Confira como os desenvolvedores de hotéis de grandes redes enfrentaram os desafios em 2020 e perspectivas para 2021.
Oportunidades mercadológicas
Apesar de todo o contexto da pandemia, dificuldades no mercado, ambiente de negócios desfavorável, a Accor manteve seu ritmo de desenvolvimento em todos os segmentos, de Norte a Sul do País em 2020, garante Abel Castro, Vice-presidente de Desenvolvimento de Novos Negócios Accor América do Sul. “Adicionamos em nosso portfólio 13 novos contratos em 2020, com mais 1.500 quartos. Como exemplo podemos citar a assinatura de um Novotel na cidade de Lençóis Paulistas e o primeiro ibis budget em Salvador, uma conversão da marca Connect Smart para ibis budget. Mesmo com todas as dificuldades impostas pela pandemia, com lockdowns anunciados, ordem de suspensão de obras de hotéis em construção, a Accor abriu 10 novos hotéis na América do Sul em 2020. Outras inaugurações foram postergadas para 2021, por conta do contexto que o mundo enfrenta hoje. Sabemos que vivemos uma grave crise mundial, porém é importante frisar que a tomada de decisão de investir em um hotel nunca é tomada em função de um cenário momentâneo, hotel é um investimento de longo prazo para 50, 70 ou 100 anos. Por isso, mesmo sentindo os impactos, continuamos crescendo e assinando contratos”, garante Castro.
Segundo ele, a grande oportunidade de desenvolvimento do mercado está nas conversões. “Dentre todos os ensinamentos que este período de pandemia tem trazido, foi possível notar o quanto as marcas são relevantes neste segmento. Com a reabertura, temos visto que a decisão de viajar não
dos hotéis hoje ainda são independentes. Por isso, existe um mercado enorme, com potencial muito grande para conversões, que nada mais é do que colocar uma marca em um hotel independente. A Accor tem hoje um portfólio de 393 hotéis e 62 mil quartos na América do Sul e mais 97 hotéis e 12 mil quartos no pipeline da região”, lembra Castro.
Para ele, o grande gargalo para se construir novos hotéis no brasil continua sendo o financiamento. “Temos hoje no mercado opções restritas e inadequadas por serem financiamentos de curto prazo. Apesar da queda na taxa de juros, os financiamentos de longo prazo dos bancos privados têm taxas ainda proibitivas. “Mesmo com essas adversidades, a Accor continua acreditando no desenvolvimento de hotéis nos segmentos de luxo e lifestyle no Brasil. Anunciamos recentemente uma parceria com a Ennismore para a formação de uma operadora líder mundial de lifestyle no setor de hospitalidade, com foco em um dos segmentos de crescimento mais rápido da indústria. Com isso temos apenas nesse início dessa joint venture um portfólio mundial de 12 marcas, com 73 hotéis em operação; um pipeline comprometido de mais de 110 hotéis; outros 70 hotéis em negociação ativa e mais de 150 restaurantes e bares”, concluiu Castro.
Desenvolvendo parcerias
Ricardo Bluvol, Vice-presidente de Desenvolvimento da AHI - Atlantica Hotel Internacional revela que o grande foco da administradora multimarcas em 2020 foi desenvolver parcerias e criar novas oportunidades de receitas para os hotéis. “A empresa deu continuidade ao seu plano de expansão, como por exemplo, com a nova parceria com a Bristol Hotels de Belo Horizonte, anunciada em dezembro, e inclusive, com a sua entrada num novo modelo de negócios, o Atlantica Residences. A primeira parceira desse projeto é a construtora Mitre Realty. Clientes que adquiriram estúdios e apartamentos de um dormitório em condomínios da Mitre em São Paulo, poderão contratar o serviço da Atlantica Residences, segmento da AHI que se responsabilizará por toda a comercialização, manutenção, decoração e administração da unidade. Ou seja, a AHI será responsável por todo o processo de gestão locação propriamente dita, gestão mensal junto ao locatário, decoração, vistoria pós locação, manutenção, etc. Mensalmente, o proprietário do imóvel receberá um extrato de prestação de contas, com todo o serviço executado pela companhia em sua unidade”, explica Bluvol.
E ele já adianta que no primeiro semestre de 2021 a AHI já deve ter os primeiros contratos resultantes desse produto, e deve ampliar essa oferta com outros players para outras localidades do País. “Além disso, temos um pipeline de contratos de novos hotéis que frutificará ao longo do ano. Parte desses hotéis eram projetos previstos para 2020, mas, que tiveram sua abertura postergada para esse ano. Continuaremos apostando na conversão de hotéis independentes – que hoje ainda representam 60% do setor. Temos 22 bandeiras. Então conseguimos equilibrar o perfil de cada empreendimento a uma de nossas marcas. Atualmente, a Atlantica Hotels tem 135 hotéis – e, apesar da pandemia, mantemos o objetivo de chegar a um total entre 240 e 250 empreendimentos em cinco anos. Com 54 novos empreendimentos com contratos já assinados, queremos acelerar as conversões para conseguir cumprir a meta. Temos realizado entre 9 e 10 conversões por ano. Temos foco na cobertura nacional, com projetos tanto nas capitais dos estados como também nas principais cidades do interior, por meio de nosso projeto de franquias”, concluiu Bluvol.
Aposta em franquias
Mesmo 2020 sendo um ano desafiador, Maria Carolina Pinheiro, Vice-presidente de Desenvolvimento da Wyndham Hotels & Resorts na América Latina revela que conseguiu assinar 29 contratos na região e alguns deles no Brasil. “Apesar dos resultados positivos, a equipe precisou aprender e se reinventar para fazer novos negócios, sabemos que não foi fácil, mas ao mesmo tempo foi muito gratificante, pois mesmo com toda dificuldade que todos enfrentamos, a equipe se manteve persistente, confiante e focada nos resultados positivos, aprendemos muito e hoje sabemos que é possível crescer mesmo em situações tão adversas. Como responsável pela área de novos negócios da Wyndham, pude perceber que o interesse de investidores pelas franquias aumentou, isso muito provavelmente se deve a credibilidade que as marcas possuem em seus mercados. Falando de hotelaria, hoje os hóspedes procuram uma marca a qual eles possam confiar mais do que nunca, onde lhe garanta cumprimento de rígidos protocolos de segurança e higiene”, lembra Maria Carolina.
Ela enxerga a retomada da hotelaria brasileira de forma gradual, tanto em hotéis de lazer quanto hotéis de negócios, esse segundo um pouco mais lento. “Acredito que essa retomada mais acelerada nos hotéis de lazer em comparado com os hotéis de negócios se deve ao longo período de confinamento doméstico em que as famílias. Elas precisaram e ainda precisam cumprir, muitos sentiram a necessidade de aliviar o estresse do confinamento, oferecendo um momento de descanso a família. Já os hotéis com perfil business tem sua retomada mais lenta, mas mesmo assim já vemos níveis de ocupação bastante significativos. No Wyndham São Paulo Berrini, por exemplo, no mês de novembro passou a marca de 40% de ocupação.
Mesmo vindo de um ano com muitas dificuldades e que certamente algumas delas ainda irão nos acompanhar em 2021 acredito que também surgirão oportunidades, e certamente estaremos abertos e de olho em todas elas”, destaca Maria Carolina. Ela lembra que a Wyndham é pioneira e a maior empresa do mundo em franquias de hotéis, sendo 90% do portfólio é sob esse modelo de negócio e esse continuará sendo nosso principal modelo de negócio. “Mesmo assim, nunca deixamos de lado as oportunidades que surgem, ou seja, os projetos novos, hotéis em construção e em alguns casos também o gerenciamento da propriedade pela própria Wyndham são fundamentais para ajudar este crescimento. E para isso, temos um extenso portfólio de 20 marcas, (destas 15 estão no Brasil) que contempla desde a categoria econômica até a categoria upper upscale que nos permite crescer mais rapidamente. Mas nosso foco principal é concentrar na presença destas marcas já existentes, com o objetivo de consolidá-las em seus mercados. Mas devemos olhar o futuro e pensar nas oportunidades em desenvolver novas marcas na região”, conclui Maria Carolina.
Prudência em relação a expansão
Essa foi a escolha da Bourbon Hotéis & Resorts, conforme destaca seu Diretor de Operações e Desenvolvimento, Igor Camaratta. Ao longo de 2020, a Rede deu mais ênfase aos negócios já existentes, fortalecendo o relacionamento com investidores e atuando muito na parceria e na retomada dos empreendimentos. “Entendemos que com isso fizemos a escolha de valorizar os contratos e as parcerias já existentes até o momento. A Bourbon é a administradora hoteleira a mais tempo no mercado e nunca perdeu um contrato de administração. Em relação às prospecções e por conta da nossa estratégia, trabalhamos com a assinatura de algumas cartas de intenção e que
estão se traduzindo em contratos assinados agora no início. Fomos muito transparentes com os novos parceiros, no sentido de atendê-los apenas a partir do final de 2020 e início de 2021”, disse Camaratta.
De acordo com ele, ainda existe muito espaço no Brasil para desenvolvimento de novos produtos. “Obviamente algumas regiões permitem isso de forma mais agressiva e outras menos, pois já estão saturadas, como Belo Horizonte e Porto Alegre por exemplo. Ao mesmo tempo, praças como essa, possibilitam conversões, o que também sempre é uma janela de oportunidades. O mercado de conversões tende a aumentar cada vez mais, inclusive em função ao alto número de hotéis independentes que temos no Brasil. Outro ponto de destaque é em relação a taxa de juros Selic que está em patamares mais baixos do que nunca, fazendo com o que o negócio imobiliário volte a ser atrativo, sendo esse também um bom indicador de possíveis novos negócios hoteleiros surgindo”, avalia.
A rede Bourbon possui hotéis próprios, administrados e franquias e segundo Camaratta, os esforços nesse ano de 2021 estarão mais focados no modelo de administração, seja através de new building ou conversões e também com o modelo de uso de marca com a bandeira Rio hotel by Bourbon. “Nosso pipe line conta com seis novos empreendimentos, sendo quatro new building e dois conversões, fora diversas negociações em andamento que devem se concretizar nos próximos meses e em breve serão anunciadas”, adianta Camaratta.
Em relação as perspectivas do setor nos próximos meses, Camaratta lembra que a hotelaria está passando por um momento de transformação, quebrando paradigmas e rompendo muitas barreiras que antes seriam inimagináveis. “A verdade é que toda hotelaria está se reinventando e se ajustando dentro de suas possibilidades. Acreditamos que o turismo interno voltado para o lazer sairá muito fortalecido após a pandemia e que haverá um retorno do segmento de MICE que ficou represado durante todo ano de 2020 e 2021. Eventos sociais, convenções e feiras que foram adiadas precisarão acontecer e entendo que poderá haver uma corrida positiva para o setor. Para Bourbon, o posicionamento continuará sendo em pautado na qualidade dos serviços e produtos e na sua essência hoteleira que nos trouxe até aqui”, concluiu.
Trabalhando a todo vapor
Mesmo com os percalços ocasionados na economia pela pandemia da COVID-19, o departamento de desenvolvimento da Slaviero Hotéis esteve trabalhando a todo vapor. “Fechamos cinco novos contratos neste período, sendo que três que já estão em operação e dois em fase de implantação. Apesar da pandemia ter mudado a rotina em nosso setor, a área de desenvolvimento e implantação da Slaviero está em fase de transição, com novos produtos surgindo e precisamos nos adequar a esta demanda, ofertando novas possibilidades aos nossos parceiros investidores. Este processo deverá ser lento, uma vez que ainda estamos em momentos
de instabilidade”, revela Eraldo Santanna, Diretor de Operações da Slaviero Hotéis. Ele conclui dizendo que a consolidação de novos modelos de negócios no setor, além de projetos mais focados em tecnologia será a grande tendência.
Crescimento em tempos de pandemia
Mesmo com o ano desafiador que provocou a queda da receita consolidada em 2020 em 58% menor que a registrada em 2019, a Nobile conseguiu assinar cinco novos contratos, sendo quatro no Brasil e um no Uruguai. “A Nobile está completando 13 anos de existência e seguiu crescendo o seu portfólio, mesmo em tempos de crise. Nosso lema é sobreviver, crescer e perpetuar. Atualmente, contamos com mais de 40 operações, temos 16 hotéis em pipeline, sendo 12 no Brasil e quatro na América Latina. Estão surgindo mais oportunidades para conversão do que novos projetos e lançamos a modalidade licenciamento de uso de marca aos hotéis independentes. Com isso a Nobile entrega sua marca, know-how, PMS, channel manager, força de vendas e canais de distribuição, incluindo o GDS Global da rede”, menciona Roberto Bertino, Fundador & Presidente do Grupo Nobile.
Ele enfatiza que a Nobile está enfrentando essa crise com muita resiliência e determinação. “Fortalecemos ainda mais o relacionamento com os nossos investidores, colaboradores e fornecedores. As experiências vivenciadas e o aprendizado nos fortaleceram enquanto equipe e instituição. Na Nobile colocamos as pessoas no centro da estratégia da companhia e com elas seguiremos a nossa marcha das 20 milhas ao dia. Acredito que com a vacina o ambiente econômico melhorará substancialmente, movimentando toda a cadeia produtiva do turismo, incluindo a hotelaria. A Nobile seguirá focada em rentabilizar as operações hoteleiras de seu portfólio, fazendo mais com menos e seguindo com seu plano de expansão no Brasil e América Latina com contratos de gestão ou licenciamento de uso de marca”, concluiu Bertino.