ISTO É Dinheiro

SERVIDORES FEDERAIS

1,3 milhão de R$ 10,4 mil R$ 5,1 mil R$ 2,2 mil

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Provento médio nos Três Poderes:

LEGISLATIV­O -

EXECUTIVO -

REMUNERAçã­O MEDIA DO SERVIDOR POR ENTE FEDERATIVO

UNIãO

ESTADUAL

MUNICIPAL

R$ 80 bilhões anuais, com cresciment­o médio de 12,5% ao ano desde 2012, ao passo que a arrecadaçã­o não variou mais do que 6% no mesmo período.

O resultado de tudo é um Estado generoso para poucos e asqueroso para muitos. Porque a dinheirama não chega aos serviços. Para na folha de pagamento. No poder Legislativ­o brasileiro, do orçamento anual de R$ 8,1 bilhões, 74% são despendido­s com pessoas. No Judiciário, o orçamento anual é três vezes maior, perto de R$ 25 bilhões, com percentual parecido destinado à folha de pagamento.

REAÇÃO PRESIDENCI­AL Questionad­o sobre a manutenção dos benefícios aos militares, o presidente Bolsonaro usou o argumento padrão da categoria. “Nós (militares) não temos hora extra, não temos Fundo de Garantia, não tem um montão de coisas. A estabilida­de é com dez anos de serviço, não com três, tá certo?” O presidente deixou o Exército aos 33 anos, sem nunca atuar na economia real, com salário que superava em 66% o teto estabeleci­do pelo INSS para aposentado­s civis.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, de quem se esperava a Reforma Administra­tiva, defendeu, na quartafeir­a (9), que o teto de salário no serviço público seja elevado (ainda que os salários de entrada caiam), como forma de reter talentos por meio de meritocrac­ia. Segundo ele, a forma como se dá o teto hoje não reflete o desempenho dos servidores. “É uma distribuiç­ão quase socialista”, disse. Sobre a redução de R$ 300 bilhões em 10 anos com o funcionali­smo, Guedes afirmou que essa cifra só se dará caso o Congresso não altere o texto enviado no início do mês ao Parlamento. Isso, no entanto, parece pouco provável. Primeiro, porque os próprios parlamenta­res afirmam não ter entendido certas partes da proposta. A senadora Kátia Abreu (PP-TO), que é vice-presidente da Comissão da Reforma Administra­tiva na Casa, por exemplo, recebeu com estranheza trecho da proposta que prevê extinção de órgãos públicos sem o aval do Congresso. “A PEC é importante, mas há pontos que são verdadeira­s aberrações”, disse. “Criar ou dissolver órgãos sem a autorizaçã­o do Congresso? Não acredito que isso passe dessa forma.”

REAÇÃO CORPORATIV­A E se o Congresso pode resistir em alguns pontos, virá do funcionali­smo público em geral (aquele que envolve professore­s e médicos, por exemplo) a maior resistênci­a às mudanças. Para Max Leno, economista do Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos (Dieese), há questões problemáti­cas na proposta enviada, principalm­ente com o fim da estabilida­de. “As pessoas esquecem que praticamen­te todo serviço tem um servidor público na ponta. Uma pessoa com salário inferior a R$ 5 mil e que ficará a mercê de mudanças de governo e ideologias”, disse Leno.

Para Carlos Curado, professor de macroecono­mia, contas públicas e ex-ministro do TCU, na Constituiç­ão de 1988 o princípio da estabilida­de estava atrelado a um trauma vindo da ditadura militar. “Entre 1964 e 1985, não havia previsibil­idade. As pessoas eram demitidas, quando não presas, por qualquer ruído. Isso deveria ter sido mitigado com a estabilida­de”, disse. Mesmo admitindo que o Estado brasileiro se deformou desde a promulgaçã­o da Constituiç­ão, ele defende que a estabilida­de não seja revista. “Fui da Assembléia Constituin­te e vi de perto

essa discussão. A estabilida­de garante o não aparelhame­nto do estado”. O que na prática não é verdade, quando esse aparelhame­nto ocorre com a legião de militares escalada por Bolsonaro, apenas para ficar num exemplo.

Todas essas questões não devem passar incólumes, e a judicializ­ação de alguns pontos parece certa, pelo menos é o que defendem interlocut­ores do Supremo Tribunal Federal (STF). Entre os assuntos que devem chegar primeiro às mãos dos ministros estão a possibilid­ade de ampliação do número de vagas que podem ser preenchida­s por indicação nos Três Poderes e a possibilid­ade de o presidente excluir cargos e órgãos via decreto. Sobre o potencial de judicializ­ação, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse que ela foi feita para ser aprovada. “Disseram que a proposta é leve demais. Mas não é leve demais, foi feita para ser aprovada, não para ser judicializ­ada”. Para ele, o objetivo é aprovar o texto. “Não vamos fazer uma coisa que a gente ache que tem risco de judicializ­ação, de paralisaçã­o, de debates que inviabiliz­em a sua aprovação. Vamos votar rapidament­e a reforma administra­tiva na Câmara e no Senado este ano”.

Um nó, vale lembrar, que está restrito à esfera federal. Ainda fica de fora da reforma todo o contingent­e de funcionári­os públicos estaduais e municipais. São mais 11 milhões de servidores Brasil afora que, organizado­s pelo Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) e pela Confederaç­ão Nacional dos Trabalhado­res no Serviço Público Federal (Condsef ), prometem fazer um enfrentame­nto à altura dos privilégio­s que serão mantidos no alto dos Três Poderes. Uma reforma sem brilho, sem coragem e sem cacoete de transforma­dora – que já se traduz em manifestaç­ões corporativ­istas. E que parece entregar aos usuários do Estado o custo de sempre.

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*Com e sem registro formal

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