Sérgio Mena Barreto
Ninguém está falando em imunidade tributária para medicamentos.
Do que se fala, então?
Poderia ser algo semelhante à cesta básica, em torno de 7%. Mas aumentar a carga, que já é alta, vai fazer com que cresça muito a falta de medicamento nas prateleiras das farmácias. Isso também afeta o fabricante, que paga os impostos e fica com o remédio parado. Por isso há ineficiência. Não tenho dúvida de que a reforma tributária vai encarecer os medicamentos e gerar falta de remédio nas farmácias.
Vai ficar mais caro produzir medicamento?
Se subir o custo da operação, pagando imposto de 12%, como proposto na CBS, e sem a isenção de parte dos medicamentos, esse preço vai subir. O fabricante vai acrescentar esse imposto no preço passado às farmácias. Vai faltar remédios e a gente vai deixar pior um sistema que já não é bom. Além disso, pode comprometer a adesão ao tratamento.
De que maneira?
No Brasil 54% dos usuários crônicos abandonam os medicamentos depois de seis meses. Se um dos fatores que levam ao abandono é o preço, sem essa isenção de imposto vai ficar ainda mais difícil. É estranho que o governo mande uma proposta dessas.
Mas o preço é definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e não pode mudar a partir do aumento do custo...
As farmácias não podem aumentar. Se eu sou dono de uma farmácia pequena, vou fazer conta para fechar a minha operação. Com menos dinheiro, serão menos produtos disponíveis nas prateleiras. E isso vai afetar justamente produtos de uso contínuo.
Desde 2017, a Anvisa regulamentou o serviço de vacinação em farmácias. Por que isso ainda não é feito em larga escala?
Temos 80 mil farmácias e 1 mil clínicas de vacinas privadas. Isso mostra por que o Brasil está perdendo a guerra das vacinas. O nível de vacinação, principalmente a infantil, está muito abaixo do que se espera, apesar da liberação da Anvisa.
O que acontece, então?
Passamos a ter outro problema, que foi em relação à indústria, que falha demais no planejamento do envio das vacinas e manda em quantidade pequena. Nunca há quantidade suficiente para envio às farmácias. É uma guerra. Hoje as farmácias poderiam vacinar muito mais. Uma vacina contra a gripe sai por R$ 160 em um grande laboratório ou hospital privado. Em uma farmácia, a mesma vacia sai por R$ 60, porque ela custa R$ 39.
Então, por qual razão a indústria farmacêutica não aumenta o repasse de vacinas às drogarias?
Além do planejamento de produção, há medo da pressão do médico. Eles não querem perder espaços nestas clínicas. Há muitas farmacêuticas multinacionais aqui. Quando chega setembro, outubro, já atingiram a cota do ano no Brasil e não parecem muito preocupadas em aumentar esse número, porque aumentaria sua cota para os anos seguintes. Há problemas grandes, em todas as pontas, na cadeia farmacêutica brasileira. Uma farmácia pequena, por exemplo, enfrenta problemas para pagar a conta com o distribuidor, que por sua vez não vende outra remessa sem a quitação anterior, o que dificulta a reposição. O que mostra que, além da logística, a questão do crédito também é um problema.
“A indústria falha demais no planejamento do envio das vacinas. Nunca há quantidade suficiente para as farmácias, que poderiam vacinar muito mais”
As farmácias vão oferecer seus espaços para aplicar a vacina contra a Covid19, quando ela chegar? Em São Paulo, há 1 mil salas que podem aplicar injetáveis, mas para vacinas são outras regras. E aí esse número cai para 120. E as autorizações são feitas pelas vigilâncias sanitárias municipais. No Distrito Federal, por exemplo, há exigência de médicos nas farmácias para aplicar vacina. Então, precisamos superar isso. Nós pedimos ao governo federal e estaduais que, caso haja campanha de vacinação em massa, de forma gratuita, as farmácias também participem. E quando estiverem disponíveis para venda, para quem não tiver coberto, as farmácias também vão querer disponibilizar.