ISTO É Dinheiro

AS CONTAS DO BRASIL EM 2021

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É preciso anotar na ponta do lápis a quantidade de compromiss­os – e dos valores – agendados para os gastos do ano que se inicia. E eles começam justamente na ponta do social, que é a pedra de toque para a sustentaçã­o também desse governo. O presidente e seus assessores se deparam com um imenso dilema: como fazer frente à avalanche de despesas dos programas assistênci­as sem estourar o bendito e vigiado teto dos gastos? Jair Bolsonaro já foi convencido e não arreda pé da ideia de que somente o “Bolsa Família”, ou seja lá qual for o nome dado a ajuda rotineira e mensal às camadas mais pobres, garante a ele alguma chance de reeleição em 2022. Disso, até o mundo mineral está careca de saber. O capitão, na sua primeira metade de mandato, tratou de destruir pontes, bagunçar a credibilid­ade em meio a um festival de sandices, mostrar, em suma, que possui aptidão zero para o cargo. Não é, nem nunca foi, um chefe da Nação na completa descrição do cargo. Ao contrário, agiu como opositor dele mesmo a cada deliberaçã­o e reação que tomou. Para atender ao programa, na dimensão que Messias almeja e precisa para caracteriz­ar seu papel de redentor da pátria, é preciso verba. Dinheiro que anda em falta. Não há recursos extras, nem de onde tirar. O presidente já emitiu uma espécie de memorando ao Congresso solicitand­o autorizaçã­o para pedir emprestado algum recurso lá fora. Deseja apelar aos papagaios, medida não apenas perigosa como sinalizado­ra de fragilidad­e financeira. Não ajuda em nada a economia um movimento como esse. A leitura dos investidor­es é clara e direta: se o País corre atrás de linhas de crédito, não vai bem. Para ficar bem com a turba, o mandatário tentou até jogar verde, mentindo mais uma vez, como é corrente e de seu feitio desde que assumiu o Planalto. Na lorota da vez, alegou que não concedeu o 13º do auxílio porque o Congresso vetou. Bravatas possuem perna curta. Logo Rodrigo Maia, que comanda a Câmara dos Deputados até fevereiro próximo, veio em resposta. Deixou claro que a deliberaçã­o foi do Executivo. Ameaçou votar de imediato a medida, caso o capitão não desmentiss­e o que disse. Corre daqui e dali, o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve de assumir de público que era decisão interna de governo. Ficou feio, mais uma vez, para o caudilho bananeiro. Bolsonaro não se emenda. Segue flertando, dia sim, outro também, com pedalagens fiscais arriscadas, que podem lhe arrancar o cargo. Está numa encruzilha­da contábil gigantesca. O orçamento, aprovado já com um déficit-monstro que supera a casa dos R$ 247 bilhões, não tem espaço para nada. Nem dará conta dos compromiss­os já agendados. Em 2021, o tamanho da encrenca econômica – incluindo as dívidas de títulos a vencer – é algo que pode ser classifica­do na categoria de indecente. Vamos esperar para ver. Carlos José Marques, diretor editorial

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