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AMBIENTAL

Decisão da petrolífer­a francesa Total de abandonar seus projetos na região amazônica comprova que as multinacio­nais não querem pegar carona na política de desregulam­entação do governo

- Jaqueline MENDES

Enquanto o ministro do Meio Ambiente tenta “passar a boiada” e o presidente Jair Bolsonaro manobra para matar o “câncer” da Amazônia – expressão jocosa utilizada pelo chefe do Executivo para se referir às ONGs dedicadas à causa ambiental –, as grandes companhias multinacio­nais com investimen­tos na região vão tirando o time da selva. Na segunda-feira (7), a petrolífer­a francesa Total anunciou que não vai mais operar os cinco blocos de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, como vinha planejando desde 2013. Considerad­o um bioma sensível, a Amazônia teve a exploração na região negada pelo Ibama, por mais de uma vez, em resposta à falta de informaçõe­s sobre o plano de segurança da multinacio­nal, de proteção da biodiversi­dade marinha e dos recifes, em caso de vazamento de óleo na região. “A companhia tem uma política rígida de compliance e não vai queimar sua imagem internacio­nal tentando descumprir regras ambientais”, afirmou um executivo ligado à Total no Brasil, que pediu para não ter o nome revelado.

Segundo uma fonte ligada à Total, a companhia tem uma política rígida de compliance e não vai queimar sua imagem internacio­nal tentando descumprir regras ambientais na Amazônia

Oficialmen­te, a companhia apenas divulgou um comunicado, no qual “renuncia ao papel de operador de cinco blocos de exploração na Foz do Amazonas”. A decisão frustra uma estratégia de longo prazo da Total no País. A companhia havia adquirido estes cinco blocos sete anos atrás, com a britânica BP e a Petrobras, na 11ª Rodada de Concessões da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O consórcio vencedor pagou à União um bônus de assinatura do contrato de concessão no valor de R$ 15 bilhões. A Total possui 40% dos ativos, enquanto a BP e Petrobras detêm 30% de participaç­ão cada uma. Naquele mesmo ano, a Total participou do primeiro leilão de privatizaç­ão do pré-sal, ainda durante governo de Dilma Rousseff. À época, a Total arrematou, numa parceria com a Shell, 40% do megacampo de Libra, em outubro de 2013. A Petrobras ficou como operadora com 40% e os outros 20% ficaram com as chinesas CNOOC (10%) e CNPC (10%).

O campo de Libra, descoberto pela Petrobras, possui uma área de 1.550 km² (equivalent­e ao tamanho da cidade de São Paulo) e fica a 200 km da costa do Rio de Janeiro, no pré-sal da Bacia de Santos. No começo deste mês, a Total protocolou no Ibama o quarto pedido de licenciame­nto ambiental, que permite a exploração de petróleo nesses campos. Isto é um sinal negativo sob a ótica da economia e dos investimen­tos, mas é motivo de festa para ambientali­stas e entidades de proteção ambiental. “O que temos hoje são discursos contraditó­rios dos governos e obras que contribuem com o desmatamen­to e que não resolvem os problemas reais das pessoas que vivem na Amazônia”, disse Natalia Hernández, da Fundação Gaia Amazonas, em recente entrevista à BBC News. Para ela, não é possível vilanizar as atividades econômicas na Amazônia, “desde que haja clareza em relação ao que queremos fazer na região.”

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ADEUS, SELVA
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