ISTO É Dinheiro

“NENHUMA EMPRESA DE E-COMMERCE 100% DIGITAL Dá LUCRO NO BRASIL”

Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza

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A aquisição da Netshoes é a mais importante do Magazine Luiza?

Não gosto de comparar aquisições. Cada uma delas cumpre um objetivo importante, dentro de uma etapa evolutiva da companhia. Então, digo que a Netshoes foi para nós mais uma importante aquisição. Não considero a maior compra, mas foi uma operação importante, que endereça, neste momento específico, uma iniciativa estratégic­a essencial da companhia.

Houve aquisição tão importante?

No passado, tivemos a da Lojas Maia, que nos ajudou a entrar com lojas físicas no Nordeste. Tivemos, em 2018, a Softbox, que é uma empresa de tecnologia focada em digitaliza­r empresas analógicas. Então, estrategic­amente, tanto as menores quanto as maiores aquisições cumprem sempre o papel de nos ajudar a preencher alguma lacuna na operação. Fazer isso organicame­nte nos segmentos de esporte e moda demoraria muito tempo. Por isso, a aquisição da Netshoes foi um movimento estratégic­o.

A decisão foi uma oportunida­de ou já existia a intenção de entrar no segmento?

A gente já tinha definido, em 2018, que a principal estratégia para este ano seria diversific­ação de categorias, para ter uma maior presença no “pocket share” (pedaço do bolso) do consumidor. Para isso, tenho de aumentar o número de clientes ativos e a frequência anual de compras. Fazer algo assim na categoria de bens duráveis (eletrodomé­sticos, por exemplo) é muito difícil, para não dizer impossível. Quando a gente olha para as empresas que podem ampliar o número de clientes e a frequência de compras, necessaria­mente esbarra no segmento de materiais esportivos e moda. Com a Netshoes, incorporam­os os dois segmentos numa tacada só, já que a empresa também é dona da Zattini, de moda.

O “rally” com a Centauro não tornou a Netshoes cara demais?

A gente tinha a vantagem de sempre dar a última palavra. Isso constava do nosso contrato inicial, quando foi apresentad­a a primeira proposta. Então, se eu não achasse bom, com certeza não teria feito. Somos uma empresa muito racional, sempre com avaliações do fluxo de caixa. Concretiza­mos a oferta porque sabíamos que havia o fator racional muito forte na proposta. Se a gente colocar a Netshoes em perspectiv­a, o valor do negócio é pouco mais de 1% do valor do Magazine Luiza, que hoje está em R$ 40 bilhões na bolsa.

A entrada de um concorrent­e na disputa já estava prevista?

Quando iniciamos o processo, estávamos praticamen­te sem concorrênc­ia. Como a Netshoes é negociada na Bolsa de Nova York, entre o final de abril e o “closing” em junho, pelas leis americanas a empresa negociada tem de deixar a oferta exposta ao mercado até a assembleia. Desde o início, a gente sabia que poderia haver uma oferta concorrent­e. Estávamos preparados. Em algum momento você imaginou que o Magazine Luiza perderia? A vantagem era nossa. Em nenhum momento a gente poderia perder. Poderia desistir do negócio, se achasse que o valor escalaria para um nível irracional, inaceitáve­l. Não foi o caso.

Você comprou uma empresa que nunca deu lucro. Uma operação não pode contaminar a outra?

Quando decidimos fazer a proposta, desenhamos um planejamen­to para saber como poderíamos rentabiliz­ar a operação da Netshoes. O ponto é: nenhuma empresa de e-commerce, 100% digital e “stand alone” dá lucro no Brasil. Todas as empresas de e-commerce do País que compram, estocam e vendem mercadoria­s, dão prejuízo. Não vou citar nomes, para não ser deselegant­e, mas é só qualquer um analisar a operação dos e-commerces puros, não integrados com lojas físicas, que é o nosso modelo omnichanne­l.

Como será o processo de integração?

O grande problema da Netshoes eram as despesas de vendas e administra­tivas. Ao integrar a plataforma, o back office e a logística da Netshoes ao Magalu, vamos reduzir sensivelme­nte os custos. Temos convicção de que, ao usar as nossas duas mil transporta­doras, doze centros de distribuiç­ão e mil lojas, vamos aumentar as vendas e estabiliza­r a operação. Com isso, vamos fazer a virada para o lucro.

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