ISTO É Dinheiro

BRASIL, O MELHOR AMIGO DA ELANCO

Gigante americana de saúde animal, com receita de US$ 3,1 bilhões, compra divisão da Bayer e define o País como prioridade para voltar a crescer

- Marcelo de PAULA

Maior exportador mundial de carne bovina e de frango, o Brasil é, definitiva­mente, um mercado cobiçado por todas as grandes companhias do setor agropecuár­io. O País é líder global em exportação de carne vermelha e de aves, além de figurar na quarta posição no ranking de suínos. Não bastasse isso, o Brasil é o terceiro maior no segmento de animais de estimação, como cães e gatos. Este cenário ajuda a explicar o plano da americana Elanco, segunda maior empresa do ramo de saúde animal (fabricação de medicament­os e vitaminas para misturar à ração) do planeta, com faturament­o de R$ 3,1 bilhões, para o varejo nacional. De acordo com o vice-presidente global da companhia, o argentino Ramiro Cabral, a meta é crescer acima 10% no Brasil em 2020. “Esse percentual é praticamen­te o dobro do previsto para o setor este ano no mercado brasileiro. No mundo, nossa expectativ­a é de avançar de 1% a 3%", disse o executivo.

Fundada em 1954, nos Estados Unidos, como subsidiári­a da farmacêuti­ca Eli Lilly, a Elanco teve seu capital aberto em 2018. Em março do ano seguinte, tornou-se uma empresa totalmente independen­te, após sua então proprietár­ia sair do controle ao vender todas as ações que possuía. Em agosto do ano passado, a Elanco comprou a divisão de saúde animal da alemã Bayer por US$ 7,6 bilhões, sendo 70% pagos à vista e o restante em troca de ações. A operação já teve a aprovação das autoridade­s regulatóri­as da China e os executivos aguardam a posição dos órgãos de regulação dos Estados Unidos, da Europa e de países como o Brasil, cuja decisão está em análise pelo Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade). “O portfólio de ambas as empresas se complement­am. Há pouca sobreposiç­ão e estimamos que sejam necessário­s nesta operação entre US$ 120 milhões e US$ 140 milhões em desinvesti­mentos, ou seja, aquilo que deveremos desfazer para cumprir exigências legais das agências regulatóri­as”, afirmou Cabral.

Segundo ele, a expectativ­a é de que haja cresciment­o de 70% no consumo de proteína animal, frango, bovinos, suínos e peixes nas próximas duas décadas em todo o mundo. A multinacio­nal, evidenteme­nte, quer aproveitar esse bom momento e sabe que o Brasil será cada vez mais protagonis­ta como fornecedor internacio­nal de carnes. “O agro vai bem no Brasil todos os anos. A situação aqui é favorável para a cadeia do segmento e estamos otimistas com o cenário exportador”, garantiu Cabral. O maior consumo, segundo ele, exige mais cuidados com a saúde de animais que servirão de alimentos para a população, o que faz aumentar os gastos dos produtores com a saúde dos rebanhos. Cerca de 20% da produção animal se perde por conta de doenças. A redução dessa perda passa por novos e mais avançados medicament­os.

O diretor do Instituto Brasileiro de Veterinári­a ( IBVet), Silvio Piotto, afirma que, nos últimos cinco anos, cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo passaram a ter renda suficiente para consumir proteína animal, principalm­ente carne de frango, cujo custo é menor. “Comprar carne é a primeira coisa que uma pessoa faz quando sai da pobreza”, disse. E nessa situação de mercado crescente, o Brasil se tornou um país estratégic­o para qualquer empresa pertencent­e a essa cadeia de produção, pois é líder e praticamen­te o único no mundo em condições de continuar a aumentar a produção comercial. “Dentro desse contexto, há muito espaço para as empresas crescerem por aqui”.

No que diz respeito aos animais de estimação, a mudança na cultura das pessoas é o fio condutor do avanço. “Nos últimos dez anos, no mundo, a expectativ­a de vida de cães e gatos aumentou em 20% graças à medicina veterinári­a”, garante Cabral, lembrando que os tutores de animais consomem cada vez mais porque os bichinhos de estimação hoje são tratados como companheir­os, como filhos. “É um fenômeno mundial. Então, é um setor muito importante para nós”, completou o executivo.

Para Piotto, o que chama a atenção no segmento de saúde de animais de estimação é a recomposiç­ão do poder de compra da população brasileira. O especialis­ta do IBVet explica que o Brasil ocupa a terceira posição no mercado de animais de companhia. Apesar de estar bem no ranking, o grosso das vendas ainda é voltado para rações prontas e o consumo de outros produtos da linha pet ainda não é tão grande quanto poderá vir a ser. “Acontece que existe a expectativ­a da melhoria do poder de compra que fará o mercado disparar. E quem se preparar agora estará pronto para atender essa demanda”.

LIDERANÇA No Brasil, a Elanco lidera o fornecimen­to de medicament­os e suprimento­s alimentare­s como enzimas, probiótico­s, entre outras substância­s que são adicionada­s às rações no segmento de aves. Antes da aquisição da Bayer, estava na oitava posição nos ramos bovino e de animais de companhia e subiu para o quarto lugar em ambos. No ranking geral estava em quinto lugar e agora está em terceiro. A meta é manter a liderança no setor de frangos e tentar aumentar a participaç­ão em bovinos e animais de estimação, mas sem preocupaçã­o inicial com ranqueamen­to. “A avicultura representa 50% de nossas vendas domésticas. Bovinos, 40%, e pets, 10%”, disse Carlos Kuada, vice-presidente da Elanco para a América Latina e CEO da operação brasileira. O executivo comentou que com a aquisição da Bayer o mercado pet da empresa no Brasil terá um salto de 300% tão logo o processo de fusão seja concluído. “O objetivo é crescer e agregar valor centrado no cliente.”

 ??  ?? BOM MOMENTO O consumo de proteína animal deverá crescer 70% em duas décadas e o vice-presidente da Elanco, Ramiro Cabral, diz que a empresa está atenta para esta demanda
BOM MOMENTO O consumo de proteína animal deverá crescer 70% em duas décadas e o vice-presidente da Elanco, Ramiro Cabral, diz que a empresa está atenta para esta demanda

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil