50 artigos na hotelnews
Cristiano Vasques
Esse artigo é, entre outros dessa edição da hotelnews, um pouco especial. Não que seja mais relevante, brilhante, curioso ou informativo que os demais. Na verdade, a razão é pessoal: trata-se do 50º artigo desse colunista na revista.
Esse não é um número cabalístico ou de importância especial, mas faz refletir sobre o tempo que se passou desde a primeira coluna aqui publicada, já no longínquo ano de 2009. Ou seja: esse é o décimo ano desse espaço de discussão e reflexão sobre os aspectos financeiros, econômicos e mercadológicos da hotelaria.
Desde o primeiro artigo, que introduzia a linha de hotelaria como investimento, os temas abordados são o retrato da ascensão, queda e retomada do mercado hoteleiro brasileiro: financiamentos bancários, obstáculos ao desenvolvimento, queda de juros, reformas e reposicionamento, Copa, CVM, Olimpíadas, orçamento, choque de oferta, crise, ajustes, conversões, fundo de reservas e retomada. O cardápio é tão variado quanto foram os ciclos que vivemos.
Verdade que esses aspectos costumam ser vistos pelos hoteleiros como o “lado B” da área, aqueles que quase ninguém queria se envolver ou tinha vocação quando começou a estudar ou trabalhar no setor. Sendo franco, a imensa maioria dos hoteleiros que conheço têm como sua mais clara vocação a capacidade inata e invejável de ser um grande anfitrião. Creio que foi essa característica das pessoas e do negócio que me encantou e me prendeu à área.
Talvez o maior exemplo disso tenha ocorrido há alguns anos, em Buenos Aires (Argentina). Estava fazendo uma visita comercial à cidade, tentando expandir as atividades da empresa. Preparando a viagem, tive a felicidade de conseguir uma reunião com o proprietário do Alvear Palace, um dos mais tradicionais e icônicos hotéis da América do Sul.
Estava acompanhado de uma colega portenha, que já o conhecia pessoalmente, de alguma outra ocasião. Ao adentrar o lobby do hotel, alguns minutos antes do horário marcado, percebi um senhor se levantando da poltrona ao lado da recepção. Ele se postou em pé, apresentando uma postura receptiva e altiva. Abriu um sorriso e caminhou em nossa direção com os braços abertos. Nos tratou pelos nossos nomes, se apresentou e nos conduziu ao L’Orangerie, o salão de chá do hotel.
A reunião – na verdade um bate-papo informal sobre seus hotéis (ele também é o proprietário do Llao Llao de Bariloche), o mercado hoteleiro e as agruras político-econômicas argentinas – se deu de maneira leve e graciosa. Fomos interrompidos algumas vezes por habitués do hotel que, de forma muito discreta e cortês, nos pediam licença para cumprimentar nosso anfitrião: ele não era apenas o proprietário, fazia da dedicação ao empreendimento e aos hóspedes sua forma de viver.
Naquele momento, mesmo tendo conhecido excelentes anfitriões ao longo de toda minha vida profissional, pude ver a essência dessa profissão em sua plenitude. Eu, que já me sentia grato por ter tido a oportunidade de ser recebido por aquela relevante figura, fiquei encantado com a leveza, a humildade e a gentileza de David Sutton.
Que essa aura de simpatia e hospitalidade se mantenha em cada um de nós, a despeito dos desafios e da dureza dos aspectos financeiro e mercadológico da hotelaria.
Tem curiosidade pelo impacto das megatendências e tecnologias disruptivas no setor de hospitalidade? Então é só seguir o Meteorologista Hoteleiro no Twitter: @Meteoroteleiro.