HOTELARIA NORDESTINA
Manoel Linhares acaba de assumir a presidência da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional). Proprietário do Fortaleza Mar Hotel, localizado na capital cearense, o hoteleiro é engajado no setor e atua em outras entidades, como a Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA). Até o final do ano passado, foi vice-presidente da ABIH Nacional, quando era presidida por Dilson Fonseca. Uma de suas prioridades é aproximar as ABIHs estaduais com a nacional.
HOTELNEWS: Você acaba de assumir a presidência da ABIH Nacional. Quais são as prioridades de seu mandato?
MANOEL LINHARES: Quero aproximar as ABIHs estaduais da nacional. Para isso, visitarei todas as 27 regionais. Vou aproveitar a ocasião para estreitar o relacionamento com outras entidades, como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), sindicatos, conselhos estaduais, e também divulgar o Conotel, que ocorre em maio, em Fortaleza (CE), em paralelo à feira Equipotel.
HN: Quais são os principais desafios da entidade atualmente?
ML: O maior desafio são as plataformas de hospedagem compartilhada. Muitos hotéis estão fechando atualmente por causa delas. Queremos poder igualitário.
HN: Como a associação pode ajudar a hotelaria brasileira?
ML: Por meio de parcerias. Queremos entender o que cada hoteleiro está precisando, suas necessidades e dificuldades no âmbito municipal, estadual e federal, e trazer as demandas para a ABIH Nacional. Um dos maiores gargalos nas ABIHs estaduais se chama qualificação. Mas isso pode ser corrigido em união com o Sebrae, eles estão de braços abertos para recebê-los.
HN: Quais são os benefícios de se associar à ABIH?
ML: Os hoteleiros não se associam à ABIH Nacional, mas sim à regional de seu estado. Vou dar o exemplo de Pernambuco. Lá, quem é associado da ABIH se beneficia com compras coletivas. Os hoteleiros se reúnem e compram em atacado. Seguindo essa linha, uma das metas da ABIH Nacional é criar uma central de compras, se concentrando, inicialmente, em cinco itens e depois expandir.
HN: Qual o intuito da parceria com hotéis de Portugal?
ML: Troca de experiências, de qualificação de mão de obra. Em Portugal, hoje, está faltando mão de obra. Diferente do que acontece no Brasil, onde está sobrando. Eles virão participar do Conotel agora em maio, e, em novembro, iremos para Portugal participar de um congresso, para falar sobre a nossa hotelaria. Enquanto isso, iremos trocar experiências e inovações. Também pensamos em realizar intercâmbio de mão de obra para qualificação, enviar brasileiros para treinarem no país europeu. Além de Portugal, pretendo realizar iniciativas semelhantes na França e em Amsterdã, nos Países Baixos.
HN: O Conotel foi realizado nos últimos anos em São Paulo (SP) e agora será itinerante. Por que esta mudança?
ML: O objetivo é aproximar as ABIHs estaduais com a nacional, dando oportunidade para o pequeno hoteleiro participar, assistir as palestras, e também realizar suas compras, já que teremos uma parceria com a Equipotel, que terá uma versão itinerante para acompanhar o congresso. Ainda não fechamos a programação definitiva de conteúdos, mas estamos ouvindo as ABIHs regionais e também negociando com nomes internacionais para se apresentarem no evento. Mas o calendário social já está montado. Depois das palestras do primeiro dia, teremos um jantar/coquetel para 1.500 pessoas. No segundo dia pela manhã, os acompanhantes dos hoteleiros irão conhecer pontos turísticos de Fortaleza. A noite serviremos um jantar sentado para mil pessoas. No terceiro dia, terminaremos com um jantar patrocinado pelo próximo destino do congresso, Goiânia (GO). O quarto dia será no Beach Park.
HN: Vocês têm planos de investir mais em pesquisas estatísticas para entender melhor o mercado hoteleiro?
ML: Com certeza, pesquisa é tudo. Se você não sabe quem você é, não saberá onde quer chegar. Em nosso planejamento está prevista uma equipe para fazer um levantamento para saber quantos hotéis somos, quantos empregos geramos, quanto pagamos de impostos. Depois, vamos trabalhar em cima disso. Planejamos, por exemplo, consultar as ABIHs regionais toda semana para saber como está a ocupação. No Ceará, semanalmente os hotéis ligam para a ABIH estadual para dizer como está a ocupação. Outra meta é trabalhar em conjunto com outras entidades. Eu já pertenço ao conselho da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e agora farei parte do conselho do Ministério do Turismo. Isso, certamente, facilitará para ouvir o que diz o setor.
HN: Como você avalia o trabalho do Ministério do Turismo e da Embratur?
ML: No Peru o orçamento do turismo é de 100 milhões de dólares, na Argentina, de 80 milhões, e o nosso, de 20 milhões. O que faremos com essa verba em um país tão grande
quanto o Brasil? Quando a Embratur passar a ser agência, esse recurso aumentará e poderá ser realocado de forma melhor. As entidades, inclusive a ABIH, serão consultadas nesse processo. Está faltando dar mais valor a essa indústria. Cancun recebe 22 milhões de turistas por ano. Nós, com Amazônia, Nordeste, Sudeste e Sul, cada um com suas belezas, recebemos menos. Algo está errado, não estamos sabendo trabalhar. Precisamos abrir o capital para as empresas aéreas estrangeiras e mudar a lei que as rege. Os bilhetes aéreos estão custando uma fortuna. Há dois anos eu fui a Maceió (AL) participar de um evento para desenvolvimento do turismo regional. Saí de Fortaleza de manhã, meu voo veio para São Paulo e cheguei em Maceió no final da tarde. Aí perguntei no evento. “Como vocês querem falar sobre turismo regional se não temos nem malha aérea?”. O Brasil está todo errado. Enquanto países de primeiro mundo trabalham as ferrovias, onde os turistas podem se locomover apreciando as belezas naturais, no Brasil eles arrancaram os trilhos para priorizar as rodovias. O visto eletrônico foi uma medida muito importante. Antes, os turistas norte-americanos tinham que se deslocar ao consulado brasileiro, pagar uma taxa de 160 dólares - agora são 40 dólares e fica pronto em 72 horas. Isso facilita muito. Temos que abrir para a China o visto eletrônico. Está faltando desburocratizar. Atualmente, o Brasil tem
15 milhões de desempregados. Nossos governantes precisam olhar para a indústria do turismo, pois ela gera uma renda que fica concentrada na mão de meia dúzia de empresários. O taxista, o artesão, os restaurantes, todos ganham com essa indústria.
HN: De que forma a nova gestão da entidade pretende cativar a atenção da Embratur e do Ministério do Turismo para a hotelaria brasileira?
ML: Estando sempre presente, acompanhando os Projetos de Lei, inclusive em conjunto com outras entidades. Eu quero trabalhar junto com a CNC, com a Associação Brasileira de Resorts (ABR), com a Federação Brasileira de Alimentação e Hospedagem (FBHA), com o Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), com os parques temáticos. Na Câmara dos Deputados existe hoje mais de 450
“O nosso maior sócio é o governo. Imagina pagar quase 40% de impostos? Temos que parar de falar somente de Airbnb”
projetos relacionados com o turismo. E, muitas vezes, há deputados que não sabem nem o que estão votando. Eu acredito que, antes de haver uma votação, eles deveriam ouvir as entidades interessadas, fazer uma audiência aberta. Um exemplo é a lei de acessibilidade. Queriam passar para 10% o número de quartos adaptados. Imagina pegar um hotel antigo, de 50 anos. É preciso mudar toda a estrutura, as tubulações, para adaptar o quarto. Agora está sendo trabalhado para deixar nos 5% e dentro desse número trabalharmos as adaptações para deficientes físicos, visuais - que nesse caso pouca coisa muda - , para obesos, com camas maiores. Jogar para 10% seria inviável, é quebrar a hotelaria. Além de ser presidente da ABIH sou vice-presidente da FBHA, e a federação tem um trabalho muito grande dentro do Senado e da Câmara, acompanhando as votações e mostrando para os deputados os impactos das leis na hotelaria, nos parques temáticos.
HN: Como você avalia a atual situação da hotelaria no Brasil e como a compara com outros países da América do Sul e mundial?
ML: Nós não deixamos nada a desejar à hotelaria internacional. O setor no Brasil é moderno, e capaz de hospedar qualquer um. Recebemos os dois maiores eventos mundiais, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Além disso, hoje o Brasil está olhando mais para o turismo de luxo, nossos estados têm hotéis para esse público. A diária em uma pousada em Jericoacoara na alta temporada pode chegar a R$3 mil, por exemplo.
HN: O que a ABIH tem feito para minimizar o problema do turismo sexual?
ML: A ABIH nunca aceitou o turismo sexual. Quando um hóspede chega a um hotel acompanhado de uma criança, ele precisa mostrar os documentos dela. Isso é imprescindível. O hoteleiro tem consciência de que se ele não seguir essas leis ele pode ser processado, preso. Nós não aceitamos hotéis que fazem a intermediação para a contratação de acompanhantes. Tentamos sempre conscientizar os empresários quanto a isso. Eu trabalho com o Sindicato de Hotéis de Fortaleza e lá faço muitas parcerias com o Ministério para a defesa das crianças contra prostituição infantil.
HN: O Airbnb anunciou recentemente a abertura de sua plataforma para a inserção de hotéis, com a cobrança de taxas de comissão em torno de 5%. Qual é a sua opinião sobre esse tema?
ML: Eu acho que o hoteleiro que entrar em uma plataforma dessas está contra a hotelaria. O empresário do setor sério não vai aceitar isso. Afinal, a ABIH Nacional está trabalhando para regulamentar o Airbnb e essas plataformas, para pagarem impostos, e quem entrar estará contra o nosso trabalho. Ao regulamentá-las será o primeiro passo para melhorar a situação da hotelaria brasileira, que, além de tudo, sofre com a crise. Quando o país entra em crise, o turista sente imediatamente. O de lazer deixa de viajar. As empresas não mandam mais os executivos, resolvem tudo via conferências. Quando o país sai da crise, eles são os primeiros a voltar.
HN: O que os hoteleiros estão fazendo de concreto para não perder espaço para o Airbnb?
ML: O hoteleiro que quiser continuar no mercado precisa estar sempre criando. Estamos modernizando nossos hotéis, dando se- gurança ao turista. Quando ele chega a um hotel é obrigado a fazer o check-in e dizer de onde veio, para onde vai. No caso do Airbnb, podem se hospedar pessoas com intenções ruins, como prostituição infantil. O hoteleiro é obrigado a tirar todas as licenças. O Airbnb não tem isso. Queremos juros menores para financiamentos em hotéis, incentivos. Pretendo trabalhar para baixar a nossa carga tributária. Eu defendo o imposto único, como ocorre em outros países. O nosso maior sócio é o governo. Imagina pagar quase 40% de impostos?
HN: Qual a prática você tem em seu hotel e que, se pudesse, implantaria em todos os empreendimentos hoteleiros do Brasil?
ML: Hoje, o hoteleiro, como qualquer empresário, precisa ser amigo de seus funcionários, ser próximo deles, prestigiando-os. Eu faço isso com meus colaboradores.
“O maior desafio são as plataformas de hospedagem compartilhadas. Muitos hotéis estão fechando atualmente por causa delas”