“O governo se perde em coisas muito pequenas”
O governo Bolsonaro precisa começar a entregar resultados para disputar o concorrido capital estrangeiro com outros países. Quem diz isso é Bernardo Parnes, um dos mais experientes executivos em atividade no mercado brasileiro. Com uma carreira de mais de 30 anos, ele já chefiou o Merrill Lynch no Brasil e o Deutsche Bank na América Latina. Também esteve à frente da JSI Investimentos, family office de Joseph Safra, e estruturou o Bradesco BBI. Qual sua avaliação sobre o cenário atual? Existe uma liquidez muito grande no mundo e a potencial queda dos juros, sinalizada tanto no exterior quanto no Brasil, deve valorizar ativos reais, já que a renda fixa não fica tão atraente.
O que o Brasil precisa fazer para atrair parte desse fluxo?
Uma reforma da previdência a níveis mínimos, na faixa dos R$ 800 bilhões, que faça o investidor começar a ver boas perspectivas. Reformas micro também são importantes. Além disso, o governo precisa mostrar unidade e estratégia, porque apesar das intenções serem muito boas e o time ser excepcional, ele se perde em coisas muito pequenas.
Qual o sentimento do investidor estrangeiro em relação ao Brasil?
O interesse existe, mas desde que haja uma reforma minimamente decente e um norte para o País. O estrangeiro pode colocar o dinheiro em qualquer ativo no mundo, então a competição é muito grande. O Brasil é bastante atraente, mas precisa fazer a lição de casa.
Isso tem retardado o fluxo estrangeiro para a bolsa?
Exato. Grande parte do dinheiro que entrou na bolsa, que fez o Índice Bovespa bater os 100 mil pontos, é de investidores locais. Isso é bom, mas não o suficiente. Não podemos comparar a liquidez local com a global. Ainda assim, tem muita gente com a mão no gatilho, esperando uma visibilidade melhor para fazer negócio.