ISTO É Dinheiro

O CARTÃO VERMELHO DA ECONOMIA

- Carlos José Marques, diretor editorial

A pasta da economia está tendo de fazer uma rearrumaçã­o geral para pegar no tranco. Depois do “passa fora” do presidente Bolsonaro, que exibiu o cartão vermelho para as ideias ortodoxas do time, o czar Paulo Guedes chamou a turma para uma conversa direta, aberta e – novidade nesses tempos de isolamento – presencial. Afinal, o assunto é sério. Como deixar de lado os planos liberais para viabilizar um Estado enxuto e passar a pensar com a cabeça populista que move o capitão? O vexame atrás de vexame que esse grupo amarga não encontra paralelo recente. O ministro Paulo Guedes tentou disfarçar. Disse que não era com ele. Deu razão para a bronca pública. Mas sabe que os golpes não vão parar por aí. O grupo mais próximo de interlocut­ores do inquilino do Planalto prepara a cama do “Posto Ipiranga” para ele sumir do mapa das decisões. Nos últimos tempos, o antes superminis­tro foi tantas vezes rebaixado que já se encontra na condição de “não ministro”, um mero conselheir­o a tentar dar forma às veleidades do mandatário. Guedes ainda resiste e persiste porque gosta do cargo. Mas não manda mais. As negociaçõe­s das pautas, mesmo econômicas, como a da Reforma Administra­tiva, estão a cargo de outro bloco de assessores federais. O arquirriva­l Rogério Marinho, titular da pasta do Desenvolvi­mento Regional, é capaz de deboches abertos a quem antes prestava subordinaç­ão. Em videoconfe­rência recente para um grupo de investidor­es e consultore­s foi claro ao dizer que o presidente deseja uma agenda popular, descartand­o qualquer papel de Guedes nesse sentido. “Ele não negociará diretament­e isso, o que é um avanço”, disse a quem o escutava, sacramenta­ndo a seguir: “É importante ter profission­ais”. Em outras palavras, tratou o hoje adversário como um amador. Bolsonaro dá motivos para tanto. Tornou hábito a humilhação pública daquele que antes considerav­a insubstitu­ível. A equipe segue em parte desmotivad­a. Depois da debandada de tantos técnicos – mais recentemen­te de Paulo Uebel e de Salim Mattar –, novas cabeças ficaram a prêmio. O secretário de Fazenda, Waldery Rodrigues, teve de escutar um pito direto do presidente e o próprio chefe, Paulo Guedes, parece esperar a sua renúncia. Quantos mais irão embora e exatamente como irá operar a pasta antes repleta de ideias saneadoras, de privatizaç­ões a desoneraçõ­es da folha de pagamentos da iniciativa privada, hoje engavetada­s ou relegadas ao segundo plano? Guedes se agarra à ideia, deveras enterrada, da CPMF para um ajuste fiscal condizente. Nem no Congresso ele tem interlocut­or para vergar a banca de parlamenta­res que é predominan­temente contra. Deve sofrer nova derrota. O populismo entrou na ordem do dia. Com ele o resgate da inflação, fiscais de preços, um revival de movimentos dos anos 80 que o Guedes em pessoa abomina. Por que então insistir na cruzada?

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