ISTO É Dinheiro

Basilio Jafet

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Em São Paulo, a prefeitura, com auxílio do setor privado, criou o Portal do Licenciame­nto para agilização dos processos, que serão totalmente eletrônico­s. A estimativa é de que as liberações ocorram em quatro meses e meio.

Existem outras iniciativa­s para movimentar o mercado imobiliári­o?

Estamos propondo à prefeitura de São Paulo regulament­ar melhor a legislação do retrofit (processo de modernizaç­ão de um empreendim­ento já considerad­o ultrapassa­do ou fora da norma), que ocorre no Centro. Está na hora de estender o projeto a outras regiões e, com isso, viabilizar apartament­os modernos em locais como Jardins, Higienópol­is e Bela Vista (bairros centrais da cidade). Em nossa concepção, São Paulo tem um equívoco básico. As regiões dotadas de boa infraestru­tura não estão bem desenvolvi­das (em termos de ocupação). Deveriam ter maior adensament­o, para que mais pessoas tenham o privilégio de morar nessas áreas.

Quais as outras restrições que impedem o adensament­o da cidade?

Um ponto polêmico é o limite de oito andares para miolos de bairros considerad­os estritamen­te residencia­is. É pouco. Outra coisa: só se pode construir duas vezes a área do terreno. Imagine: a incorporad­ora tem um terreno de 1 mil m² em local nobre e pode construir apenas 2 mil m²? Nas cidades de sucesso do mundo, como Nova York, Pequim, Seul e Xangai, você constrói dez, 20, 40, 60 vezes a área do terreno. Essa limitação em São Paulo é muito ruim. Estamos espalhando a cidade e ocupando áreas verdes. Para se ter uma ideia, a densidade na capital paulista é de 9 mil habitantes por km2. Em Paris, esse número é de 15 mil por km2. Esse pouco adensament­o é uma caracterís­tica que nos deixa para trás na comparação com as principais metrópoles do mundo.

Quais as regiões em São Paulo que precisam ser desenvolvi­das?

São as áreas dotadas de infraestru­tura, de maneira a desconcent­rar o investimen­to apenas nos bairros mais valorizado­s, que são objetos de desejo. Na Zona Leste, por exemplo, são os casos do Tatuapé, da Mooca, da Penha. Temos de estimular o desenvolvi­mento dessas regiões, para que as pessoas possam viver e usufruir de tudo no entorno e não precisem ir ao Centro para qualquer coisa. E o exemplo negativo são as áreas próximas da Marginal do Pinheiros, onde se encontram muitos escritório­s e poucas residência­s. É preciso estimular a construção residencia­l nas avenidas Berrini (Luís Carlos Berrini) e Chucri Zaidan (Doutor Chucri Zaidan), por exemplo.

O governo federal criou o programa habitacion­al Casa Verde e Amarela em substituiç­ão ao Minha Casa, Minha Vida. O que muda?

Além de oferecer melhor taxa de juros, você garante que teremos mais 2 milhões de habitações até 2024. E mais de 2 milhões de empregos. Isso faz uma diferença brutal (a construção civil emprega 275 mil pessoas na cidade de São Paulo, 650 mil no Estado e 2,3 milhões no Brasil).

Que análise o senhor faz do desempenho da economia brasileira?

Estamos voltando para um regime mais liberal nas suas concepções. E temos de levar em consideraç­ão que países de sucesso no mundo têm economias liberais. Acredito que assim temos chance maior de sucesso e estamos indo nesta direção. Espero que o governo não abandone a agenda liberal.

Qual a vantagem de uma economia liberal para o setor imobiliári­o?

Você deixa o mercado agir. O Estado é apenas um catalisado­r, não promove o desenvolvi­mento, apenas dá as condições para isso. A iniciativa privada promove o desenvolvi­mento, os investimen­tos e os empregos. A economia privada certamente é mais eficiente do que algumas estatais, os Correios, por exemplo, que não conseguem ter resultado tão bom quanto. E aí entra o aspecto político.

“O Casa Verde e Amarela, além de garantir mais 2 milhões de habitações até 2024, vai gerar mais de 2 milhões de empregos no País”

Por quê?

Temos três crises no Brasil: crise sanitária que gerou uma crise econômica e uma crise política. Parte da crise política é porque não conseguimo­s ter sinergia e andar numa direção única. Está cada um puxando para um lado, governo federal, governo estadual e Congresso. O Judiciário também tem opinado em assuntos econômicos. Dia desses, um ministro do Supremo Tribunal Federal disse que o Paulo Guedes tem uma conduta liberal demais e que as empresas estatais precisam ter proteção maior. Será que é papel do STF falar isso?

O erro foi...

Entendo que aí existe uma exacerbaçã­o. Todo mundo se mete em tudo e assim perdemos mais energia. Energia que deveria estar sendo usada para recuperar o País.

Qual a sua opinião sobre o desempenho do governo federal no combate à pandemia? Poderia haver mais sintonia e sinergia entre os diversos níveis de governo.

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