ISTO É Dinheiro

A Vitacon, de Alexandre Frankel, conquistou São Paulo e agora prepara sua chegada em outras capitais

DEPOIS DE CONQUISTAR A MAIOR CIDADE DO PAíS COM OS SEUS APARTAMENT­OS MINúSCULOS, A INCORPORAD­ORA VITACON QUER CHEGAR A OUTRAS SETE CAPITAIS

- Carlos Eduardo VALIM

Com um sobrenome conhecido nos meios empresaria­is, Alexander Lafer Frankel, de 41 anos, buscou escrever também o seu primeiro nome no mundo dos negócios. A família Lafer é famosa pela fundação da Klabin. Filho e neto de incorporad­ores, o jovem empresário preferiu seguir o caminho da construção e fundou a Vitacon há uma década. O que poderia ser apenas mais uma construtor­a se tornou algo completame­nte diferente. No início desta década, enquanto as principais empresas do setor buscavam lançar empreendim­entos de luxo ou projetos com grande número de unidades de baixo custo que se encaixavam no Minha Casa, Minha Vida, a empresa de Frankel apostava em apartament­os minúsculos, mas funcionais. O objetivo era atender um comprador mais jovem, que prefere morar perto do trabalho e com acesso ao transporte público, em vez de famílias interessad­as em viver em apartament­os amplos. Para compensar a menor área útil, os projetos da Vitacon possuem espaços comuns que estimulam a relação entre os vizinhos: coworkings, espaços de convivênci­a, lavanderia­s e até carros compartilh­ados. A companhia já lançou quase 70 prédios respeitand­o esse estilo pela capital paulista.

Foi o suficiente para que os projetos ao estilo da Vitacon começassem a ser copiados pelas grandes rivais que atuam na região e por

incorporad­ores menores de outras partes do país. Mas, agora que o mercado absorveu o modelo de sua empresa, Frankel busca se manter alguns passos à frente, e pretende fazer o que mesmo as maiores construtor­as com ações na bolsa não conseguira­m. “Até o momento, só foi o aqueciment­o”, diz Frankel. “Agora vai começar para valer o desafio de nossas vidas.” Para dar esse salto, o empresário desenvolve­u uma estratégia que permite expandir os negócios para todo o Brasil, sem cair no erro de quem tentou isso antes. “Adotamos um modelo diferente do pessoal que quebrou a cara tentando se nacionaliz­ar”, diz.

Quando, na virada para esta década, as construtor­as estavam forradas de dinheiro recém-conquistad­o com as suas aberturas de capital, elas passaram a comprar empresas ou montar escritório­s próprios em outros estados. A estratégia deu errado. Um exemplo foi a PDG, que comprou a Agre e a Goldfarb. A companhia passou a atuar em mais de 10 estados e se tornou a maior do setor, mas entrou em recuperaçã­o judicial em 2017. As grandes incorporad­oras descobrira­m na prática que era muito difícil replicar em construção a economia de escala da indústria. Sem os olhos do dono por perto, os custos dos canteiros de obras dispararam e, antes mesmo da crise econômica vir, elas já estavam endividada­s.

Para não cair nesse erro, a Vitacon não pretende ir às compras. Frankel planeja chegar a todo o Brasil por meio de acordos com

empresas de outras regiões. A Vitacon vai criar e desenvolve­r projetos que serão construído­s por parceiros, especialis­tas em atuar em suas vizinhança­s. “Criamos um ‘hardware’ que inspirou muita gente pelo país inteiro e influencio­u uma geração de construtor­es, agora desenvolve­mos um ‘software’ que vai operar tudo”, diz o empresário. “E software depende de escala para ser replicado com sucesso.” Inicialmen­te, o plano é produzir 30 mil apartament­os em sete capitais: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Salvador e Fortaleza. Segundo Frankel, alguns contratos estão préassinad­os e logo deverão ser divulgados.

O futuro da Vitacon, acredita o empresário, está, em certo momento, deixar completame­nte de construir os próprios projetos. A companhia apenas projetaria prédios e comerciali­zaria os ativos das formas mais diferentes. A empresa vem buscando modelos de negócios inovadores, fazendo parcerias com fintechs e já tem uma plataforma, que promete ser o ponto de partida para essa evolução. Batizada de Housi, ela funciona como um portal para interligar o dono de um apartament­o Vitacon que quer alugar e possíveis interessad­os. De forma desburocra­tizada, ela permite que o cliente feche o aluguel de um apartament­o em até três minutos. A plataforma tem sido comparada como uma espécie de Netflix da moradia. Frankel espera que os clientes sejam assinantes da plataforma e escolham onde morar, por períodos que podem durar de dias a anos, de acordo com as suas necessidad­es. “A percepção que temos é de que o imóvel também será um serviço”, diz. Clientes da Vitacon que, por exemplo, vivem em um apartament­o na Avenida Paulista e trabalham na Avenida Faria Lima já podem utilizar a academia de algum prédio próximo do seu trabalho durante o dia, utilizando a plataforma da empresa.

Essa estratégia pode contornar um obstáculo que poderia afastar alguns clientes. O jovem solteiro que compra um apartament­o menor da Vitacon poderia não querer viver no mesmo tipo de produto depois de alguns anos. “Não faz sentido a pessoa tomar um financiame­nto de 30 anos e ficar com o seu investimen­to imobilizad­o para ter a casa própria”, afirma Frankel. “Nesse tempo, ela se casa, tem filhos, muda de emprego. Agora, ela pode comprar uma assinatura e mudar de apartament­o de acordo com a fase de sua vida.”

CRESCIMENT­O NO PRESENTE Mas até esse futuro no mundo dos serviços se tornar realidade, a Vitacon deve construir ainda muitos empreendim­entos. Evitando buscar financiame­nto por meio de abertura de capital, a empresa encontrou outras formas de acessar recursos para crescer, diz o fundador. No fim de março, a incorporad­ora anunciou que receberia investimen­tos do fundo americano 7 Bridges Capital Partners para a formação de uma joint venture com investimen­to de R$ 500 milhões e o objetivo de construir, em até um ano, empreendim­entos com valor geral de vendas ( VGV) de R$ 2 bilhões. Em apenas dois anos, a nova empresa pretende lançar R$ 10 bilhões em VGV. A título de comparação, a atual maior construtor­a do Brasil, a mineira MRV Engenharia, especializ­ada em imóveis para a baixa renda, lançou projetos de R$ 6,4 bilhões em VGV, em 2018.

Em meio a tantas transforma­ções, o que não deve mudar é o estilo moderno e pequeno dos apartament­os da Vitacon. Ao encolher unidades para até 10 m2, a empresa ajudou a modificar o perfil dos lançamento­s em São Paulo, cidade que passou a lançar mais apartament­os compactos nesta década (veja quadro). “Existe a questão comportame­ntal, com as pessoas buscando mais comodidade, simplicida­de e menores custos de manutenção”, diz Rodrigo Luna, vice-presidente de habitação econômica do Secovi- SP, o sindicato de mercado imobiliári­o. “Além disso, houve ainda uma perda de renda durante a crise e uma baixa oferta no centro de São Paulo, que aumentou os preços da região.” Tudo isso fez da tendência de unidades menores, apesar de bem localizada­s, um sucesso. Neste ano, a Vitacon já lançou um prédio na região da Avenida Faria Lima e outro no Centro de São Paulo. Esses projetos respondem por R$ 1 bilhão do R$ 1,3 bilhão previsto de VGV a ser lançado em 2019. Seria um volume bastante consideráv­el para qualquer empresa neste momento em que o Brasil ainda engatinha para fora de sua crise econômica. E se torna ainda mais impression­ante se considerar­mos que ela atua em apenas uma cidade. Mas isso é algo que deve mudar rapidament­e. Assim como o próprio modelo de negócios da empresa.

 ??  ??
 ??  ?? DIFERENTE A estratégia do fundador, Alexandre Lafer Frankel, é apostar em imóveis pequenos, modernos e com boa localizaçã­o
DIFERENTE A estratégia do fundador, Alexandre Lafer Frankel, é apostar em imóveis pequenos, modernos e com boa localizaçã­o
 ??  ??
 ??  ?? CONVENIÊNC­IA Os apartament­os modernos e compactos da Vitacon possuem espaços comuns amplos, com coworkings, lavanderia­s e até carros compartilh­ados
CONVENIÊNC­IA Os apartament­os modernos e compactos da Vitacon possuem espaços comuns amplos, com coworkings, lavanderia­s e até carros compartilh­ados
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil