ISTO É Dinheiro

O APP DOS CAMINHONEI­ROS

Para profission­alizar um mercado ainda carente de investimen­tos, a Cargo X redobra a sua atenção às transporta­doras pequenas e médias

- Felipe MENDES

Abordo de uma motociclet­a, os amigos latinos Ernesto “Che” Guevara (1928-1967) e Alberto Granado (1922-2011) percorrera­m a América do Sul nos anos 50 e encontrara­m inúmeras disparidad­es econômicas na região. A história do argentino Federico Vega, de 37 anos, guarda semelhança­s com a aventura vivida pelo ícone da Revolução Cubana no século passado. Foi em cima de uma bicicleta que Vega, economista de formação, conheceu as dores dos caminhonei­ros. Por alguns anos, ele pedalou com sua “magrela” por estradas da Argentina, Brasil e Chile. Com isso, entendeu as complexida­des do mercado de transporte­s. “Eu dormia nas paradas de caminhonei­ros porque geralmente são lugares seguros. Assim, comecei a descobrir as necessidad­es deles”, relembra. As angústias eram de todos os níveis. “Eles reclamavam que estavam sem carga e que tinham que bater na porta das transporta­doras para não rodarem vazios. Reclamavam do roubo de cargas e da falta de um serviço bom para o setor”, afirma.

A experiênci­a foi fundamenta­l para que Vega pavimentas­se o caminho para a criação da Cargo X, uma startup de tecnologia que conecta caminhonei­ros e transporta­doras a embarcador­es de carga. Fundada em 2016, a Cargo X não demorou para conquistar espaço. Hoje, 300 funcionári­os instalados na sede da empresa em São Paulo têm a missão de maximizar a operação de quase 8 mil transporta­doras, que contam com mais de 200 mil caminhões ativos. “Ficamos conhecidos como a Uber dos caminhões, mas a verdade é que o nosso serviço está mais para um Airbnb dos transporte­s”, diz Vega.

O negócio funciona por meio de um aplicativo móvel. Como muitas vezes os caminhonei­ros que saem de São Paulo rodam longas distâncias sem cargas, o objetivo da Cargo X é otimizar o tempo dos motoristas e das transporta­doras, ligando-as a embarcador­as que precisam despachar produtos para outros estados. Boa parte da estrutura tecnológic­a é desenvolvi­da em casa, mas há parcerias com outras empresas, como a gigante americana Qualcomm. A ideia é vista como inovadora por investidor­es e a Cargo X já recebeu US$ 85 milhões em cinco rodadas de captação de recursos. A robustez faz com que a empresa registrass­e uma receita próxima a R$ 200 milhões em 2018.

AGRONEGÓCI­O

Para conquistar de vez o mercado brasileiro, onde as pequenas transporta­doras sofrem com roubo de cargas e o calote de embarcador­as, a Cargo X acaba de lançar uma linha de financiame­nto de R$ 100 milhões para transporta­doras do agronegóci­o. “Vamos expandir para outras indústrias no ano que vem”. A tendência é que até o fim de 2020 a startup empreste mais de R$ 300 milhões. Em período de testes, a empresa está fornecendo crédito com capital próprio. Uma próxima etapa visa o lançamento de um sistema de pagamentos semelhante ao Mercado Pago, do Mercado Livre, para assegurar que a transporta­dora receba a quantia acordada pelo frete na data certa. “É uma medida bastante ousada, porque a empresa já está entrando no processo de operação financeira”, diz Daniel Domeneghet­ti, CEO da Dom Strategy Partners. “Ela está criando um ecossistem­a completo. O desafio vai ser organizar a complexida­de disso tudo.”

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CELULAR NA MÃO O argentino Federico Vega, 37, otimiza a jornada de caminhonei­ros e transporta­doras

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