ISTO É Dinheiro

Gilberto Tomazoni

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“As pessoas esperam isso da gente.” Além disso, a companhia pretende aumentar o monitorame­nto para garantir que toda a cadeia produtiva seja 100% livre de desmatamen­to. Atualmente, a companhia garante o rastreamen­to de 50 mil fornecedor­es diretos e, até 2025, não irá mais comprar de quem não assegurar que o fornecedor indireto também garante a preservaçã­o ambiental. O próximo passo será olhar para o Pantanal. Tomazoni afirmou, ainda, que a recente alta de alimentos está relacionad­a à valorizaçã­o do dólar e ao aumento da demanda pela China. Mas ele acredita que, a médio prazo, os preços se regulariza­rão. “Não vejo chance de desabastec­imento”, disse o CEO.

DINHEIRO – Em um cenário pós-pandemia, como a questão da preservaçã­o ambiental será encarada pela companhia? GILBERTO TOMAZONI – Temos um grande desafio, que é alimentar as pessoas, em um cenário em que teremos 10 bilhões de habitantes no mundo, em 2050. E quando a gente vê esse contexto de mudança climática, esse grande desafio fica ainda maior.

Por quê?

Não basta só alimentar. Temos de alimentar de maneira sustentáve­l. A mudança climática é um desafio enorme para a humanidade. Se nada for feito, o impacto será terrível na população. Tivemos aprendizad­os importante­s durante a pandemia. E vimos que prioridade­s da população trocaram de posições. Os consumidor­es querem que as empresas assumam seus papéis nessa transforma­ção da sociedade. Doamos, globalment­e, R$ 700 milhões, sendo R$ 400 milhões no Brasil, em ações para fazer frente à pandemia. E dentro desses recursos no País, a gente fez doações para a saúde, construímo­s hospitais, doamos ambulância­s, mais de 550 mil cestas básicas. A gente viu o quanto pode ajudar. Se a gente se envolve, consegue fazer uma transforma­ção que nem sabia que era capaz de realizar.

Mas doações são sempre paliativos, não? Agora, então, temos de gerar empregos e nos unimos a milhões de vozes que vêm alertando o mundo sobre o aqueciment­o global. É uma ação que não dá para fazer sozinho. O que vamos fazer nesta próxima década vai afetar muito o futuro das próximas gerações. Mas a questão da sustentabi­lidade na JBS não começou hoje. Temos mais de 10 anos com o compromiss­o de desmatamen­to zero.

E o que a JBS pretende fazer para garantir esse desmatamen­to zero?

No Brasil, a Amazônia é o grande desafio. Temos de garantir que toda nossa cadeia de suprimento­s não desmate. Para que isso seja uma realidade, a gente monitora 100% dos nossos fornecedor­es diretos.

São 50 mil fornecedor­es. E a gente monitora, por meio de imagens de satélite, mais de 45 milhões de hectares, o que representa uma área maior do que a Alemanha. Isso é um enorme trabalho preventivo. E temos auditoria, com 100% de compliance.

Quais efeitos práticos?

Temos 9 mil fornecedor­es bloqueados, porque estão em área de desmatamen­to, vêm de uma região de produção em área de reserva ou porque ocupam terras indígenas. Isso já está feito. Agora, lançamos um sistema baseado em blockchain que vai permitir que a gente seja mais agressivo. Com essa plataforma, estamos expandindo nosso monitorame­nto, não só com o fornecedor direto, mas também com os fornecedor­es dos nossos fornecedor­es. Tem o que cria o bezerro, o que recria e o que engorda. Mas agora vamos expandir o controle, para garantir que nossos produtos não venham de área desmatada. Isso é um grande avanço.

“Temos um grade desafio, que é alimentar as pessoas, num cenário em que teremos 10 bilhões de habitantes no mundo, em 2050”

Quando o senhor acredita que essa plataforma ficará pronta?

Até dezembro. Porém, precisamos dos dados dos fornecedor­es e do resto da cadeia, para que a gente possa monitorar. É um trabalho de convencime­nto, que leva tempo. Uma mudança cultural. A Plataforma Verde, como estamos chamando, estará em funcioname­nto até 2025, mas acredito que é possível conseguir antes. O fornecedor da JBS que, em cinco anos, não tiver passado todas as informaçõe­s, não irá mais vender para a empresa. Isso é outro grande avanço. Mas vamos além disso. Vamos ajudar na recuperaçã­o da floresta e desenvolve­r as comunidade­s que lá vivem.

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