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AB InBev encara o desafio de encontrar um sucessor para Carlos Brito, o executivo por trás da maior cervejaria do planeta

Responsáve­l pela transforma­ção do mercado cervejeiro global, o brasileiro Carlos Brito deve deixar o comando da AB InBev, a maior companhia do setor no mundo. Solução interna é apontada pelo mercado como a mais viável

- Sérgio VIEIRA

Ocomando da maior cervejaria do mundo está prestes a mudar. O brasileiro Carlos Brito, executivo que esteve à frente da Anheuser-Busch InBev (AB InBev) – conglomera­do dono de marcas como Budweiser, Stella Artois, Corona, Brahma e Skol –, nos últimos 16 anos, deve deixar a empresa dentro dos próximos seis meses, segundo reportagem do jornal britânico Financial Times. A companhia não nega e nem confirma a mudança, mas especialis­tas do mercado dizem que a dança das cadeiras é dada como certa.

Fontes de mercado ouvidos pela DINHEIRO apontam que a empresa deve buscar uma solução caseira, alçando ao posto algum executivo de ponta entre os quadros da multinacio­nal. Na escolha por um nome de alguém da casa, três candidatos surgem como potenciais sucessores de Brito: o catarinens­e Michel Doukeris, presidente para a América do Norte da companhia, e visto por muitos como o favorito da lista; o carioca Ricardo Tadeu de Souza, responsáve­l pelo comércio digital entre empresas, e Carlos Eduardo Lisboa, atual presidente da cervejaria na América Central e responsáve­l pela construção da marca Skol. Os três têm como origem a Ambev, controlada pela AB InBev, que tem 62% do capital da cervejaria brasileira.

Carlos Brito começou sua trajetória na companhia em 1989, na Brahma e, uma década depois, participou da criação da Ambev. Também esteve à frente, em 2004, da fusão da Ambev com a belga Interbrew, que deu origem à Inbev. Quatro anos depois, foi o responsáve­l pela entrada da companhia no mercado americano, com a compra da Anheuser-Busch, dando origem à AB Inbev. Desde então, o executivo ocupa o comando da cervejaria global.

Em 2018, foi eleito um dos 100 melhores CEOs do mundo pela Harvard Business Review. Talvez, uma das únicas ações questionáv­eis da sua gestão tenha sido a compra da sulafrican­a SAB Miller, em 2016, por US$ 109 bilhões, valor considerad­o muito alto pelo próprio investidor Jorge Paulo Lemann, um dos donos da AB InBev.

MERCADO O anúncio da mudança no comando da cervejaria mexeu com o mercado de ações da companhia. No último dia 8, um dia após a informação do Financial Times, os papéis da empresa na B3 fecharam em queda, a R$ 298,07, 3,26% inferior em relação ao pregão do dia 4 de setembro (R$ 308,10). No ano, o pior momento do papel da companhia foi no dia 18 de março, logo após o anúncio do início da quarentena, quando foi comerciali­zada a R$ 174,22. A cotação mais alta foi em 27 de agosto, quando a ação fechou a R$ 329,39.

Especialis­tas ligados ao segmento de bebidas não acreditam, no entanto, que a troca do comando da maior cervejaria do mundo causará algum impacto no mercado cervejeiro brasileiro. E que o próprio Brito teria formado pelo menos uma dezena de possíveis sucessores na companhia ao longo desses anos. A informação da mudança na gestão da AB InBev ocorre justamente em um momento de retomada do consumo global de bebidas, após o enorme impacto provocado pelo isolamento social imposto pela Covid-19. No Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Cerveja (CervBrasil), o fechamento de bares e restaurant­es, principais locais de comerciali­zação e consumo de cerveja no País – hoje são 1,1 milhão de pontos de venda –, resultou numa queda de volume entre 10% e 20% no primeiro semestre deste ano. Em abril, a queda foi de 35%, com pequena melhora no mês seguinte, quando as perdas chegaram a 25% em relação a maio de 2019. Mês a mês, o setor seguiu em recuperaçã­o, com agosto atingindo quase 100% do que foi comerciali­zado no mesmo mês do ano passado. O volume consumido em 2019 chegou a 13,7 milhões de litros.

Num mercado em que a Ambev responde por 55% da fatia – Heineken tem 21% e Grupo Petrópolis, 16%, segundo levantamen­to da CervBrasil –, a perspectiv­a é de recuperaçã­o quase que total das perdas nos primeiros meses após o início do isolamento social. “A estimativa é alcançar, em 2020, a venda de 13,5 milhões de litros, o que seria um bom resultado”, afirmou o diretor-executivo da CervBrasil, Paulo Petroni. Em julho, durante a mais recente edição da Expert XP, evento promovido pela XP Inc., Carlos Brito demonstrou otimismo em relação à possibilid­ade de retomada da economia brasileira no cenário pós-Covid. “O Brasil já passou por outras crises e sabe encontrar soluções. E sempre exportamos talentos brasileiro­s para o exterior”, afirmou o CEO da AB Inbev, considerad­o pelo mercado um desses talentos nacionais de destaque no mundo.

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Carlos Brito foi um dos responsáve­is pela criação da Ambev, em 1999, que deu origem à AB InBev
TRAJETóRIA DE SUCESSO Carlos Brito foi um dos responsáve­is pela criação da Ambev, em 1999, que deu origem à AB InBev
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