje, tenho mais de uma banda, mas não vivo disso. E outra curiosidade: quando era adolescente, adorava imitar os índios nos filmes de faroeste e fingir que morria, me jogando no chão ao levar tiro dos cowboys. Jogava-me no chão de casa, na areia da praia, em tudo que é lugar. Imaginem as cenas. Ali foi outro momento, que percebi anos mais tarde, um despertar no querer atuar. Mas após duas faculdades (comunicação e direito), certa insatisfação no meu trabalho de produtor de televisão e uma crise de ansiedade provocada por estresse, passei a repensar minha vida. E com cerca de 28 anos comecei a estudar teatro. Acho que de tanto trabalhar em TV por trás das câmeras, meu lado artista, que estava escondido, foi falando mais alto, e então decidi encarar o desafio de vez e estudar artes cênicas para virar ator.
Na série Coisa Mais Linda, da Netflix, ambientada na década de 50, você deu vida a um machista editor de revista, ao lado de Mel Lisboa, que era sua subordinada. Hoje em dia, você acha que o ambiente de trabalho ainda é machista com as mulheres? O que mudou?
Sim. O mundo ainda é extremamente machista. Nós mesmos, que trabalhamos com arte, que defendemos o movimento feminista, e somos de certa forma mais “progressistas” do que em outros setores, nos pegamos muitas vezes tendo pequenas atitudes machistas no dia a dia. Temos que lutar contra o preconceito seja ele contra a mulher, contra os negros ou qualquer minoria, a todo custo. Como no movimento de igualdade racial, que não adianta não ser racista, mas sim antirracista, o mesmo deve concorrer no movimento feminista. Os ambientes de trabalho em todos os setores econômicos ainda priorizam homens nos seus cargos de gerência e mais altos, homens ganham salários maiores, homens exercem muito mais cargos públicos de prestígio, como presidentes, governadores, congressistas, do que as mulheres... Vejo algumas pequenas mudanças nos últimos anos, mas ainda há muito o que ser feito.
Na novela Topíssima, você foi o boa gente Seo Nelson. Você gosta mais de fazer personagens assim ou prefere os violões?
Eu amo violões. Todo ator sabe que interpretar um vilão é um presente. Os vilões são persona
gens extremamente ricos. Sou apaixonado por Macbeth por exemplo. Mas na minha carreira fui muitas vezes chamado para fazer papel dos “gente boas”, dos caras engraçados, até por causa da minha pegada para comédia. Então, o que normalmente faço, é tentar colocar um pouco de humor, sarcasmo e cinismo em meus personagens que têm alguma característica que possa os levar para a vilania. Em Tropa 2, o Coronel Formoso que interpretei, era um cara meio “bundão”, em cima do muro, e que vivia recebendo as ordens dos seus superiores e acatando tudo sem contestar. Mas quando falava com seus subordinados era um cara cínico e petulante. Já em Coisa Mais Linda, aproveitei para juntar ao machismo do personagem, características como bonachão e brincalhão. Mas o Paulo Sérgio tinha traços marcantes de preconceito, de arrogância e superioridade, já que era chefe de redação de uma revista feminina, numa época em que a sociedade era extremamente machista.
Agora, você se prepara para viver o Ibate, um dos sacerdotes do rei Ibbi-sim, em Gêneses, e para isso mudou radicalmente seu visual. Conte-nos sobre esta transformação.
Tive que ficar careca e deixar a barba crescer. Quer mudar o visual de um ator completamente é deixá-lo careca. O rosto muda. Na hora que recebi a notícia, fiquei muito surpreso e apreensivo, pois sabia que uma vez careca, não só minha vida social e a forma como as pessoas me viam iam mudar, assim como no próprio meio isso teria impactos. Nosso cabelo demora a crescer, então fiquei preocupado em não pegar trabalhos depois do Gênesis. Mas duas coisas me fizeram mudar de ideia. Primeiro, percebi que para o meu personagem, um sacerdote da Mesopotâmia, tinha tudo a ver não ter cabelo, até porque pelas pesquisas dos historiadores da Record, os sacerdotes raspavam a cabeça nessa época; e depois, falando com meus agentes, eles me disseram que seria ótimo para os produtores de elenco e diretores, me verem com um visual diferente, o que geraria uma possibilidade de ser escalado para papéis diferentes dos que já tinha sido escalado até hoje. Então fiquei mais relaxado e estou até curtindo minha careca. E não podemos nos esquecer de que somos atores e estamos sujeitos a todo o tipo de transformação para deixar os personagens que interpretamos mais críveis.
Na trama, você será o sacerdote responsável pela cozinha real e está aprendendo a fazer queijos, e outros pratos típicos daquela época. Você já gostava de cozinhar? Qual prato que foi mais difícil de aprender?
Quando o diretor geral Edgard Miranda e o produtor de elenco da Record Eduardo Pradella, pessoas pelas quais tenho muito carinho e admiração, me fizeram o convite, fiquei muito feliz. Para mim, estar nessa novela já era um presente, ainda mais em tempos difíceis que estamos vivendo, em que muitos atores estão desempregados. Realmente tem sido um desafio muito gostoso fazer um sacerdote nessa novela que promete ser um marco na teledramaturgia brasileira. O Ibate, mesmo sendo religioso, é um cara muito
espirituoso, um personagem leve e que gosta muito desse lado do seu sacerdócio que é o de ser um exímio cozinheiro real. Sua cozinha é grande, tem muitos servos e está sempre preocupado em servir o que há de melhor. Tive que aprender a fazer um queijo curado, que deu trabalho, mas foi muito legal. E eu que adoro cozinhar, apesar de não saber muito, estou me deliciando.
Atualmente, você tem o canal de humor Bagaceiros. Como surgiu a ideia? Você se inspirou em outros canais de humor? Como os temas são escolhidos?
A ideia de criar o canal Bagaceiros nasceu em plena pandemia do coronavírus. Isolado em casa, mas com muitas ideias na cabeça, me juntei ao cineasta André Falcão (que divide apê comigo) e começamos a produzir pequenos vídeos e esquetes para a internet. Surgiram então alguns programas que dialogavam e faziam humor com esse tempo esquisito de isolamento que estamos vivendo. Um deles era “Pandemia Indiscreta”, inspirado no filme Janela Indiscreta de Hitchcok, onde um repórter cinematográfico vive bisbilhotando a vida de seus vizinhos e comentando o que estão fazendo em casa. Um amigo, da empresa de investimentos norte-americana Greenfoment, acreditou no projeto, e tornou a empresa sócia-investidora. Resolvemos então criar o canal no Youtube. Estamos também no facebook, Instagram e Tiktok.
Você acredita que está precisando mais de humor atualmente, principalmente, neste momento de pandemia?
Sim. É um momento em que o humor deixa as coisas mais leves, suaviza todo esse sofrimento que estamos passando por conta do coronavírus. O papel da arte nunca foi tão importante. Quantas pessoas não assistiam antes e hoje e estão vendo espetáculos de dança online, filmes, musicais, óperas, peças de teatro? O mundo está se reinventando. As artes estão se reinventando. Os profissionais também, de todas as áreas e setores da economia, sejam elas culturais ou não. E o humor e o entretenimento ajudam muito nesse momento de dor e isolamento.
Quais são seus planos pós-pandemia?
Não sabemos quando essa loucura vai acabar. Daqui a pouco pode fechar tudo de novo. Mas não podemos desanimar e temos que pensar adiante. Eu vou continuar a produzir, dirigir, atuar e escrever para o canal Bagaceiros, buscar patrocínios, fazê-lo crescer e ficar mais conhecido. Vou também remontar a minha comédia “Enrolados”, com o incentivo da Lei Aldir Blanc. Devo fazer o espetáculo “Ciúme”, de Walcyr Carrasco, uma adaptação de Otelo de Shakespeare, a convite do grande amigo e diretor Saulo Rodrigues. Estou tentando viabilizar e negociar duas séries que já estão em produção e já temos os pilotos prontos. Estarei sempre em busca de convites para papéis e produções (porque essa busca não termina nunca na nossa carreira), e assim, fazer a roda da arte e da cultura continuam a girar dentro de mim. Algo que desejo viver ainda durante muito tempo, se possível até eu ficar bem velhinho e, quem sabe, ter o privilégio de morrer trabalhando, talvez no palco, como foi o caso do nosso grande Paulo Autran.