BRADESCO IMPULSIONA NEXT
Banco digital da instituição terá objetivo de alcançar 3,5 milhões de clientes até o final deste ano, quase o dobro do registrado em 2019
Entre os maiores desafios listados para 2020, o Bradesco pretende impulsionar o crescimento de seu banco digital Next. “Estamos muito focados no banco digital. O Next tem como meta alcançar 3,5 milhões de clientes até o final desse ano”, afirmou Octavio de Lazari Júnior, presidente do Bradesco, em teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre, realizada na última quarta-feira 5. Lazari informou que o Next encerrou 2019 com 1,8 milhão de clientes, e fechou o mês de janeiro com 2 milhões de usuários. “Estamos desenvolvendo um banco digital completo, com todos os produtos e serviços que um banco [tradicional] dispõe”, diz. O Bradesco investiu entre R$ 250 milhões a R$ 270 milhões no banco digital no ano passado.
Em sua apresentação, Lazari contou que foram desenvolvidas novas versões do aplicativo, e que sua última atualização tornou a tela inicial totalmente
customizável. “Devemos trazer novas versões ao longo de 2020, que entre outras coisas permitirá o acesso direto à plataforma da Ágora, tornando a experiência em investimentos no Next a mais completa do mercado”, afirma.
O executivo revelou a estratégia de separar totalmente o Next da plataforma do Bradesco ainda no primeiro semestre de 2020. “Não sei se vai abrir capital, mas a gente já pode pensar. Cada conta aberta no Next vale US$ 1 mil”, diz. Na prática, o Next já mudou para uma sede própria e foram criadas estruturas administrativas e de gestão, como uma área de recursos humanos.
Além do Next e do lançamento da nova Ágora, corretora voltada para o público de varejo, Lazari destacou que a operação do Bradesco incorporou cerca de 850 assessores internos de investimento, alocados nas principais agências, complementados pelas equipes alocadas nas plataformas remotas ( PGP). “Teremos pelo menos um especialista em investimentos em cada agência do Bradesco Prime. Acreditamos que elevamos de maneira significativa a nossa capacidade consultiva oferecida aos clientes e devemos obter resultados importantes ao longo de 2020”, afirma.
Na plataforma do próprio Bradesco, a instituição registrou a abertura de 362 mil contas pelo aplicativo. “Hoje 60% de nossa base é composta por clientes digitais, acessando suas contas via internet, principalmente pelo celular”, diz.
BALANÇO Entre os dados divulgados pela instituição, o banco informou o pagamento de R$ 15,9 bilhões em juros sobre capital (JCP) e dividendos relativos ao ano de 2019, o equivalente a 73,9% do lucro do exercício. “O dividend yield atingiu 5,5%”, calcula Lazari. A diferença do que já foi pago aos acionistas ao longo do ano passado será quitada a partir de 17 de fevereiro próximo.
De acordo com o balanço divulgado, o lucro líquido atingiu R$ 25,9 bilhões em 2019, crescimento de 20% em comparação com 2018. Já o retorno sobre o patrimônio (ROE) aumentou 1,6 ponto percentual e alcançou 20,6% no ano. Quando se observa apenas o quarto trimestre, o ROE de 21,2% ficou praticamente empatado com o concorrente Santander Brasil, que havia divulgado seus resultados uma semana antes. Nas receitas de prestações de serviços, em comparação com o quarto trimestre de 2018, houve crescimento das áreas de: administração de consórcios (+12,7%); conta corrente (+7,4%); custódia e corretagem (+15,4%); e assessoria financeira (+91,2%). A receita com seguros, previdência e capitalização somou R$ 14,8 bilhões, alta de 12,7% no ano.
Já no crédito, a carteira expandida cresceu 13,8% em 12 meses, para R$ 605 bilhões no total. A carteira para pessoas físicas mostrou expansão de 19,2%, e o financiamento às empresas (PJ) evoluiu 10,7% no mesmo período. A inadimplência total caiu 0,2 ponto percentual, de 3,5% em dezembro de 2018 para 3,3% em dezembro de 2019.
EXPECTATIVAS Para 2020, o Bradesco divulgou em seu guidance que espera que: a carteira de crédito expandida cresça entre 9% a 13%; que a receita de prestação de serviços avance entre 3% a 7%; e os prêmios com seguros, previdência e capitalização aumentem entre 4% e 8%. Os investidores do mercado reagiram bem ao balanço divulgado, e o papel preferencial ( PN) do Bradesco encerrou em alta de 1,93%, a R$ 33,74 no pregão da quarta-feira 5.
Onegócio parece promissor. Parte da premissa de aglutinar, em um só produto, o que diversas fintechs oferecem de maneira segmentada. Em resumo: um banco completo, com aplicativo, open banking, cashback, recompensas, autorização legal, SAC com inteligência artificial, cartão de crédito, rede de ATM própria, conexão multidispositivos, remessa internacional, marketplace, correspondente de conta digital e pagamento instantâneo. “Tudo com a marca que o cliente desejar. Se um time de futebol quiser, ele pode ter um banco só dele com todos esses produtos”, afirma Rafael Pimenta, co-CEO da BTX Digital, fintech que recebeu um aporte inicial de R$ 20 milhões para se tornar a p primeira “fábrica de bancos” do País. “A BTX Digital g é uma empresa que cria banktechs, espécie de junção de várias fintechs. Cada banco digital pode contar com outras empresas que vão lidar com um aspecto diferente da operação financeira. Tudo depende do modelo de negócio que o cliente quer”, diz Pimenta.
A inovadora proposta de desenvolver bancos digitais customizados bastou para convencer o fundo de investimento RedLions Capital a bancar o desenvolvimento da BTX. Dos R$ 20 milhões do aporte recebido, metade foi destinada só para a criação da nova empresa. Na prática, o que ela faz é prover um conjunto de soluções que permitam a empresas de qualquer segmento operar como instituição financeira. O serviço oferecido para o cliente é o de um banco tradicional, com possibilidade de pagamento de contas, realização de transferências, conta-corrente e até recompensas. A BTX é responsável por todo o investimento nos bancos criados. “Nós financiamos a entrada desses bancos no mercado e damos o funding”, explica Fernando Oliveira, board member da RedLions e também co-CEO da BTX Digital. “As empresas contratantes não entram com dinheiro. Em troca, , o controle oficial do banco será dividido: metade dos clientes e metade da BTX”. Segundo Pimenta, o retorno de investimento chegará em até um ano e meio, impulsionado pela alta tecnologia que já está presente no negócio que foi personalizado para aquele cliente.
A BTX já tem hoje operações para nove bancos: Caras Bank, FunBank, TV Bank, Iron Bank, FT Bank, NovaBank, Venture Bank, Secret Bank e até Fecomercio Bank. Cada um tem as suas particularidades. Se o cliente quiser todas, A BTX oferece e operacionaliza qualquer ferramenta. “Estamos bem otimistas e crescendo: a expectativa é fechar 2020 com 18 bancos”, diz Fernando Oliveira.
CONCORRÊNCIA A expectativa tem fundamento. Além dos bancos digitais que já atraíram milhões de correntistas no País (caso de Nubank, Original, Inter e Next, entre outros), a oferta de serviços financeiros também se tornou uma aposta de grandes varejistas. No ano passado, a Via Varejo, que controla as redes Casas Bahia e Ponto Frio, lançou o banQi, de olho nos clientes que todo mês pagam suas prestações por meio de carnê. Princípio semelhante foi adotado no lançamento da Conta Digital Pernambucanas, também em 2019.
De acordo com Rafael Pimenta, o grande diferencial da BTX é que o consumidor vai poder unir a praticidade dos bancos digitais com algumas vantagens exclusivas. “Como a BTX controlará muitos bancos, terá mais moeda de troca nas negociações com outros agentes. Os consumidores controlarão as suas contas nesses bancos por meio de aplicativos, que vão estar disponíveis em iOS, Android e WindowsPhone”, , afirma.
Para Diogo Carneiro, pesquisador e professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), ligado à Universidade de São Paulo, a estrutura da BTX Digital traz uma complexidade inédita. “A empresa precisa se atentar à seguran
ça da informação, inadimplência e questões regulatórias. Coisas que os bancos fazem para o público misto que atendem. Com diversos bancos diferentes, a BTX terá de administrar de maneira que a atuação não seja prejudicada e o cliente acabe lesado”, diz o professor. Em termos de regulação, o open banking, apesar de ser uma modalidade nova, já está sendo muito bem observado pelos governos e bancos centrais em todo o mundo. E o Brasil não está atrás nesse cenário. “É tudo muito novo”, afirma Carneiro. “Acredito que em no máximo quatro anos as coisas estarão diferentes tanto para bancos quanto para fintechs, já que o movimento segmentado mexeu muito com o sistema das instituições bancárias dominantes no Brasil”.
Em um setor de alta concentração, a BTX Digital se apresenta como pioneira em um segmento que tem tudo para prosperar. Novas bancktechs deverão atrair um nicho q que tende a ser cada vez mais explorado: o da afinidade. A vantagem desse modelo é reunir clientes que têm gostos em comum, caso dos torcedores de um mesmo time de futebol. E quanto maior o público que uma marca atinge, mais clientes em potencial seu banco personalizado terá.