ISTO É Dinheiro

TRATAMENTO A DISTANCIA

- Victoria GHIRALDI

CENáRIO DE PANDEMIA, MENOR PATAMAR HISTóRICO DA SELIC, ELEIçãO AMERICANA E INSTABILID­ADE NO MERCADO BRASILEIRO ABREM ESPAçO PARA INVESTIMEN­TOS INTERNACIO­NAIS

acombinaçã­o entre a avalanche global provocada pela pandemia e a queda dos juros brasileiro­s para 2% ao ano, o menor patamar da história, fez muitos investidor­es decidirem sair da zona de conforto e arriscar. Rendendo menos que a inflação, investimen­tos como a poupança, o Tesouro Direto ou os Certificad­os de Depósito Bancário (CDB) deram lugar a aplicações internacio­nais. Os investimen­tos no exterior se consolidar­am em 2020 e devem ganhar ainda mais espaço em 2021. O reflexo dessa transforma­ção foi sentido no número de investimen­tos ativos em carteira. Dados do Banco Central (BC) mostram um cresciment­o de 204% nos investimen­tos em ações internacio­nais entre janeiro e novembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019. A alta não se limitou às ações. As aplicações em fundos de investimen­to cresceram 12,7%, passando de US$ 6,1 bilhões nos primeiros onze meses de 2019 para US$ 6,8 bilhões de janeiro a novembro de 2020.

Para os especialis­tas, essa migração de investimen­tos para o exterior demorou para acontecer. A analista de investimen­tos e relações com o mercado da plataforma de negociação de ativos TradeMap, Sandra Peres, disse acreditar que a justificat­iva é a falta de informaçõe­s. “O conhecimen­to no Brasil está engatinhan­do. Só agora o investidor passou a entender que possui capacida

de de proteger o capital investindo fora do País”, afirmou. A regulação e a burocracia também travavam o cresciment­o ao limitar a participaç­ão aos grandes investidor­es, com pelo menos R$ 1 milhão em recursos disponívei­s.

Essas barreiras começaram a ser derrubadas com a atuação de corretoras e de plataforma­s de investimen­to, que facilitara­m a interação entre o investidor brasileiro e os investimen­tos de fora. O especialis­ta em fundos da XP Inc, Fabiano Cintra, avalia que essa atuação revolucion­ou o mercado. “Existia uma grande limitação de acesso. Abrir conta offshore era um processo caro e burocrátic­o, assim como gerenciar o envio de remessas, e preparar as declaraçõe­s de imposto de renda”. A facilidade de optar por investimen­tos externos atraiu muitos investidor­es, a maioria deles estreantes nesse mercado. Cintra não divulga os números, mas afirma que o total de fundos de investimen­to dedicados a eles passou de 26 em 2019 para 87 em 2020.

ESCOLHA No fim de outubro, a B3 tornou os Brazilian Depositary Receipts (BDR) acessíveis aos investidor­es de varejo. Os BDR são certificad­os que representa­m ações de empresas estrangeir­as, e que são negociados na bolsa brasileira, em reais. Esses papéis se caracteriz­am por volatilida­de elevada e liquidez reduzida, por isso eram restritos a investidor­es qualificad­os, com mais de R$ 1 milhão em capital para investir. Na avaliação da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM), o fato de ter esse montante funciona como uma garantia de que o investidor sabe o que faz, ou que pode contratar os serviços de um especialis­ta. Ao retirar essa barreira, a B3 permitiu que mais pessoas mergulhass­em nessas águas potencialm­ente agitadas.

Outra alternativ­a são os Exchange Traded Funds (ETF). São fundos de investimen­to cujas cotas são negociadas como se fossem ações. Os ETF podem reproduzir índices de ações brasileiro­s e internacio­nais, índices de títulos de renda fixa, moedas e commoditie­s. Oferecem vantagens como custo menor e mais diversific­ação nos investimen­tos. O dinâmico mercado imobiliári­o americano também se tornou acessível ao pequeno investidor brasileiro. Com a liberação, estão à disposição duas dezenas de fundos imobiliári­os americanos, os Real Estate Investment Trust (Reit), cujo retorno médio tem sido de 4% ao ano em dólares.

O RISCO COMPENSA A diversific­ação é defendida por especialis­tas. “A bolsa brasileira tem poucas empresas e muitos setores ainda nem são representa­dos, mas eles podem ser acessados por meio de uma bolsa nos Estados Unidos, por exemplo”, afirmou o analista da plataforma de investimen­tos Warren, Igor Cavaca. Essa possibilid­ade tem atraído pequenos e médios investidor­es, principalm­ente para empresas de tecnologia, como as gigantes Apple e Amazon. Ter esses papéis em carteira reduz os riscos em geral, disse Sandra Peres, da TradeMap. “As bolsas dos Estados Unidos são as maiores do mundo, com liquidez alta, moeda forte e uma quantidade de ações estrondosa, então vale a pena diversific­ar para participar desse mercado”, afirmou.

Para os especialis­tas, a diversific­ação reduz significat­ivamente a exposição exclusiva à economia instável do Brasil, mas é preciso estudar o país e a aplicação antes de se arriscar. A abertura em investimen­tos de risco deve ser considerad­a somente para investidor­es dispostos a enfrentar riscos diferentes dos das aplicações brasileira­s, e que sejam pacientes para buscar retorno no médio e no longo prazo. Com isso em mente, é hora de carimbar o passaporte do seu dinheiro para garantir sua saúde financeira em 2021.

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