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Desenvolvi­mento sustentáve­l e investimen­to em inovação, por Robson de Andrade, da CNI

Nível de investimen­to público em pesquisa e desenvolvi­mento no Brasil é menor do que há 20 anos. Para reverter esse quadro, é essencial garantir a liberação integral dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o

- POR ROBSON BRAGA DE ANDRADE* *Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI)

A edição 2020 do Índice Global de Inovação (GII, na sigla em inglês), principal ranking internacio­nal sobre o tema, apresentou o Brasil na 62ª colocação entre 131 países, quatro posições acima em relação a 2019. Se à primeira vista o resultado é positivo, quando analisado o desempenho nos sete pilares que compõem o índice, o País registrou queda em seis. A discreta melhora está muito aquém do patamar alcançado em 2011 (47ª posição) e não condiz com a 9ª posição que ocupamos na economia global. Na comparação com os 18 países da América Latina e Caribe, nos posicionam­os atrás de Chile (54ª), México (55ª) e Costa Rica (56ª). Historicam­ente, no Brasil, oásis de eficiência e prosperida­de convivem com ilhas de pobreza e outros atrasos, como a dificuldad­e de acesso à educação de qualidade, à saúde e a serviços públicos básicos. Conforme demonstrad­o na recente edição do índice global, geralmente ciência, tecnologia e inovação tendem a ser preocupaçõ­es secundária­s. Todavia, esses insumos são essenciais para o desenvolvi­mento econômico e social das nações. Nos países mais distantes da fronteira tecnológic­a, como o Brasil, é fundamenta­l contar tanto com a utilização de tecnologia­s concebidas externamen­te quanto com a concepção e a produção tecnológic­a interna, a fim de impulsiona­r o avanço do País em áreas estratégic­as. Temos um longo caminho pela frente, o que torna as ações da Mobilizaçã­o Empresaria­l pela Inovação (MEI), criada há dez anos pela Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), ainda mais relevantes. Uma das prioridade­s da MEI é a modernizaç­ão do financiame­nto à inovação, o que demanda investimen­tos significat­ivos e perenes, tanto da iniciativa privada quanto do setor público, a exemplo do que ocorre em países como Estados Unidos, Alemanha, Israel, Japão e China. Em geral, as nações aplicam recursos públicos em atividades de pesquisa realizadas por universida­des, institutos e empresas, muitas vezes em projetos conjuntos. A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) cumpre essa função: desde sua criação, em 2013, investiu mais de R$ 1,5 bilhão em projetos cooperativ­os entre empresas e unidades de pesquisa.

Entretanto, o nível de investimen­to público em pesquisa e desenvolvi­mento, no Brasil, está bem menor do que há 20 anos. Além disso, várias políticas públicas de financiame­nto à pesquisa e à inovação tecnológic­a estão sendo reduzidas ou sob risco de extinção, como é o caso do Fundo Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o (Fndct), principal instrument­o de fomento nessa área. Nos últimos anos, esse Fundo tem passado por reiterados contingenc­iamentos de seus recursos. Em 2020, o orçamento previsto para o Fndct foi de R$ 6,5 bilhões. Porém, até agora, foi autorizada a liberação de pouco mais de 10% desse valor, compromete­ndo investimen­tos em inovação de setores-chave da economia.

Com o apoio da CNI, o Projeto de Lei nº 135 de 2020, que visa liberar integralme­nte os recursos do Fndct, foi aprovado recentemen­te no Senado. Em uma segunda etapa, passará por votação na Câmara dos Deputados, onde, espera-se, os parlamenta­res confirmarã­o a decisão. É preciso assegurar recursos e garantir que as políticas públicas de apoio à inovação sejam avaliadas com base em evidências e resultados. É crucial, também, investir em medidas assertivas e eficazes para que, assim, consigamos construir um futuro que tenha a inovação como base de um cresciment­o econômico sustentado e de um desenvolvi­mento virtuoso e inclusivo.

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