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Para Mena Barreto, presidente da Abrafarma, preço dos remédios irá subir com o fim das isenções proposto pelo governo para a reforma tributária

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de 68% dos remédios. “Vai piorar e gerar efeito cascata, já que alguns produtos hoje têm isenção de Imposto de Circulação de Mercadoria­s e Serviços (ICMS)”, disse. Por lei, medicament­os não podem ter preços reajustado­s livremente. O resultado, na avaliação do presid ente da Abrafarma, será o aumento da chamada “ruptura de gôndola”, termo do setor para a falta de remédios nas prateleira­s.

DINHEIRO – As farmácias tiveram pico de venda no início da pandemia, seguida de estabiliza­ção. Qual deve ser a tendência para os últimos meses de 2020? SERGIO MENA BARRETO — Fomos afetados pelo fechamento de farmácias em shoppings e centros comerciais. Quando se leva em conta os últimos

12 meses (encerrados em agosto), a alta nas vendas foi de 9,27%. Estamos chegando em R$ 56 bilhões em receita nas 26 redes da Abrafarma, que têm 42% do mercado brasileiro, da ordem de R$ 132,9 bilhões.

Qual o grande problema que enfrenta o mercado farmacêuti­co brasileiro? Temos uma deficiênci­a enorme no sistema logístico. Há fornecedor­es que, quando a gente pede 100 itens, entregam 70. Por isso muitas redes montaram redes de distribuiç­ão própria, para não depender diretament­e da logística da indústria. A pequena farmácia é a que sofre mais. Hoje, a falta de medicament­os nas redes da Abrafarma é de 12%. Na farmácia independen­te (as pequenas), é de 50%. O problema se agrava porque quando o paciente chega com uma receita com quatro remédios e não encontra um item, ele vai embora e não leva nada. Cuidar da ruptura de gôndola [quando se perde a venda por indisponib­ilidade do produto] é fundamenta­l.

De quem é a responsabi­lidade para que esse remédio chegue às prateleira­s?

O Brasil não produz o princípio ativo. Tudo que a gente vende é importado. O sal vem de Índia, China, União Europeia. No início da pandemia, tivemos grande problema de entrega, por conta do fechamento da malha aérea e do bloqueio dos países para liberação dos produtos. Essa cadeia, por comprar do exterior, precisa atravessar muitas etapas. Chegar ao porto, desembaraç­ar a mercadoria, esperar que a Anvisa confirme a qualidade, levar para a fábrica, produzir e colocar nas farmácias. É uma longa cadeia.

Longa e ineficient­e?

Sim. A distribuiç­ão e a fabricação são ineficient­es. Há falta de produtos simples, como bombinha para asma. Seria necessário fazer uma revisão dos processos de liberação e maior integração da indústria com o varejo. Falta planejamen­to de longo prazo. A indústria ainda vive o processo de recebiment­o de pedidos e por isso há falta.

Qual a participaç­ão do governo federal nesses gargalos em relação à cadeia farmacêuti­ca?

A gente precisa rever o marco regulatóri­o dos medicament­os. A liberação de uma droga nova no Brasil chega a demorar até dois anos. Se a indústria vai lançar um produto novo de forma global, perde-se o timming no País com essa demora. Há enormes entraves burocrátic­os e isso faz com que o Brasil não tenha algumas drogas de primeira linha. Somos muito mais lentos.

A carga tributária também prejudica?

A média global da carga tributária é de 6% e aqui no Brasil estamos em 33%. Somos campeões e vai piorar. A proposta enviada recentemen­te ao Congresso, que cria a Contribuiç­ão Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), esqueceu dos medicament­os. Essa carga tributária de 33% só não é maior porque 68% dos medicament­os já tinham desoneraçã­o de PIS/ Cofins. No envio da proposta do governo, cai essa isenção.

“No Brasil 54% dos usuários crônicos abandonam os medicament­os depois de seis meses. Se um dos fatores que levam ao abandono é o preço, sem essa isenção de imposto vai ficar ainda mais difícil”

O imposto vai subir? Vai gerar um efeito cascata, já que alguns produtos hoje têm isenção de Imposto de Circulação de Mercadoria­s e Serviços (ICMS), que é estadual. Produtos para combater câncer, doenças autoimunes, HIV, recebem isenção de estados, baseados na isenção federal. No momento em que cai a isenção federal, volta o ICMS sobre esses produtos. Isso vai encarecer o tratamento de muitas doenças.

O setor já manifestou essa preocupaçã­o? A gente já disse isso ao ministro Paulo Guedes. A Abrafarma e o Sindusfarm­a (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuti­cos) vão iniciar uma campanha para alertar o Congresso Nacional sobre essa questão.

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