MATÉRIA DE CAPA
De portas abertas
Se para você um hotel é meramente um local para dormir, esqueça essa ideia. Atualmente, empreendimentos hoteleiros começaram a perceber os benefícios de se inserirem na comunidade, abrindo suas portas para pessoas que não estão hospedadas utilizarem suas áreas comuns para trabalhar e fazer pequenas reuniões, por exemplo. O lobby não é mais somente um espaço para fazer o check-in e o check-out e, algumas vezes, chega até mesmo a ser o coração da propriedade.
De acordo com o relatório Megatrends Defining Travel in 2018 da Skift, plataforma de inteligência de mercado de viagens, uma das grandes vantagens dos hotéis é poder oferecer um verdadeiro senso de comunidade e serem um ponto de encontro para os moradores locais e os hóspedes. Segundo a publicação, potencializar o alcance de seus serviços é, inclusive, uma resposta para se diferenciar do Airbnb, já que muitas acomodações da plataforma não conseguem entregá-los da mesma forma.
Outra questão apontada na tendência são as áreas de uso misto “2.0”. Enquanto anteriormente hotéis e escritórios dividiam o mesmo prédio em diferentes andares, hoje eles foram levados
para dentro dos empreendimentos hoteleiros. Isso pode ser observado, por exemplo, em lobbies e restaurantes que servem como espaços informais de coworking ou que reservam um local para essa finalidade: trabalhar e poder trocar experiências com outras pessoas.
“Diversos hotéis já entenderam que o lobby virou um ambiente de convívio e oferecem locais para trabalhar ou cafés que estimulam pequenas reuniões”, exemplifica Tricia Neves, consultora focada em negócios hoteleiros e sócia-diretora da Mapie. Segundo ela, além do ganho financeiro, com essas ações o empreendimento agrada clientes de outras localidades que têm interesse em estar onde os moradores locais estão. “Se o hotel faz parte da comunidade, e é frequentado por moradores, fica atrativo para o viajante. O Airbnb não ganha muitos pontos por permitir que o turista ‘viva como um local’? Esta é uma oportunidade para a hotelaria fazer o mesmo”. Compartilhamento
Numa época em que “compartilhar” tornou-se uma palavra-chave que rege muitas sociedades, os espaços de coworking ganham cada vez mais visibilidade. Esses locais são uma espécie de escritório compartilhado, mas esse conceito vai além do uso dos equipamentos. Seu público busca também trocar ideias e serviços com os demais usuários. “As pessoas querem dividir. Desta forma, os hotéis começaram a olhar para os espaços de coworking e serviços de hospedagem compartilhada, como os hostels, tentando incorporá-los na hotelaria tradicional”, acredita Aline Silva, especialista em hospitalidade.
O conceito ainda não é comum no Brasil, mas Aline vê isso como uma oportunidade. “Um hotel pode criar um coworking ou um café para esta finalidade, onde as pessoas podem usufruir com segurança”, aponta.
Porém, a especialista adianta que, caso resolva apostar nessa tendência, é necessário oferecer uma estrutura de qualidade, com bons equipamentos e internet rápida. Ela sugere a possibilidade de usar parcerias para montá-lo. “Um hotel que esteja localizado em São Paulo (SP) poderia criar um espaço em parceria com o Google, que tem sede na cidade”, diz.
O Pestana Rio Atlântica, localizado na capital fluminense, decidiu sair na frente e investiu nessa tendência, em uma parceria com a CoWorking Town, empresa que tem expertise no setor. De acordo com Paulo Dias, diretor de operações da rede Pestana, a ideia surgiu após identificarem uma demanda para este tipo de serviço.
“As pessoas querem unir trabalho com entretenimento, por isso oferecemos a possibilidade de coworking e coliving, ou seja, elas podem trabalhar na sala ou no deck do bar, por exemplo, mesmo não estando hospedadas – basta fazer uma inscrição no novo espaço”, afirma Dias.
O local conta com pequenas salas de reunião e escritórios, que podem ser tanto alugados por uma hora como por períodos mais longos, como um ano. Além disso, há internet, água, café e micro-ondas, além de equipamentos como impressoras.