A MOEDA DO “SUR-REAL”
Soou como a mais nova piada econômica produzida por delírios de governantes que não enxergam nada mais à frente do que o oportunismo político. Com o objetivo de dar um aceno ao parceiro argentino Mauricio Macri e estimular a sua campanha eleitoral, o mandatário brasileiro tirou dos escaninhos embolorados que remontam a origem do Mercosul a malfadada ideia de uma moeda única a servir para todos as nações do bloco. De tão insustentável seria a medida que ela nem foi considerada seriamente no meio dos especialistas, descrita por eles como uma aventura inviável sem qualquer sustentação técnica. Assim ficou combinado: Bolsonaro fez seu jogo de cena para a plateia, recebeu os tradicionais tapinhas nas costas do parceiro Macri, posou para fotos e o assunto encerrou ali. É elementar que uma união monetária desse calibre não tenha a menor chance de ir adiante pela disparidade de condições, em todos os sentidos, entre os países envolvidos. Tome-se, por exemplo, o fato de o Brasil contar hoje com reservas da ordem de US$ 380 bilhões, enquanto a Argentina, em situação pré-falimentar, dependa de empréstimos do FMI. Como equalizar câmbios nessas condições? As desproporções no campo da inflação, dos juros, do PIB e outras mais seriam impeditivos adicionais para uma convergência dessa natureza. O delírio ainda encontra entraves na multiplicidade de bases de impostos dos diversos envolvidos e na falta de entendimento mínimo sobre como seguir com o desenvolvimento do bloco. Uma pergunta básica: essa moeda, que chegou a receber a alcunha debochada de “Sur-Real”, pelo surrealismo nela embutido, teria lastro em que tipo de riqueza? Commodities brasileiras? Petróleo venezuelano? As dúvidas se multiplicam, até porque a integração de economias e de leis tributárias – pressupostos para a união monetária – ainda está longe do ideal. Há diferenças monumentais que colocam os vizinhos em